Moda
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Por Ana Carolina Pinheiro (@anacarolipa)

Ainda que números impressionem, como os 25 anos de carreira e os 40 anos de idade batendo à porta, e mostrem solidez, a icônica modelo Isabeli Fontana, na verdade, atrela o legado valioso na moda à algo mais profundo, nas suas decisões.

"Assim como a moda, passei por diversas fases e tive que me 'adaptar' a elas, mas não de forma passiva. Acho que minha herança na moda vai nesse sentido, de ser dona das minhas escolhas", aponta em entrevista exclusiva para Glamour.

A lucidez e segurança da top vão de encontro com um diferencial que marcas procuram para irradiar relevância no mercado. Para Isabeli, essa equação de sucesso foi lapidada nas passarelas, onde se transformou e cravou seu nome na moda "com um gingado meio 'tomboy'", reflete a expert, que assume, em 2023, o posto de embaixadora da grife francesa Pierre Cardin, marca licenciada pelo Grupo Safilo.

Na entrevista, a modelo detalha sobre os passos profissionais que estão por vir e aponta as mudanças que vem sentido internamente com a chegada dos 40 anos de idade, que completa em julho, como relação mais desapegada com a moda, melhora no prazer sexual e maternidade.

Você começou a trabalhar como modelo aos 15 anos. Tem algo que você gostaria de ter escutado no início da carreira?
Muitas coisas, mas sendo sincera os conselhos talvez pudessem me orientar, mas não sei se faria algo diferente do que fiz. Certamente, viver longe da família, do colo materno, das amigas de colégio não é fácil. Naquela época, a gente não ouvia falar em rede de apoio, não tinha internet como hoje, as ligações internacionais eram caríssimas. Então foi um período de introspecção, até de solidão. Ao mesmo tempo, tinha muita vontade de viver, conhecer coisas diferentes e descobrir novos lugares. Sempre tive um espírito cigano, sabe?

Claro que gostaria de ter ouvido alguém dizer que vai dar tudo certo, que os não são aprendizados, alguém que me ensinasse a controlar os níveis de ansiedade, que um trabalho perdido não significa uma carreira fracassada. A vida de modelo é cheia de altos e baixos, de sim e não. A gente de alguma forma fica submetida ao julgamento do outro (cliente, designer, editora de moda, diretor de casting, fotógrafo). No meio disso tem um ser humano, às vezes, uma menina que também está tentando se entender, se situar no mundo.

Inclusive, tenho o desejo de fazer um curso ou workshop para falar exatamente sobre isso: como lidar com os olhares externos ao mesmo tempo que precisamos olhar para dentro. A yoga e a meditação me ajudaram a lidar melhor comigo mesmo.

Isabeli Fontana — Foto: Reprodução/Instagram
Isabeli Fontana — Foto: Reprodução/Instagram

Isabeli, na nova coleção da Pierre Cardin, a marca olhou para o próprio legado para criar designs atemporais dos óculos. Traçando um paralelo com a sua carreira, como você enxerga a herança que vem construindo na moda?
Lembro que no início da carreira eu era uma adolescente tímida, retraída, que tinha medo de conversar, mas na passarela eu me transformava, crescia, desfilava com passos firmes, com um gingado meio "tomboy" e talvez, tenha sido assim que conquistei o meu espaço, que fiz o meu nome. O que posso deixar de atemporal é a minha personalidade, a determinação de seguir meu instinto e meus objetivos, a decisão de ter sido mãe em um momento alto da carreira quando não havia modelos que eram mães. O meu legado é minha história, o resto passa.

Para além da parte profissional, como você enxerga a sua relação com a moda atualmente?
Estou decorando um apartamento novo, em São Paulo, e percebo o quanto da moda tenho trazido nas escolhas dos objetos. Acho que, mesmo intuitivamente, a moda está em mim. Ao mesmo tempo estou mais desapegada a ter o sapato do momento, a bolsa da vez, comprar aquela marca hypada que todo mundo tá comentando. Percebo que tenho consumido menos e melhor. Ano passado, por exemplo, fiz uma limpa no meu closet e vi que tinham coisas que eu nunca usei, estavam intactas. Depois, pensei: se não usei até hoje, é porque não vou usar mais e desapeguei.

Isabeli Fontana  — Foto: Divulgação/Pierre Cardin
Isabeli Fontana — Foto: Divulgação/Pierre Cardin
Isabeli Fontana, de Pierre Cardin — Foto: Reprodução/Instagram
Isabeli Fontana, de Pierre Cardin — Foto: Reprodução/Instagram

E o que você ainda pretende adicionar nessa trajetória na moda? Pense em atuar na parte criativa, assinar mais collabs?
Gosto da parte criativa, dessa coisa de inventar, usar a imaginação. Eu sou canceriana, tenho meu lado sensível aguçado e artístico. Sou aquele tipo de modelo que quer ver a foto, que opina sobre a pose, a luz, a composição de cores, claro que respeitando o trabalho do fotógrafo. Se eu puder fazer mais projetos colaborativos, vou amar. Tenho muitas ideias, mas preciso de alguém para me ajudar a colocar em prática.

Em julho, você completa 40 anos, né? Como anda a sua relação com o passar do tempo?
Envelhecer nem sempre é fácil e não tem só a ver com o corpo, mas com maturidade, experiência, história, aprendizado e, nesse sentido, é maravilhoso. Olho para trás e vejo o quanto construí e caminhei. Me orgulho da minha trajetória até aqui. Claro, hoje, perto dos 40, preciso das minhas horas de sono para descansar o corpo e a mente, dar mais atenção à alimentação porque o metabolismo muda, tomar minhas vitaminas, passar os meus cremes. Faço isso não só por uma questão estética, mas também porque aprendi a me amar e me cuidar.

Às vezes, a gente escuta que precisamos nos aceitar, e super concordo, mas não significa que vamos deixar a ação do tempo nos dominar. Hoje temos recursos e consciência de como viver mais e melhor. Aos 40, não sou mais uma garota, mas sim uma mulher antenada ao meu tempo e com a vivência de alguém que tem dois filhos adolescentes de pais diferentes, que já passou por outros casamentos, que se tornou independente financeiramente aos 16 anos de idade e que tem muita história para contar.

Isabeli Fontana curte novo visual — Foto: Instagram @isabelifontana
Isabeli Fontana curte novo visual — Foto: Instagram @isabelifontana

Você sente que a maturidade te libertou de alguma coisa? Impactou na sua relação com o prazer sexual?
A maturidade me libertou da impulsividade. Antes eu agia por instinto, agora eu paro e penso. Percebo como aprendi a me ouvir quando converso. Quando era mais nova, por exemplo, lembro que quando eu dava uma entrevista e não sabia direito o que estava falando, apenas respondia, não me escutava. Em relação ao prazer sexual, sinto que melhorou, porque agora me conheço mais, tenho noção do meu corpo, do que me dá prazer. Sem falar no amor que vivo com o Di [ cantor e esposo da modelo].

Em relação ao autocuidado, tem algo novo que ganhou espaço na sua rotina?
A meditação. Como passo muito tempo viajando e dentro do avião, aproveito esses momentos para ler ou meditar. Agora mesmo estou em Ibiza e aproveitei para fazer algumas aulas de ioga e meditação. É um autocuidado para minha saúde mental.

Sobre procedimentos estéticos, como você se relaciona com eles? Já se arrependeu de algo?
Não me arrependo porque naquele momento o procedimento fez algum sentido. Quando se tem algo que te incomoda e você acredita que uma intervenção estética vai te ajudar a lidar melhor com essa questão, sou a favor de fazer! O que eu fico um pouco assustada são esses procedimentos que estão muito em alta e uniformizam a aparência.

Recentemente, você disse em uma entrevista que tem planos de ter mais filho. Esse desejo sempre esteve presente ou foi algo que aflorou há pouco tempo?
Ser mãe sempre foi um desejo, tanto que fui aos 19 anos de idade, quando todos olhavam para mim e sentenciaram que minha carreira teria chegado ao fim. Acho que erraram! Eu sou super fértil, segundo a minha ginecologista, então...

Isabeli Fontana com Di Ferrero e os filhos Lucas e Zion — Foto: Reprodução/Instagram
Isabeli Fontana com Di Ferrero e os filhos Lucas e Zion — Foto: Reprodução/Instagram
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