Moda
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Por Rafaela Fleur (@rafaelafleur)

A Semana de Alta-Costura terminou no último dia 27, em Paris, e muitas grifes - como Dior, Chanel e Fendi - desfilaram coleções potentes, arrancando suspiros e fazendo os olhos brilharem. No entanto, em meio a tantas peças refinadas e produzidas artesanalmente, uma marca se destacou indiscutivelmente: a Schiaparelli. O motivo? As roupas não pareciam roupas. Diante do público, esculturas pareciam ganhar vida, levando a atmosfera lúdica da moda para um patamar raríssimo (ou seria inédito?) no evento. Apesar da explosão recente, a história da Schiaparelli começou a ser traçada nos anos 20. O que vemos hoje é o encontro entre um imaginário mágico e antigo, com a urgência contemporânea de poder sonhar.

Rihanna de Schiaparelli — Foto: Reprodução/Instagram @rafaelpavarotti_
Rihanna de Schiaparelli — Foto: Reprodução/Instagram @rafaelpavarotti_

Conectar todos acontecimentos à pandemia parece cansativo, sabemos, mas é impossível escapar desta relação. Ninguém aguenta mais ouvir os termos "vírus" e "covid-19", só que a resistência deles independe da nossa vontade. A realidade ainda é dura, as mortes não cessaram, mesmo com a vacina. Desde 2020, a atmosfera de medo nos acompanha - e o questionamento feito quase diariamente é: "até quando?". E é aí que a Schiaparelli quer atuar: na esperança de um futuro mais bonito. Na ausência deste amanhã que nunca chega, o que resta é fantasiar. E Daniel Roseberry, que assumiu a direção da grife em 2019, sabe bem como provocar a nossa imaginação.

Roseberry trabalhou por uma década dirigindo a Thom Browne, tinha zero experiência em alta-costura e sequer sabia falar francês. Uma aposta arriscada? Talvez, mas deu muitíssimo certo e o consolidou como o único designer norte-americano a brilhar na couture parisiense (e o primeiro desde 1920).

Alta-Costura Schiaparelli primavera/verão 2022 — Foto: Reprodução/Instagram
Alta-Costura Schiaparelli primavera/verão 2022 — Foto: Reprodução/Instagram
Alta-Costura Schiaparelli primavera/verão 2022 — Foto: Reprodução/Instagram
Alta-Costura Schiaparelli primavera/verão 2022 — Foto: Reprodução/Instagram

“Esta coleção é assumidamente emocional, tão vertiginosa quanto se apaixonar. É também uma homenagem ao romance, aos excessos, aos sonhos. Existe algo mais urgente hoje do que sonhar grande, do que sonhar com um mundo melhor?”, comentou o estilista em nota, em 2021, quando apresentou sua última coleção de inverno.

Ao lado da vontade de criar uma realidade paralela, Daniel combinou um insight certeiro, que é exatamente o grande diferencial da maison atualmente: o poder das joias esculturais acopladas aos tecidos.

Joias: o lugar inovador do lúdico

A alta-costura, com toda sua atmosfera aristocrática francesa, remete aos volumes, rendas, bordados, tecidos finos, vestidos longos e esvoaçantes. Aquela coisa de baile, clássica, meio Maria Antonieta. E, de fato, a fashion week perpetuou esta estética por muitos anos, e muitas etiquetas seguem fazendo isso divinamente até hoje - Jean Paul Gaultier e Elie Saab são um ótimo exemplo. O pulo do gato da Schiaparelli foi exatamente trazer a modernidade com um novo olhar. Para isso, as joias se tornaram as melhores aliadas.

Schiaparelli na Semana de Alta-Costura, em Paris — Foto: Reprodução/Instagram
Schiaparelli na Semana de Alta-Costura, em Paris — Foto: Reprodução/Instagram

“Senti que a joalheria era o lugar mais moderno para explorar o movimento artístico. Experimentamos antes com bordados; eram bonitos e diferentes, mas não pareciam tão novos, sabe? Quando chegaram os primeiros testes das bijoux moldadas no corpo humano, é que realmente começou a parecer mágico. As silhuetas simples e severas, combinadas a joias extravagantes, soaram como uma maneira muito nova de falar sobre glamour e alta-costura”, declarou Roseberry para a Vogue.

A coisa deu certo: as imagens mais compartilhadas da grife, os cliques que mais viralizam por aí, são exatamente aqueles que evidenciam o mix entre acessórios esculturais e roupas ultracontemporâneas.

Desfile da Schiaparelli na Semana de Alta-Costura — Foto: Reprodução/Instagram
Desfile da Schiaparelli na Semana de Alta-Costura — Foto: Reprodução/Instagram

Sobre preços, tempo de produção e materiais utilizados nas peças couture, só especulações. Nem Daniel, nem a comunicação da marca revelam detalhes. No site oficial, apenas peças das coleções ready to wear (prêt-à-porter, ou seja, comerciais) são vendidas, e as bolsas são as peças com valor mais elevado. A média é de 7.500 euros, aproximadamente R$ 45 mil. Estima-se que os preços dos itens de alta-costura chegam a ser 10x mais caros. Se as especificidades são nebulosas, por outro lado, sabe-se exatamente de onde vem a maior inspiração de Daniel Roseberry. Pode entrar, Elsa Schiaparelli.

Herança de Elsa

Italiana, apaixonada por mitologia, poeta, à frente do seu tempo: estas são algumas características de Elsa Schiaparelli, fundadora da grife, que, se estivesse viva, teria 132 anos. “Para mim, desenhar roupas não é uma profissão, mas uma arte”, costumava dizer. E foi com este espírito que ela guiou a grife desde 1927, quando foi fundada, até 1954, quando Elsa a encerrou.

Elsa Schiaparelli — Foto: Getty Images
Elsa Schiaparelli — Foto: Getty Images
Elsa Schiaparelli, em 1935 — Foto: Getty Images
Elsa Schiaparelli, em 1935 — Foto: Getty Images

Durante o período, o que mais se destacou na etiqueta foi a relação da estilista com a arte. Inclusive, os maiores destaques da sua carreira foram as colaborações com os icônicos artistas Salvador Dalí e Jean Cocteau. A volta às passarelas da Semana de Alta-Costura só aconteceu em 2014 - sim, 60 anos depois.

Retorno da Schiaparelli às passarelas da Alta-Costura, em 2019, sob o comando do estilista italiano Marco Zanini — Foto: Getty Images
Retorno da Schiaparelli às passarelas da Alta-Costura, em 2019, sob o comando do estilista italiano Marco Zanini — Foto: Getty Images

Em diversas entrevistas e constantemente em posts no Instagram, Roseberry afirma que todo o seu trabalho é focado em honrar a memória de Elsa. A sensibilidade do estilista, somada à sua vontade de fazer história, resulta em criações sublimes - e vale lembrar: ele só está na Schiaparelli há três anos. “O bonito da alta-costura é que você está colocando roupas nas costas de algumas dessas pessoas durante os momentos mais importantes de suas vidas", escreveu. Ao que tudo indica, o futuro promete ser, sim, repleto de fantasias.

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