Moda
Publicidade
Por

Nesse último verão, o Rio de Janeiro bateu o apavorante recorde de 62,5° de sensação térmica na capital. No inverno passado, os termômetros registraram 39,2° em pleno agosto. Cariocas podem até estar acostumados com altas temperaturas, mas o aquecimento global está pegando a meta e dobrando-a rápido demais. O meme "não tenho roupa pra isso" nunca foi tão real.

Se não é o calor extremo, são as chuvas torrenciais ou os ventos arrebatadores. Nem me lembro quando foi a última vez que fui a um festival de música que não choveu e não tive que enfrentar lama e roupas encharcadas. As marcas de moda estão com o radar ligado nos festivais de música como polo lançador de tendências, porém os looks são próprios para o close, mas não para o corre que é lidar com o clima instável. Nas lojas, a gente só encontra corta-vento e, quando acha capas de chuva, elas não protegem de fato da chuva (sim, acontece muito). E, se envolver naqueles sacos plásticos que têm como destino pós-show a caçamba de lixo, não ajuda em nada o planeta.

Quando a gente pensa na relação da moda com a crise climática, provavelmente a primeira coisa que vem à cabeça é o fato de a indústria ser responsável por cerca de 5% da emissão de gases poluentes, além das 136 mil toneladas de roupas que vão parar em aterros sanitários, danificando os solos, ou ainda a quantidade de água que é utilizada e contaminada na produção de tecidos. Mas se os estragos parecem irreversíveis, a moda tem um papel importantíssimo para a gente pensar na sobrevivência neste planeta em ebulição. As ondas de calor aumentam os riscos de ataques cardíacos e quem sofre mais com isso são as mulheres. Só que as soluções até agora são contraditórias. Universidades da China estudam formas de manipular o poliéster para que ele reduza a absorção de calor entre 5°C e 10°C, sem contar que esse material é um dos grandes responsáveis pelo acúmulo de microplásticos nos oceanos. Para melhorar o nosso futuro, a gente precisa olhar mais para o passado. Não para as tendências de décadas passadas, mas sim para as vestimentas de milênios passados em busca de soluções eficientes e sustentáveis de verdade. Na década de 90, pesquisadores alemães encontraram uma múmia nos Alpes com botas intactas de milhares de anos atrás. Eles então reconstruíram essas botas feitas de diferentes tipos de couro e qual foi a surpresa ao constatar que essas botas eram melhores para andar no gelo do que qualquer bota moderna. Materiais orgânicos são indiscutivelmente melhores para o enfrentamento de temperaturas extremas. Possivelmente, a mudança também tenha que ser cultural.

Em países como Espanha e Japão, o governo está tomando medidas para que os cidadãos usem roupas que cubram menos o corpo para deixar as pessoas mais frescas nos escritórios, diminuindo assim o uso do ar–condicionado e, consequentemente, o consumo de energia.

O fato é que a indústria da moda não pode mais ignorar que, além de mudanças na cadeia de produção, também precisa rever a forma como pensa as roupas para nos ajudar a enfrentar o problema que ela mesma contribuiu para criar.

Canal da Glamour

Quer saber tudo o que rola de mais quente na beleza, na moda, no entretenimento e na cultura sem precisar se mexer? Conheça e siga o novo canal da Glamour no WhatsApp.

Mais recente Próxima Inverno: 9 dicas para inspirar looks cool e descomplicados
Mais de Glamour