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Por — São Paulo


Depois de a Ambipar anunciar um mega programa de recompra de ações, equivalente a 37% do free float, e antecipar a meta de redução de alavancagem financeira, a companhia terá ainda que reconquistar a confiança dos investidores em sua gestão de negócios.

A expansão acelerada com aquisições seguida de margens pressionadas e consumo de caixa levantou dúvida sobre o fôlego para crescer sem comprar e sobre a capacidade de gerir o endividamento. Agora, os investidores querem ver a promessa virar fato para, então, retomar o otimismo com o papel, disseram gestores ao Pipeline.

A ação até que reagiu bem ao anúncio das medidas, feito na segunda-feira. Na mesmo dia, subiu 17,22% (na semana até quinta, acumula alta de 16,48%), reduzindo para 42,15% a desvalorização no ano. Mas o impulso veio mais da recompra - uma janela para sair do papel - do que pela fé na desalavancagem. O volume shorteado do papel chegou a 16,5 milhões de ações antes do anúncio e agora está em 15,42 milhões de ações.

Ambipar: novo foco da companhia é reduzir alavancagem financeira — Foto: Reprodução
Ambipar: novo foco da companhia é reduzir alavancagem financeira — Foto: Reprodução

O crescimento da Ambipar até o momento foi ancorado em quase 70 aquisições, que fizeram a receita líquida saltar de R$ 700 milhões na época do IPO, em 2020, para R$ 4,9 bilhões em 2023. Mas o forte crescimento também foi acompanhado por um aumento da dívida e da alavancagem financeira, que encerrou o primeiro trimestre em 3,1 vezes, com um endividamento batendo em R$ 8 bilhões, aumento de 15% frente ao mesmo período do ano passado.

Com um custo alto com juros e uma alavancagem acima do limite estabelecido nas emissões de debêntures (os covenants são de 3 vezes), a empresa resolveu recomprar esses papéis pagando um prêmio pela aquisição antecipada, cujos encargos somaram R$ 51 milhões - o que impactou o resultado do primeiro trimestre, que foi negativo em R$ 202 milhões.

A companhia pré-pagou R$ 2,8 bilhões em dívida no primeiro trimestre e fez uma emissão de US$ 750 milhões de um green bond com vencimento em 2031 a um custo de 9,875% em dólar - que, com o hedge cambial, ficou em CDI mais 1,68%, aumentando o prazo médio do seu passivo para 5,7 anos. “A empresa chegou a conversar com os debenturistas sobre uma flexibilização do covenant das debêntures, mas resolveu recomprar esses papéis e pagou um prêmio alto por isso, além de ter de reconhecer toda a dívida de uma vez no balanço”, disse um gestor.

Fez também uma nova emissão de debêntures no mercado local, de R$ 1 bilhão, a CDI mais 2,75% - custo mais baixo do que os papéis recomprados e com limite de alavancagem próximo ao do bond de 3,75 vezes. Mas boa parte ficou na mão dos bancos emissores e não foi distribuída ao mercado. “Não entramos nessa emissão porque essa taxa está muito baixa para o risco de crédito do papel, que chegou a ser negociado a uma taxa de DI mais 4,5% a 5,5% no começo do ano”, afirmou o gestor.

Em maio, a companhia se comprometeu a reduzir a alavancagem para 2,5 vezes o Ebitda até 2026. Na última segunda-feira, no entanto, disse que vai entregar essa meta em 12 meses. A empresa espera aumentar a margem Ebitda em três pontos percentuais nos próximos 12 meses, de 30% para 33%. O discurso da companhia é que o foco daqui por diante é desalavancar o balanço através da melhora da eficiência tributária com a reorganização societária, uso de benefícios fiscais da ordem de R$ 600 milhões e de operações de venda para posterior locação (sale and leaseback) da frota.

Investidores até veem gordura para queimar. “A empresa fez muitas aquisições, chegou a ter 140 CNPJs, tem muita eficiência tributária para capturar”, afirma Daniel Delabio, gestor da Exploritas. Por outro lado, alguns investidores veem pouco impacto da operação de sale and leaseback da frota para redução da alavancagem, já que as operações de leasing devem aumentar a dívida, embora tragam receita adicional.

Apesar de ter recursos em caixa, soma de R$ 3,4 bilhões no fim do primeiro trimestre, para pagar os vencimentos de dívidas no curto prazo, que são de R$ 468 milhões, o grande desafio da empresa é voltar a ter geração de caixa positiva. A companhia espera que isso aconteça no quarto trimestre. No primeiro trimestre, a companhia teve uma queima de caixa de R$ 435 milhões, impactada pelos custos de refinanciamento da dívida.

Para Delabio, que está na ponta mais otimista, mesmo com as dúvidas sobre a performance da empresa o papel está muito barato, negociando a um múltiplo de 4 vezes o valor de mercado/Ebitda, abaixo da média dos pares internacionais, de 15,6 vezes. “O fato do controlador ter colocado dinheiro no follow-on e da companhia estar recomprando as ações mostra a confiança dele na empresa. Devemos ver o resultados dessas mudanças a partir do terceiro trimestre”, avalia.

A ação da Ambipar, que hoje vale R$ 9,40, chegou a negociar a R$ 70 em 2021, quando a companhia era uma das queridinhas do mercado - e passou à Geni do Twitter nesse meio tempo. Entre os analistas, a visão é mais ponderada. O BTG Pactual mantém a recomendação de compra, mas não alterou o preço-alvo mesmo com estimativas mais altas para a margem Ebitda. Já o Itaú BBA, que reduziu o papel de compra para neutro em abril, manteve a recomendação de market perform após os anúncios da empresa, diante de um ambiente macroeconômico menos favorável e a visão de que há outras empresas do setor com valuations mais atraentes.

Procurada, a Ambipar não comentou.

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