A transmissão dos resultados da Loteria Esportiva era uma das marcas registradas dos primeiros anos do ‘Fantástico’. Os dados eram apresentados pela Zebrinha, um boneco criado por Borjalo que mexia a boca e piscava os olhos, enquanto a dubladora Maralisi lia os resultados dos jogos do fim de semana.

Borjalo conta, em entrevista ao Memória Globo, que a ideia do personagem surgiu a partir de uma história do técnico de futebol Gentil Cardoso. Quando um time pequeno ganhava de maneira inesperada, ele dizia: “Deu zebra”, uma referência ao jogo do bicho, que não inclui a zebra.

“A zebrinha, aquela loteria esportiva, passou a ser uma coqueluche. Em uma daquelas reuniões na sala do Boni, ele falou: ‘Pô, precisamos criar um símbolo’. E tinha o negócio do Gentil Cardoso, aquele técnico de futebol, que, quando um time pequeno ganhava, dizia: ‘Deu zebra’, porque não tem zebra no jogo do bicho. Então, não sei quem, não foi propriamente minha a ideia, falou: ‘A zebra! A zebrinha!’. O desenho, sim, foi criação minha. Eu tenho até um tape dela, que eu guardo, com saudade.”

O quadro da Zebrinha também chamava a atenção para as previsões feitas por Oswald de Souza. De 1974 até 1992, o matemático projetou o número de ganhadores da Loteria Federal. E, em todos esses anos, sua média de acerto foi de 90%.

‘Gols do Fantástico’

Outra marca do programa é o quadro ‘Gols do Fantástico’, criado nos anos 1970, que mostrava os gols marcados nas partidas de futebol realizadas no fim de semana. Ia ao ar no fechamento do dominical. Teve apresentação de Léo Batista e, durante algum tempo, de Fernando Vanucci. O jornalista esportivo Ciro José, um dos criadores do quadro, contou ao Memória Globo os seus desafios iniciais: “Os ‘Gols do Fantástico’ foi criado junto com o programa. [...] Realmente era uma coisa de louco, sair correndo por aqueles corredores com fita na mão. Você nem rebobinava, saía com as duas, saía correndo para deixar no ponto. O cara terminava de chamar o lance, era o tempo de você apertar o play para ver o que dava. Geralmente dava certo, felizmente”.

Entre 1974 e 1979, o ‘Gols do Fantástico’ era editado pelo jornalista Edson Ribeiro. Ele conta que fazia tudo sozinho enquanto o programa ainda estava no ar. Como os jogos terminavam por volta das cinco da tarde, e o quadro era exibido às dez, ele ia editando à medida que as imagens eram geradas pelas praças. Em uma noite normal, o jornalista editava 30 gols, mas houve domingos em que chegou a editar 50. Edson Ribeiro acredita ter sido o pioneiro na exibição em slow motion de um lance. Em 1975, o juiz de uma partida anulou um gol dizendo que a bola não havia entrado. Edson Ribeiro preparou uma edição que repetia o lance várias vezes, mostrando que havia sido gol e que o juiz estava errado.

“A gente não botava nunca o slow motion na primeira vez, porque não era certo. Primeiro, botava o lance normal, depois botava o slow motion. Então, puxei a bola: ‘agora vamos, passo a passo, take a take, pra gente ver se foi gol ou não foi’. E fomos levando, levando, levando. ‘Agora reparem’. Quando chegou na baliza, eu comecei a puxar pra frente e pra trás, e a bola passou por dentro. ‘Você vê, olha: o juiz errou. Foi gol’. VT quadruplex”, recorda Edson Ribeiro.

Ao Memória Globo, Léo Batista conta o desafio de fazer o quadro em uma época em que a narração não tinha pré-script: “Naquele tempo dava gols de times do Piauí, de Sergipe, do Rio Grande do Sul, de Minas, do interior. Eram 70, 80 gols no mínimo, e gols do exterior. Aquilo tudo era montado num fitão, numa fita Ampex. Naquele tempo era um rolo enorme. E o script não era pré-gravado. Escreviam, editavam, mandavam para mim. Eu ia olhando, narrando”.

A partir da década de 1980, os ‘Gols do Fantástico’ passaram a ser editados pela Divisão de Esportes da Globo. Nos anos seguintes, o quadro passaria por mudanças. A partir de 06 de agosto de 2000, ganhou o título de ‘É Gol’, com exibição de pílulas ao longo do programa. Nos dias 17 e 24 de fevereiro de 2002, chamou-se ‘Fantástico Futebol Clube’. Voltou a se chamar ‘É Gol’ em 03 de março de 2002, mas ganhou novo nome – ‘Resenha de Gols’ – em 08 de maio de 2005. Voltou a se chamar ‘É Gol’ em 15 de janeiro de 2006 e, em 13 de maio de 2007, o quadro passou a ser apresentado por Tadeu Schmidt, substituindo Léo Batista. A atração seguiu com o mesmo nome até setembro de 2007. Depois, os gols da rodada eram exibidos ao longo do programa.

‘Bola Cheia, Bola Murcha’

Tadeu Schmidt levou para o 'Fantástico’ seu estilo bem-humorado de cobrir a rodada do futebol, como já vinha fazendo no ‘Bom Dia Brasil’. A proposta de Tadeu era ir além da narração dos gols, pinçando curiosidades das partidas e detalhando mais as jogadas, com destaque para lances inusitados.

Tadeu também ajudou a criar o quadro ‘Bola Cheia, Bola Murcha’, que estreou em 18 de novembro de 2007, incrementou ainda mais a cobertura esportiva do ‘Fantástico’ e virou mania nacional. O quadro, exibido até maio de 2016, recebia vídeos amadores de todo o Brasil com lances de peladas de futebol. As melhores e as piores jogadas eram avaliadas, e os “jogadores” ganhavam o prêmio de “Bola Cheia” ou “Bola Murcha”.

“O ‘Fantástico’ criou o ‘Você no Fantástico’ e eu: ‘Poxa, já pensou as pessoas mandando as próprias imagens delas fazendo gol?’ Pra começar, todo mundo acha que joga muito, todo mundo acha que faria aquele gol que o profissional não fez, e ninguém faz nada. É todo mundo perna de pau, e todo mundo acha que joga muito. Todo mundo gosta de mostrar o que fez, e eu acho que é muito interessante, porque é a oportunidade das pessoas mostrarem. Imagina, você fez um gol numa pelada, e a gente vai mostrar, porque é legal! Imagina, você que fez gol na pelada, e o seu gol vai ser visto no Brasil inteiro! Ou aquele lance engraçado, todo mundo vai dar risada dele no Brasil inteiro. Então, surgiu assim”, lembra Tadeu.

‘Cavalinhos do Fantástico’

Dando continuidade ao espaço que os gols da rodada sempre tiveram no programa e garantido a dose de humor ao tema, marca registrada de Tadeu Schmidt, o jornalista lançou, em 29 de junho de 2008, a ideia de usar cavalinhos para mostrar o ranking do futebol. Era a semente de mais um quadro, o ‘Cavalinhos do Fantástico’. A atração surgiu durante o Campeonato Brasileiro de Futebol de 2008. Com o passar do tempo, os cavalinhos começaram a interagir com o apresentador e viraram, inclusive, fantoches.

"A partir de então, a gente sempre colocava os cavalinhos para mostrar quem estava na frente e quem não estava. E aí a gente passou a ter mais munição para fazer mil brincadeiras. Foi aí que a gente começou a botar o cavalinho que estava na zona de rebaixamento na lama, aí ele caía. Quando acontecia alguma coisa interessante no jogo, vinha uma pessoa cavalgando no cavalinho. Começamos a fazer mil coisas com os cavalinhos. Eram divertidíssimos”, destaca Tadeu.

Quem faz três gols pede música no ‘Fantástico’

Em 17 de fevereiro de 2008, Tadeu Schmidt colocou em prática mais uma ideia, o lançamento do quadro ‘Artilheiro Musical’: “Quando alguém fizer três gols, em vez de mostrar, de descrever cada gol, isso é o que a gente faz com todos, vamos fazer diferente. Quem fizer três gols, a gente pede para pessoa escolher uma música para ser a trilha sonora daqueles gols. Da primeira vez, a gente tinha que explicar para pessoa. [...] Na segunda vez, a gente fez a mesma coisa. A partir da terceira, quarta vez, o cara fazia o gol, já puxava o microfone na comemoração, saía naquela loucura. E isso virou o maior meme do ‘Fantástico’. [...] Se alguém faz três coisas quaisquer, no momento seguinte, tem o meme do Tadeu: ‘Olha, fulano de tal caiu três vezes, pedir música no ‘Fantástico’’. Aí virou um meme para tudo”.

Milésimo Gol do Pelé

Um dos destaques nos anos 1990 foi a comemoração dos trinta anos do milésimo gol de Pelé, feito na cobrança de um pênalti no jogo entre Santos e Vasco, em 19 de novembro de 1969, no Maracanã. O programa, além de apresentar três reportagens sobre a vida do jogador, exibiu uma produção especial no dia 14 de novembro de 1999. O ‘Fantástico’ desafiou Pelé e o goleiro Andrada para se reencontrarem no mesmo estádio para uma revanche. A ideia foi de Eduardo Salgueiro, então coordenador de produção do programa.

“Estava fazendo 30 anos do milésimo gol, um marco no futebol, uma coisa emblemática. [...] Nessa época, tinha um cineasta em São Paulo, Aníbal Massaini, que estava fazendo um filme sobre o Pelé. Ele tinha coletado muito material de acervo, que ele estava digitalizando. Tinha muito material interessante e algumas coisas inéditas vinculadas a gols anteriores ao milésimo gol. Eu ‘vendi’ essa série para o Luizinho [Nascimento], e o Luizinho comprou. [...] A cereja do bolo é levar o Pelé no Maracanã, e ele bater um pênalti com o Andrada. É difícil, convenhamos que não é muito fácil produzir isso. Aí eu fui a campo, fiz toda a reportagem, as várias etapas, entrevistei todos os jogadores, reuni todo mundo do Santos, fiz uma interface correta através desse cineasta que tinha uma relação muito próxima ao Pelé, e ele conseguiu me ajudar a convencer o Pelé a vir ao Maracanã. Aí procurei o Andrada, que topou na hora, porque para ele era uma honra. [...] E esse foi um trabalho que eu considero muito legal, muito diferente, muito autoral, com resultado muito bacana. Afinal de contas, o Pelé bateu, fez o gol, foi aquela festa”, conta o produtor em depoimento ao Memória Globo.

Copas e Olimpíadas

Os anos 2010 contaram com grandes acontecimentos esportivos. A Copa da África do Sul (2010) foi ancorada por Tadeu Schmidt, e a Copa do Mundo do Brasil (2014), que foi a maior cobertura esportiva na história da Globo até então, também teve crônicas e matérias no programa apresentado por Tadeu e Renata Vasconcellos.

Durante a Olimpíada do Rio, em 2016, Poliana Abritta e Tadeu Schmidt apresentaram o ‘Fantástico’ direto do estúdio conjunto da Globo e dos canais SporTV – uma edificação de 500 m² – que virou ponto de referência durante os Jogos. Com esse projeto do estúdio no Parque Olímpico, a Globo ganhou a 13ª edição do Prêmio Arquitetura Corporativa, na categoria Equipamento Urbano. Medalhistas de ouro puderam pedir música no quadro ‘Artilheiro Musical’. Poliana ainda participou do revezamento da Tocha Olímpica em Brasília, sua cidade natal, no dia 3 de maio de 2016.

Na Copa de 2018, pela primeira vez desde 2002, os apresentadores da Globo não ancoraram os telejornais de rede do hotel onde os jogadores da seleção estavam concentrados, mas de um estúdio panorâmico localizado na Praça Vermelha, ao lado do Kremlin, no coração de Moscou. Tadeu Schmidt apresentou o ‘Fantástico’ de lá. “Na Copa do Mundo, nós somos o que os Estados Unidos são na Olimpíada, nós somos o centro da atenção. [...] Nós continuamos sendo o país do futebol, as pessoas olham para gente de uma maneira diferente. Participar de uma cobertura dessa forma é muito mais legal, fora que tem sempre aquela coisa de torcer pela nossa Seleção”, afirmou Tadeu Schmidt em depoimento ao Memória Globo.

O ‘Fantástico’ lançou o bolão da Copa, com famosos; elegeu o jogador mais gato dos jogos da Rússia – o vencedor, entre mais de 700 homens, foi o espanhol Gerard Piqué, e o brasileiro Alisson ficou em segundo lugar – ; e fez uma edição especial do ‘Tá de Brincadeira’.

“A cobertura da Copa da Rússia foi uma coisa inédita. Parte da equipe ficou à distância. Uma equipe muito reduzida foi para a Rússia. Ainda tinha estúdio na Rússia, em Moscou, mas, depois, isso deixou de existir. Na Olimpíada do Japão e na Copa do Qatar, não tinha mais estúdio no local. [...] O Tadeu foi para a Rússia, ficava no estúdio lá", lembra Bruno Bernardes, diretor do ‘Fantástico’.

Saiba mais sobre a cobertura da Copa do Mundo de 2018 na Globo.

Denúncia de assédio sexual na ginástica

Em abril de 2018, foi ao ar reportagem com denúncia de assédio sexual na ginástica. Em 2016, o técnico da seleção brasileira de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes, foi afastado da delegação para os Jogos Olímpicos do Rio, acusado de abuso sexual. Durante quatro meses, o ‘Fantástico’ investigou as denúncias e entrevistou mais de 80 pessoas. Com reportagem de Joanna de Assis, produção de Mauricio Oliveira e João Gabriel Rodrigues, a matéria foi ao ar em 29 de abril de 2018.

“Joana de Assis fez essa investigação. Conseguiu falar com mais de 40 vítimas, e a gente fez essa reportagem que repercutiu muito na época. Depois a gente fez outra reportagem com novas vítimas desse treinador”, lembra Bruno Bernardes.

Escândalo no esporte

Em maio de 2023, o ‘Fantástico’ mostrou a investigação completa do escândalo de manipulação em apostas de jogos no futebol brasileiro. Um grupo criminoso aliciava jogadores e combinava lances em campo para beneficiar um grupo de apostadores. A reportagem de Maurício Ferraz e Evandro Siqueira mostrou áudios e vídeos da Operação Penalidade Máxima, comandada pelo Ministério Público de Goiás, sobre a manipulação de apostas em jogos no Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022 e também em alguns jogos de estaduais de 2023.

Com a saída de Tadeu Schmidt do ‘Fantástico’ para a apresentação do ‘Big Brother Brasil’, foi anunciada a estreia de Alex Escobar no comando do bloco de esporte do dominical, a partir de novembro de 2021. Escobar passou a ser a companhia de Maju Coutinho e de Poliana Abritta, a nova dupla de apresentadoras do ‘Fantástico’, e se juntou também aos cavalinhos para informar os gols de cada rodada do Campeonato Brasileiro.