Moda
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Por Thalita Peres (@thalita__peres)

Fernanda Tavares vivenciou o boom dos nomes brasileiros na moda, ao lado de Gisele Bündchen, Ana Claudia Michels, Luciana Curtis, Michelle Alves, entre outras modelos que fizeram história ao levar o gingado do Brasil mundo afora.

Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, Fernanda despontou cedo para mercado fashionista, após participar de um concurso de modelo, em 1995. "Foi nesse período que tive a oportunidade de fotografar com os melhores fotógrafos do mundo. Em 1998, fui escolhida para ser o rosto da "Vogue" francesa, em uma disputa entre Brasil e França: era final da Copa do mundo", relembra em entrevista à Glamour Brasil.

Com contratos importantes como a campanha para L´Oreal ao lado de Beyoncé passando por passarelas lúdicas de John Galliano como diretor criativo da Dior, Fernanda, que mora no Rio de Janeiro ao lado do marido, o ator Murilo Rosa, e dos dois filhos, se negou a desfilar usando casaco de peles no auge da carreira por amor aos animais, já mostrou a versão apresentadora no comando de reality show na telinha e relembra na entrevista o desejo de ser mãe.

Confira na íntegra:

Glamour Brasil: Você foi uma das modelos nacionais que viveu o boom das brasileiras lá fora. Como era isso? Você sentia que era o momento do Brasil por lá e como essa situação era vista pelas outras modelos estrangeiras?

Fernanda Tavares: Foi um momento muito importante na indústria da moda como um todo. Foi o verdadeiro boom das latinas. Ainda havia uma resistência de alguns designers em contratar apenas russas, já que havia poucas modelos negras e pardas. De repente, surgiram as brasileiras com uma variedade de perfis de beleza, tons de pele e tipos de cabelo, inclusive loiras, todas do mesmo país. Também lembro de falarem da nossa energia, sempre muito contagiante! Eu era uma das que tinha mais curvas e diziam que não conseguiria trabalhar na Europa. No entanto, logo que cheguei na Europa, fui escolhida para a campanha mundial da Louis Vuitton e também fui acolhida pela Donatella Versace, que me colocou em várias campanhas e desfiles da marca. Sem mencionar John Galliano, que adorava trabalhar com brasileiras para a Dior. Naquela época, por ser muito jovem, acho que eu não tinha muita noção dessa conquista, pois trabalhava muito e mal conseguia ficar em um lugar fixo. Hoje, tenho a consciência de que fizemos um ótimo trabalho e abrimos portas para as new faces atuais.

Glamour Brasil: Qual foi o momento mais inesquecível como modelo? E com a fama, você chegou a dar uma deslumbrada ou sempre manteve o pé no chão?

Nunca fui deslumbrada, pois sempre tive minha mãe comigo. Ela nunca deixou que eu me esquecesse de onde viemos e do que deixamos para trás para que eu estivesse aqui, trabalhando e realizando um sonho que também era dela. Minha mãe sempre sonhou que eu fosse uma modelo internacional. Houve vários momentos importantes em minha carreira que me trouxeram muito reconhecimento. Lembro-me de minha agência em Paris, na época, me dizendo: "Fernanda, você será a primeira modelo brasileira a assinar um contrato mundial com a L'Oréal Paris, ao lado da cantora Beyoncé e da atriz Catherine Deneuve. Você já imaginou o seu rosto no mundo todo, em todas as farmácias e outdoors?". Comecei com os produtos corporais e depois o contrato foi expandido para incluir produtos para os cabelos (um grande salto!) e assim fiquei por vários anos. Nesse período, já estava envolvida em três campanhas de perfumes de alcance mundial. Foi aí que comecei a ser reconhecida em diversos lugares. Foi quando percebi que havia feito um ótimo trabalho.

Você é uma das poucas amigas de Gisele Bündchen. Como que é ser amiga dela? É difícil amizade verdadeira na moda?

A indústria da moda pode parecer muito glamourosa, mas também é um lugar de muita solidão para quem trabalha muito. Você viaja o tempo todo, faz muitas coisas e conhece muita gente incrível, mas poucas pessoas você consegue trazer para a sua vida pessoal. Hoje diria que nós modelos somos como pássaros voando de galho em galho. Já Bündchen e eu nos conhecemos desde os 14 anos, quando participamos do concurso da Elite Model. Nossas famílias se conhecem, se respeitam e se gostam muito. Tenho muito respeito por ela e a vejo como um ser humano incrível, com um grande amor pela vida, pelas pessoas e pelo planeta. Sempre que temos oportunidade, nos encontramos.

Gisele Bündchen e Fernanda Tavares no Victoria's Secret Fashion Show — Foto: Getty Images
Gisele Bündchen e Fernanda Tavares no Victoria's Secret Fashion Show — Foto: Getty Images

Como você vê a evolução da moda, desde sua época até os dias de hoje?

Sim, acho que houve um grande passo na moda. O mercado está mais flexível em relação às novas modelos. Não existe mais tanta resistência em adotar diferentes perfis e etnias. Espero que não seja passageiro. Durante muitos anos, as russas dominavam a indústria da moda - mulheres muito magras, loiras e a exigência de não terem curvas. É um alívio ver essa explosão de orientais, africanas, indianas e uma vasta diversidade de beleza latina nas passarelas. Sem falar nas modelos plus size. Que tudo isso perdure por muitas gerações.

Você completou 43 anos. Por lidar com a imagem, você sentiu uma pressão com a chegada da maturidade ou reagiu bem com o passar dos anos?

Desde os meus 16 anos cuido do meu rosto e corpo, dando preferência sempre aos produtos orgânicos e sem abrir mão do protetor solar. Nos últimos anos, tenho aderido a tratamentos com lasers de última geração e faço botox duas vezes ao ano com a minha dermato, dra. Gabriela Vasconselos, no Rio, cidade onde moro. Gosto muito dos procedimentos que estimulam o colágeno. Além disso, cuido da minha alimentação, não fumo, não consumo álcool e bebo bastante agua, pois tudo isso ajuda nesse processo.

Fernanda Tavares — Foto: Hudson Rennan
Fernanda Tavares — Foto: Hudson Rennan

Fernanda, você é mãe de dois meninos. Ser mãe e construir uma família era um sonho seu?

Sempre quis ser mãe, construir uma família e viver em um único lugar. Quando conheci o Murilo, ele já era muito ativo como ator e morava no Rio. Tive que abrir mão de muitas coisas para ter uma família e decidi parar de trabalhar por um tempo, até que meus filhos estivessem um pouco mais independentes. Apesar de sempre ter tido apoio de pessoas para me ajudar com as crianças, eu queria acompanhar cada estágio da vida deles. Hoje, temos casa na Flórida e em Portugal, e quando temos oportunidade, saímos de férias com a família. No entanto, minha base continua sendo no Rio de Janeiro.

Se eles quiserem ser modelos, você aprova? Se sim, qual conselho você daria a eles?

Sempre dizem que o fruto nunca cai longe da árvore, não é mesmo?! Temos dois filhos. Meu marido é ator e eu sou modelo. Além disso, já participei de alguns projetos de reality onde atuei como apresentadora. O meu conselho para os meus filhos, seguindo o caminho artístico ou qualquer outro, será para que sempre deem valor aos princípios que ensinamos, que estejam do lado da verdade, sejam profissionais e tenham disciplina e, acima de tudo, que sigam aquilo que verdadeiramente amam.

A proteção animal está nas causas que você defende. Como enxerga o uso de peles de verdade, não apenas pelos, mas couro também, nas passarelas com tanta tecnologia disponível?

Quando eu era muito nova, estava assistindo a um documentário onde matavam um bebê foca para fazer casacos de peles. Vi o quão cruéis e insensíveis eram para esse fim. Já na moda, depois que saí de Nova York para Paris, descobri que um único bebê não era suficiente para o tal casaco, e sim três bebês eram necessários para a confecção. Chorando, chamei minha mãe e disse que não usaria mais peles de animais. Fui criticada pelas agências e por pessoas da indústria. Tudo aconteceu semanas antes de uma temporada de inverno. Eu estava no auge, como diziam para mim. Diziam que não poderia ser tão radical, que isso faria eu perder vários trabalhos importantes. De fato, fui cancelada de alguns desfiles importantes, campanhas e capas de revistas. Continuei firme e procurei de alguma forma contribuir para a conscientização sobre o não uso de peles de animais e testes de laboratório na fabricação de cosméticos. Foi aí que veio o convite do PeTA (People for the Ethical Treatment of Animals) para fazer a campanha mundial. Tive o apoio incondicional da Stella McCartney e de artistas internacionais. Já aqui no Brasil, fui a representante da Humane Society International por alguns anos. Isso ainda está muito vivo para mim, porque eu amo os animais.

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