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Como sobrevivem os que não assistem a ‘Game of thrones’

Patrícia Kogut

Damian Lewis (Foto: Divulgação)Damian Lewis (Foto: Divulgação)

Todo domingo é a mesma coisa. À medida em que a noite cai, a conversa do meu grupo de amigos no WhatsApp vai se tornando monotemática. Só se fala de “Game of Thrones”. Anteontem, começou cedo com a pergunta: “Animados para a batalha mais tarde?”. E a resposta: “Só penso nisso”. Durante o programa, o diálogo seguiu animado: “Ah, com esse gigante fica fácil!”; “Meu Deus, que batalha maravilhosa, quase infartei. Melhor episódio de todos os tempos. Tomara que Sansa não se case com Mindinho agora”. Na internet, era igual. O pessoal do “Sensacionalista” subiu um meme com a legenda: “Especialista prevê que quem não viu ‘GOT’ hoje ficará sem assunto por três anos”. Será?

Mesmo sob pena de não ter mais o que falar com amigos tão queridos e com quem o assunto sempre foi inesgotável, não assisto a “GOT”. Enquanto a batalha comia solta, eu via “Billions”. A série (no iTunes e ainda sem previsão de estreia na TV aqui) é estrelada por Damian Lewis. Ele foi o Brody de “Homeland” e ganhou um Emmy e um Globo de Ouro pelo papel. Só por isso, a produção já seria irresistível. Mas há muitos outros motivos para acompanhá-la.

Lewis vive o biliardário Bobby Axelrod. Na sua firma, não trabalham engravatados caretas da bolsa, como era de se imaginar. Ao contrário. O lugar, uma construção charmosa, parece uma daquelas empresas moderninhas do Vale do Silício, com uma maioria de jovens. Até uma psicanalista, Wendy Rhoades (Maggie Siff), dá expediente ali. As pessoas frequentam seu consultório durante o horário de trabalho. É com essa ajuda que os funcionários mantêm o equilíbrio nas jogadas de grande risco. Axelrod é casado com uma loura bonita e esperta, tem dois filhos e vive numa casa maravilhosa. É um self made man. Parece uma trajetória bonita, mas não é bem assim que a Justiça o enxerga.

O procurador-geral, Chuck Rhoades (o excelente Paul Giamatti), tem certeza de que, por trás do charmoso Tio Patinhas, há transações escusas e tráfico de informações. Para piorar, o incorruptível e determinado Rhoades é casado com a tal psicanalista e vê em Axelrod uma espécie de rival. Ele e sua equipe trabalham noite e dia para desencavar os podres do ricaço. Além da investigação convencional, apelam para recursos heterodoxos. Por exemplo, infiltram agentes duplos na empresa. Entre delações premiadas, traições e dramas pesados, a série corre muito eletrizante.

Apesar da enxurrada de termos técnicos próprios de Wall Street, a estrutura de “Billions” é a de um programa de suspense e espionagem, com viradas surpreendentes e personagens multidimensionais. Não é preciso dominar um vocabulário cheio de hedge funds e low volatily investments para embarcar nessa aventura. Sem dizer que, por trás de tudo isso, há uma discussão encorpada e interessante sobre os valores da sociedade americana.

Pode não ser uma “Game of Thrones”, mas anima bastante o domingo também.

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