Por Memória Globo

Acervo/Globo

CENAS MARCANTES

Lu Grimaldi em Terra Nostra, 1999. — Foto: R. Marques/Globo.

Um dos momentos marcantes da primeira fase da novela é a cena em que tripulantes do navio Andrea I, que transporta os italianos rumo ao Brasil, quase jogam ao mar um bebê, filho dos italianos Leonora (Lu Grimaldi) e Bartolo (Antonio Calloni), na crença de que a criança está morta, vítima da peste que se alastra na embarcação. Mas a criança chora quando é arrancada dos braços da mãe.

A cena foi baseada numa história real, relatada em carta enviada ao autor Benedito Ruy Barbosa. Na carta, uma senhora idosa, que havia ficado comovida com a novela Os Imigrantes, contava que há muitos anos um navio italiano trazia imigrantes para o Brasil quando uma epidemia de peste foi detectada a bordo.

Para impedir a proliferação da doença, a tripulação jogava os mortos ao mar. Os pais de uma menina com poucos meses de vida haviam lutado até o último minuto para que sua filha, dada como morta pelos tripulantes, não tivesse o mesmo fim.

Quando os marinheiros já haviam tomado o bebê, à força, das mãos da mãe, a criança começou a chorar e foi poupada. A autora encerrava a carta dizendo que era ela própria a menina sobrevivente, e que um dia a história poderia ser usada pelo escritor.

Entre muitas outras cenas memoráveis de Terra Nostra, foi muito comentada, na época, a sequência em que os personagens Paola (Maria Fernanda Cândido) e Francesco (Raul Cortez) tomam banho juntos em uma banheira.





Gravação no navio dos primeiros capítulos da novela Terra nostra. Fernando Cavalcanti/Globo
Gravação no navio dos primeiros capítulos da novela Terra nostra, 1999. Fernando Cavalcanti/Globo.

PRODUÇÃO

Uma das maiores dificuldades na produção da novela foi conseguir a embarcação na qual se passariam os primeiros capítulos. A equipe encontrou o navio ideal no sul da Inglaterra: o S.S. Shieldhall, um vapor construído em 1940, adaptado para se transformar no Andrea I da história. As cenas do embarque e da travessia foram realizadas na cidade portuária de Southampton, no sul da Inglaterra – de onde zarpou o Titanic, em 1912 –, com a participação de cerca de 50 profissionais, entre pessoal da técnica, da produção e do elenco, e cerca de 300 figurantes, incluindo ingleses, gregos e italianos. O navio partia às 11h, navegava pelo Canal da Mancha e, dez horas depois, retornava ao porto. O desembarque em terras brasileiras foi gravado no porto de Santos, em São Paulo.

CENOGRAFIA E PRODUÇÃO DE ARTE

A equipe de cenografia de Terra Nostra começou a criar os cenários da novela seis meses antes de sua estreia. A cidade cenográfica construída no Projac reproduzia um trecho da Avenida Paulista do início do século XX.

Na cidade de Pinhal, no interior de São Paulo, foram gravadas as tomadas das plantações de café mostradas na história. O local era um dos poucos no país em que esse tipo de plantio ainda era desenvolvido manualmente. Já as fazendas seculares que aparecem na trama ficavam em Santa Rita de Jacutinga, em Minas Gerais. A fazenda Santa Clara, locação das cenas do coronel Gumercindo (Antonio Fagundes), foi fundada em 1760, e era a única do Brasil a manter intactos instrumentos de tortura usados na época da escravidão. Uma sala com esses aparelhos – chamada de “sala de castigo” ou “cadeia” – foi adaptada para servir como camarim da equipe da TV Globo, comportando quase 50 pessoas.

Gésio Amadeu e Fernanda Muniz durante gravação de Terra Nostra, 1999. — Foto: Jorge Baumann/Globo.

Três equipes de pesquisadores realizaram extensa pesquisa de texto, arte e imagens para ajudar na reconstituição de época da novela. A pesquisa de texto realizada na fase inicial foi feita, principalmente, nos arquivos do jornal O Estado de S. Paulo, fundado em 1875. A pesquisa de imagens foi realizada por três profissionais coordenados por Madalena Prado de Mendonça. Imagens e filmes produzidos no período do surgimento do cinema foram usados para ilustrar algumas cenas. Um dos filmes, feito por Thomas Edison, mostra imagens dos italianos chegando aos portos dos Estados Unidos e sendo recebidos com má vontade e irritação pelos guardas. Entre as instituições consultadas estão a Cinemateca de Roma, na Itália; a Associação Lumière, em Paris; a Biblioteca do Congresso Norte-Americano, em Washington; a British Pathé, em Londres; e a Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Diversos objetos da época em que se passa a trama foram reproduzidos para ambientar os cenários, como móveis, instrumentos musicais, jornais e documentos. As comidas servidas em cena também espelhavam o período da história. A pesquisa, coordenada pela equipe de direção de arte da novela, foi realizada em locais como o Museu da Imigração, em São Paulo; a Biblioteca Nacional; o Arquivo Nacional; o Centro Cultural Banco do Brasil; o Banco Central; a Agência Central dos Correios; o Museu do Trem; e o Museu do Telefone, entre outros. Boa parte da mobília foi comprada em antiquários no Rio de Janeiro, em São Paulo e no sul do país.

FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO

Antonio Fagundes em Terra Nostra, 1999. — Foto: GloboJorge Baumann/Globo.

As imagens históricas pesquisadas para a novela foram fundamentais na concepção e confecção dos figurinos. Foram confeccionadas quatro mil peças para os primeiros capítulos, e quase cinco mil figurinos foram utilizados durante a novela inteira. Roupas, sapatos e chapéus usados pelos personagens que interpretavam trabalhadores e camponeses passaram por um processo de envelhecimento para adquirem a aparência de usados.

Thiago Lacerda em Terra Nostra, 1999. — Foto: GloboJorge Baumann/Globo.

Antonio Fagundes revelou que perdeu muitos fios de cabelo durante o período em que viveu o coronel Gumercindo. Nem tanto pela personalidade forte e controversa do personagem, mas pela rotina que seguia graças ao trabalho de composição visual a que se submeteu para o papel. O ator usava cavanhaque e cabelos pretos em cena. Por sugestão da produção, seus cabelos eram pintados diariamente, fio a fio, com rímel preto à prova d’água. O processo levava, em média, uma hora e meia para ser concluído. Seria um sacrifício menor se, como anteriormente previsto, Gumercindo ficasse na trama apenas até o capítulo 40. Mas ajustes na estrutura narrativa fizeram com que o personagem permanecesse na história por 220 capítulos. Como na época estava em cartaz em São Paulo com uma peça de teatro, o ator era forçado a gastar cerca de quatro horas, todos os dias, lavando a cabeça com sabão de coco até retirar todo o rímel preto e, em seguida, pintar o cabelo novamente, dessa vez de branco, já que seu personagem nos palcos era um senhor de 85 anos.

Ana Paula Arósio em Terra Nostra, 1999. — Foto: R. Marques/Globo.

Os lenços estilo camponesa usados por Giuliana (Ana Paula Arósio) viraram moda fora das telas. O mesmo aconteceu com os bonés de Matteo (Thiago Lacerda).

ABERTURA

A abertura de 'Terra Nostra' foi feita com imagens em preto e branco da partida dos italianos para o Brasil, gravadas no porto de Southampton, na fase inicial da novela.

Cenas das famílias se despedindo se alternavam com imagens da travessia do Atlântico e closes dos rostos de Ana Paula Arósio e Thiago Lacerda. As imagens em preto e branco contrastavam com o verde dos olhos dos atores. A cor também surge no final da vinheta, nas imagens das plantações de café.

PRÊMIOS

A Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) deu a Terra Nostra o prêmio Musa de Ouro da Promax Latin America pela sua campanha de lançamento. Além disso, a novela foi eleita o melhor programa de 1999.

Débora Duarte ganhou o prêmio de melhor atriz, também pela APCA, por sua atuação na novela. 

DIVULGAÇÃO

Dias antes da estreia de Terra Nostra, trechos da abertura da novela foram ao ar em teasers – anúncios criados para gerar expectativa em torno de um produto a ser lançado – que mostravam cartas escritas por imigrantes reais.

FOTOGRAFIA

Um dos destaques de Terra Nostra foi sua fotografia, a cargo de Adriano Valentim e Chico Boya.

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