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O desafio da teledramaturgia em tempos de 'binge-watching'

Patrícia Kogut

Robin Wright em 'House of cards' (Foto: Divulgação)Robin Wright em 'House of cards' (Foto: Divulgação)

 

Numa entrevista que fiz com Gilberto Braga quando “Babilônia” estava para ser lançada (em 2015), ele comentou as encruzilhadas da teledramaturgia. Era o auge da comparação com as séries americanas. Gilberto lembrou que houve um tempo em que as novelas não concorriam sequer com o telefone (quem ligaria no meio de um capítulo?). Nessa época em que elas reinavam absolutas, os enredos tinham outro ritmo. Cenas longas, algumas delas até supérfluas, eram amplamente aceitáveis. De alguns anos para cá, tudo isso mudou. Enredos policiais passaram a ser bem-vindos para atrair o público que não se contenta mais com o puro melodrama. A grande tarefa dos autores é a retenção. E ela exige cada vez mais esforço.

Lembrei dessa conversa ao conferir um artigo de Marc Bernardin no “The Hollywood Reporter” (“How binge-watching has changed TV writing”, para quem quiser ler em inglês). Escritor e jornalista especializado em televisão e cinema, ele diz que o binge-watching (o hábito de assistir à programação sem parar, um episódio atrás do outro) não é novidade. Para ilustrar a afirmação, cita o lançamento da primeira temporada de “Arquivo X” em DVD, em 2000. As pessoas devoravam do primeiro ao último capítulo. Tem razão. O grande salto, lembra ele, veio em 2013, quando a Netflix ofereceu “House of Cards” de uma só vez. Com tudo isso, conclui Bernardin, o maior desafio é segurar o público. Os ganchos já não servem a fechar um episódio. Eles são imprescindíveis ao fim de cada bloco, ou o espectador escapole no meio.

No caso das novelas, essa tensão se agrava com a longa duração dos capítulos. As tramas das 21h são as mais extensas. João Emanuel Carneiro vem conseguindo pular essa fogueira com “Segundo Sol”.

 

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