Vozes do Agro

Por Evandro Durli*


O ano de 2023 foi marcado por um cenário desafiador para a indústria do couro na China. Apesar da queda na receita de vendas das principais empresas do setor e das exportações, o mercado chinês ainda representa cerca de 50% do mercado global de couro, evidenciando seu papel crucial para o crescimento da indústria brasileira.

E quando falo sobre o cenário não ter sido fácil para as empresas chinesas no setor é importante analisar o contexto. A receita das vendas das principais empresas do setor naquele país diminuiu 5,4%, quando comparada a 2022. As exportações caíram 7,6%, enquanto as importações aumentaram 2,6% em relação ao ano anterior.

A pressão para avançar em 2023 era grande e cabia a eles enxergarem oportunidades, principalmente quando observamos os avanços tecnológicos e científicos que aquele país já tem por característica por implementar em diversos setores.

Diante desse contexto, a aproximação estratégica com o mercado chinês se torna essencial para o futuro da indústria brasileira de couro. Para além da postura tradicional de fornecedores, as empresas brasileiras precisam se posicionar como parceiras comprometidas com a sustentabilidade e a inovação. Essa visão holística é valorizada pelos chineses, como demonstrado na APLF Asia Pacific Leather Fair, um dos maiores eventos do setor, em que estive presente em sua última edição.

 — Foto: Globo Rural
— Foto: Globo Rural

Para isso, o papel do governo local em incentivar o uso do couro tem sido primordial para que exista a retomada do setor. Em reuniões realizadas no evento, pude entender que Associação da Indústria do Couro da China, em conjunto com a Associação de Consumidores da China e várias organizações globais da indústria, prezam pela promoção do couro, especialmente entre jovens estudantes e consumidores, para que possam compreender as características naturais, elegantes e duráveis de seus produtos derivados, aumentando assim o consumo.

O movimento ainda se estende para o mercado da mobília e do calçado. Estes dois têm se mantido estáveis, enquanto o setor automotivo está crescendo com o rápido desenvolvimento da indústria de veículos de energia nova. E, claro, que tudo isso precisa estar alinhado às questões de sustentabilidade que toda a cadeia do couro deve se adaptar até o próximo ano.

Nesse sentido, a indústria brasileira de couro tem demonstrado grande potencial para liderar uma revolução sustentável. O envio do primeiro contêiner de couro brasileiro 100% rastreado para o mercado europeu é um marco nesse compromisso com a transparência e a responsabilidade ambiental. Por meio do rastreamento de todas as etapas da produção, desde a criação dos animais até o produto final, a indústria brasileira estabelece novos padrões de excelência e de autenticidade de todos os processos.

Ações como a de nossa iniciativa de Rastreabilidade Completa, utilizando o Protocolo de Rastreabilidade Individual e Monitoramento Indireto (Primi), também contribuem para a construção de uma cadeia produtiva mais ética e transparente. O engajamento de diversos atores da indústria, desde as fazendas até os frigoríficos, fortalece a qualidade dos produtos, o bem-estar animal e a preservação ambiental. O caminho para uma expansão de negócios com o mercado chinês e, consequentemente, com os mercados europeu e norte-americano passam por isso.

No último mês, por exemplo, uma renomada marca internacional do setor de moda, especializada em couro para vestuário, calçados e acessórios, a PrimeAsia Leather Company, foi convidada a conhecer essa iniciativa pioneira de produção de carne e couro na região amazônica. Durante três dias de visita, os representantes exploraram o programa que assegura a rastreabilidade individual dos rebanhos desde o seu nascimento, em conformidade com os novos regulamentos internacionais.

O setor da moda chinês está em constante busca por alternativas mais éticas e sustentáveis, e a produção de couro é um dos pontos focais dessa busca, visto que essas empresas produzem material para grandes empresas internacionais da moda, como Nike e Adidas, por exemplo.

Com todas as informações coletadas ao longo da cadeia produtiva sendo armazenadas em um sistema blockchain, a segurança e a confiabilidade dos dados são maiores e a garantia para essas empresas internacionais ficam mais assertivas e imutáveis. Essa tecnologia inovadora permite que os compradores dos produtos finais acompanhem em tempo real a jornada de cada animal, desde a fazenda até o curtume, reforçando a confiança na origem sustentável dos produtos.

Quando aliamos excelência ambiental e social à inovação, a indústria brasileira de couro passa a ser diferenciada no mercado global e começa a aproveitar oportunidades em um mercado em constante crescimento como é o chinês. A visão estratégica e proativa por parte das empresas privadas brasileiras é quem garantirá o sucesso da indústria nacional no cenário internacional do setor.

*Evandro Durli é diretor da Durlicouros

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

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