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Por Hannah Madlener, Glamour DE

Um filme sobre Barbie, a boneca com a cintura minúscula, seios grandes e pernas muito longas, era algo que eu não imaginava para o ano de 2023. Mas, então veio Greta Gerwig, que já se destacou com filmes feministas como "Lady Bird", "Frances Ha" e "Little Women" – e assumiu a tarefa de lidar com a boneca problemática.

O efeito: antes mesmo do filme ser lançado nos cinemas, Barbie parece já ter se tornado um ícone feminista. A própria Mattel, a empresa por trás da Barbie, está contribuindo para esse desenvolvimento, tornando a boneca cada vez mais diversificada. E não podemos esquecer das redes sociais: as tendências do TikTok trouxeram de volta a cor rosa e a feminilidade estereotipada.

A questão ainda permanece: quão feminista Barbie realmente pode ser? Como a Barbie, que nos anos 1960 chegou a vir acompanhada de uma balança (não é brincadeira) como acessório, se tornou um ícone relevante para os dias atuais?

As origens de Barbie

Uma boneca com manual para emagrecer

Quando Barbie foi lançada em 1959, ela era praticamente o oposto de um ícone feminista. Ruth Handler, co-fundadora da Mattel, se inspirou na boneca alemã "Bild-Lilli" durante uma viagem à Europa. Lilli era uma personagem de quadrinhos altamente sexualizada que aparecia no jornal Bild-Zeitung. Bonecas com a imagem de Lilli eram vendidas como presentes principalmente para homens. Inspirada por Lilli, Ruth Handler criou a Barbie.

Com o lançamento das primeiras Barbies, especialmente a partir da década de 1970, surgiram as primeiras críticas feministas: Barbie representava um ideal irreal, unidimensional, branco, magro e cis-heteronormativo que não correspondia à realidade. O foco principal das críticas era a imagem corporal que Barbie promovia.

Boneca que serviu de inspiração para a Barbie; e Barbia que vinha acompanhada de uma balança de peso — Foto: Reprodução
Boneca que serviu de inspiração para a Barbie; e Barbia que vinha acompanhada de uma balança de peso — Foto: Reprodução

A "Barbie Babysitter", por exemplo, vinha com seu próprio livro intitulado "Como perder peso", que dava a resposta: "Não coma!" Em 1965, a "Barbie Pijama Party" foi lançada com uma balança como acessório, na qual a boneca de 1,75 metros de altura pesava apenas 50 quilos.

Esses são apenas dois exemplos que ilustram o impacto que a Barbie teve nas gerações de mulheres, deixando traços de vergonha corporal. Mesmo décadas depois, em 2006, um estudo revelou que meninas entre seis e oito anos que brincavam com a Barbie estavam mais insatisfeitas com seus corpos. Elas se sentiam pressionadas a serem magras. Em comparação, as meninas que não brincavam com a Barbie tinham uma imagem corporal menos negativa.

Barbie como um modelo branca e sem diversidade

Logo após o lançamento da primeira Barbie, em 1967, foi lançada a primeira Barbie afro-americana. No entanto, ela era basicamente idêntica à Barbie branca, apenas com a pele negra – o que gerou muitas críticas.

Nos anos 1990, a popularidade da Barbie diminuiu e a Mattel se viu obrigada a mudar algo. Barbie ganhou novas profissões – policial, presidente e empresária – e começou a se afastar um pouco de seu estereótipo de gênero. No entanto, ela continuava sendo branca, magra e não tinha deficiências em nenhuma das suas profissões. Mas, Barbie pretendia ser um modelo para todas as meninas. Em 1997, foi lançada a primeira Barbie em cadeira de rodas, mas ela não cabia pela porta da Casa dos Sonhos da Barbie. Bem intencionada, mas mal executada.

Por que um filme sobre Barbie não funcionaria em 2014

Pelos motivos mencionados acima, até 2014, Barbie era principalmente uma figura problemática. No entanto, o estúdio de produção Sony já estava interessado em fazer um filme sobre Barbie desde aquela época. Após o sucesso de "The Lego Movie", eles esperavam obter grande sucesso comercial com a Barbie também.

A Sony queria um filme não-convencional com Amy Schumer no papel principal. Mas a roteirista Diablo Cody (de "Juno"), que trabalharia no filme da Barbie na época, revelou em uma entrevista recente para a revista GQ por que não deu certo: a sociedade e até mesmo a própria Barbie ainda não estavam prontas.

Lembramos que, em 2014, Barbie ainda era o alvo de muitas feministas. A cor rosa, maquiagem excessiva e brilho representavam a conformidade com o patriarcado – mas hoje isso mudou. Graças a movimentos do TikTok, como a "bimboficação", surgiu uma nova compreensão de feminismo. Roupas cor-de-rosa e aparência estereotipadamente feminina agora também representam uma feminilidade libertadora.

Além disso, as feministas de hoje compreendem que não devemos tornar outra mulher nosso "inimigo". Essa mudança também é percebida por Diablo Cody: "Se você procurar por 'Barbie' no TikTok hoje, encontrará uma maravilhosa subcultura que celebra o feminino". A sociedade mudou – e Barbie também.

Mattel tenta diversificar Barbies

Após o ano de 2014 e o fracasso de um filme sobre a Barbie, finalmente chegou o momento: as vendas das bonecas Barbie fizeram com que a Mattel arrecadasse menos de um bilhão de dólares pela primeira vez em um ano. Somente entre 2012 e 2014, de acordo com o jornal britânico The Guardian, as vendas da Barbie caíram 20%. A boneca estava considerada "desatualizada" e presa no passado aos olhos de muitas pessoas.

A Mattel se viu obrigada a tomar medidas. Em 2015, lançou a primeira linha diversificada de Barbies chamada "Fashionista". As bonecas tinham cores de cabelo, tons de pele e corpos diversos. Finalmente, uma Barbie "curvilínea", que não era tão magra. Também foram lançadas várias Barbies inspiradas em heroínas reais diversas, como a pintora Frida Kahlo ou a matemática Katherine Johnson.

Mattel lança novas bonecas inclusivas, incluindo a primeira Barbie com aparelhos auditivos  — Foto: Divulgação/Mattel
Mattel lança novas bonecas inclusivas, incluindo a primeira Barbie com aparelhos auditivos — Foto: Divulgação/Mattel

Em 2020, surgiram uma Barbie em cadeira de rodas, que até mesmo se encaixava na Casa dos Sonhos da Barbie, e uma Barbie com uma prótese na perna. Em 2022, foi lançada a primeira Barbie baseada em uma mulher trans (Laverne Cox). E em 2023, foi apresentada a primeira Barbie com síndrome de Down.

Finalmente, Barbie estava caminhando na direção certa. Ela não era mais apenas um ideal. No entanto, antes de 2023, provavelmente não se chamaria Barbie de feminista.

O último passo para a emancipação de Barbie

Então, o que é necessário para solidificar o papel de Barbie como um ícone feminista? Embora Barbie tenha se diversificado nos últimos anos, sua imagem como uma boneca problemática ainda não desapareceu completamente. Um filme sobre a Barbie não pode ignorar suas antigas problemáticas de forma alguma. Isso significa que a Barbie precisa ser desconstruída. E é aí que o filme de Greta Gerwig entra em cena.

Já no trailer, o filme "Barbie" explica que é perfeito tanto para pessoas que amam a Barbie quanto para aquelas que a odeiam. Ficou claro que "Barbie" não se leva totalmente a sério e mostra que as antigas bonecas realmente não têm lugar no mundo real.

Ao mesmo tempo, o filme enfatiza os aspectos positivos de Barbie: sua bondade e prestatividade, seu otimismo, seu senso de moda – e, acima de tudo, sua capacidade de mudar. De repente, Barbie se torna um ícone. Ela reconhece seus erros, aprende com eles, muda e ainda permanece fiel a si mesma. Ela é uma mulher independente de seu parceiro, escreve sua própria história e, mesmo assim, usa o vestido mais bonito e brilhante na festa.

Barbie, live-action — Foto: YouTube
Barbie, live-action — Foto: YouTube

A Barbie feminista é um paradoxo?

Barbie passou por uma incrível transformação ao longo das décadas. No entanto, ainda existe um paradoxo em relação à Barbie. Por um lado, a maioria das Barbies vendidas ainda são bonecas magras, brancas, com estilo de moda e um namorado. Uma vez que essas bonecas ainda geram a maior parte das receitas, é provável que nunca sejam retiradas do mercado. Parece que a empresa não se importa em propagar um suposto ideal que é inatingível.

Por outro lado, Barbie é supostamente um símbolo de liberdade de escolha – o slogan da boneca é "Você pode ser tudo o que quiser!" Pessoas da comunidade queer, por exemplo, puderam ter suas primeiras experiências com a Barbie, como a sensação de ver Ken vestindo as roupas da Barbie – e vice-versa.

Portanto, Barbie é um paradoxo ambulante. Ela é tóxica e libertadora ao mesmo tempo. No entanto, apesar da expectativa pelo filme "Barbie", Diablo Cody nos lembra: "Eles estão vendendo brinquedos com esse filme". No final das contas, apenas o conceito de uma Barbie feminista é mostrado – a própria Barbie ainda é um produto.

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