Ela ficou conhecida como a indígena que preparou o café robusta amazônico que o presidente Lula provou em abril deste ano, durante um evento da Embrapa em Brasília. Depois disso, Celesty Suruí tem estado em feiras e festivais dessa variedade de café para divulgar a cafeicultura indígena de Rondônia. À reportagem, ela contou que quer aumentar a produção e expandir sua marca própria, a Sarikab, ainda este ano.
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Na família linguística do povo Paiter Suruí, que é a etnia de Celesty, o nome faz referência a uma fruta nativa da Amazônia araricá, vermelha como o fruto do café. Devido à coloração, por décadas, tribos de Rondônia confundiam a cereja do café com a frutífera. Comiam, ao invés de colher e torrar o grão.
Essa história marcou a infância e adolescência de Celesty, que a reconta atualmente como uma forma de aproximar brasileiros da produção do grão feita por indígenas.
Com a família, ela produz robusta amazônico em três hectares dedicados exclusivamente a 9 mil pés de café. De acordo com Celesty, de 22 anos, o diferencial da produção é o manejo totalmente orgânico. "A planta já é especial, então a gente trata o cultivo de forma especial também com auxílio de técnicos, seguindo à risca as indicações", conta ela.
![Café divulgado por Celesty Suruí é plantado na Terra Indígena Sete de Setembro, na aldeia Lapetanha, em Cacoal (RO) — Foto: Reprodução / Instagram](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/_QSeBk9ZHLWMt2ipC8zK9bSgfkI=/0x0:1024x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/t/H/zlAGQYTLCS40rEKWhBZg/celesty-surui-barista-indigena-cafe.webp)
Embora não tenha quantificado a produtividade das últimas safras, ela garante que toda a produção é destinada ao processamento de cafés especiais. Recentemente, ela experimenta o cultivo do grão consorciado com cacau para testar a melhora da produtividade com o sombreamento da árvore do cacau. A fazenda fica dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, na aldeia Lapetanha, em Cacoal (RO).
"Lá, a gente chegou e fez a moradia onde os cafés já eram plantados, em 1969. Eu uso o café como uma ferramenta para poder contar a história de meu povo, foi aí que eu fui convidada para fazer um curso de barista em 2021. No ano seguinte, me aprofundei mais", descreve.
Quando Celesty fez o primeiro curso, se deu conta de que havia poucos produtores indígenas e que a história de sua etnia na lida do café era pouco conhecida. Segundo a barista, a relação mais afetuosa com a planta de café veio após a demarcação da terra.
"Quando meu povo chegou na região de Cacoal, eles não queriam ver aquelas roças, porque falavam que era uma semente de uma história genocida [em referência à morte de índigenas], e eles queimaram o milho que havia na região, mas viram no café algo especial e o mantiveram. Depois, em época de colheita do grão, os caciques tinham a tradição de chamar a comunidade para comer a fruta, sem saber que a planta virava bebida", relembra.
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A barista acrescenta que a ancestralidade indígena não se perdeu e a ode ao café continua, mas, agora, o cuidado com os pequenos parques cafeeiros é ensinado às novas gerações das tribos para assegurar renda com os cafés especiais robusta amazônico.
De olho nesse mercado está a empresa 3Corações, uma das principais indústrias de café do Brasil. Recentemente, lançou ano passado o Projeto Tribos, de cafés produzidos somente por povos originários.
![Celesty Suruí tem mostrado o produto em feiras e eventos — Foto: Isadora Camargo/ Globo Rural](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/GYUuJuvi-iJqi1XAz9Y67zE4w1c=/0x0:1600x942/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/s/P/n2i3bqTcGnhFQomXrSng/whatsapp-image-2024-06-26-at-18.13.06.jpeg)
São microlotes comercializados online por serem safras menores e exclusivas, e um deles é da produção de Celesty. A família Suruí fornece metade de café direto à empresa. A outra metade, eles torram e comercializam nas comunidades próximas à Cacoal.
Atualmente, sete etnias fazem parte do projeto e recebem orientação técnica de trato, colheita e pós-colheita, além de facilitar cursos de capacitação para produtores indígenas. O robusta amazônico assegurou que a região de Matas de Rondônia, onde está localizado Cacoal, o título de primeira Indicação Geográfica com Denominação de Origem (DO) para café canéfora sustentável.