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'Bloodline', 'Game of Thrones' e a identidade das séries

Patrícia Kogut

Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) (Foto: HBO)Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) (Foto: HBO)

 

A segunda temporada de “Bloodline” terminou deixando no ar a impressão de que uma continuação era uma certeza. Não era. A trama é ambientada na Flórida, região dona do epíteto de sunshine state (onde o sol brilha). E o estado retirou os incentivos fiscais que atraíam os produtores de televisão e de cinema. Tal iniciativa nublou o futuro do programa da Netflix por um tempo. Até que, anteontem, finalmente, anunciaram que as gravações recomeçarão a tempo de ele voltar ano que vem. Sem a locação, “Bloodline” não poderia mesmo seguir. Sua história tem uma raiz regional, o cheiro da maresia do Golfo do México, um sotaque do lugar.

A ambientação, aliás, é algo levado muito a sério pelos criadores das séries. Ela muitas vezes as define. “The killing” era invadida pela chuva insistente de Seattle; a graça de “The fall” é Belfast e sua polícia sofrida; “The americans” tinha que ser em Washington D.C. Por aí vai.

Digo isso pretextando chegar a “Game of Thrones”. Assistir a uma produção com atraso obriga a arrumar desculpas para falar dela (estou acabando a terceira temporada). Seu enredo se passa num lugar fictício, mas as gravações aconteceram na Croácia, na Itália, na Escócia, na Irlanda do Norte, em Malta, no Marrocos e na Islândia. Quem passear por Dubrovnik vai reconhecer King’s Landing, a capital dos Sete Reinos. O investimento em tantos cenários impressiona. Mas impressiona mais ainda o fato de a HBO ter convidado um linguista para inventar o dothraki e o valiriano, idiomas falados pelos atores — além do inglês.

O gênio que fez isso é David J. Peterson, da Universidade da Califórnia. Para o dothraki, ele imaginou 3.700 palavras. Para o valiriano, cerca de 700. Animado com seu feito, Peterson foi além: criou o alto valiriano, usado por Daenerys Targaryen (Emilia Clarke). E o baixo valiriano, língua dos escravos na terceira temporada. Numa entrevista que deu à www.revistalingua.com.br, ele contou que “gramaticalmente, o dothraki é parecido com o havaiano ou o árabe. Existem similaridades com línguas indo-europeias, como o português e o inglês”. Há até palavrões.

Quem duvida de que a língua é um país, uma nacionalidade e, sobretudo, a mais profunda conexão com a emoção verdadeira? Só esse incrível trabalho do linguista já faria de “Game of Thrones” um programa imperdível. Mas há muitas outras razões para não perder a série.

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