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Por Beatriz Silva (chamadebi4)

Aproveitando o gancho do Dia Mundial da Dança, comemorado no dia 29 de abril, neste ano, aconteceu novamente o Red Bull Dance Your Style, competição global de danças urbanas - desta vez, com a brilhante curadoria de Raquel Cabaneco, dançarina, modelo e coreógrafa do Djonga.

Mineira de Belo Horizonte, filha de pais naturais de Guiné-Bissau, Raquel é uma das figuras mais relevantes no cenário da dança nacional. É criadora do conceito chamado Afro em Foco, uma proposta de experiência que busca entender a responsabilidade de pulsar o lado mais vibracional, energético, sensorial e ��ntimo que a corporalidade pode proporcionar, desenvolvendo uma intensa busca pela cura e reconhecimento através do movimento.

Em um bate-papo com a Glamour, a dançarina conversou sobre sua relação com essa forma de arte o cenário nacional da dança. Confira:

1 - Como você entrou em contato com a dança?

Sempre que as pessoas perguntam qual foi o meu primeiro contato com a dança, me vem essa primeira história na cabeça - que é a cena de eu ver os meus pais sempre cantando e dançando músicas do país deles. Enfim, eu cresci muito nesse contexto, em uma casa que já tinha muita arte ali, já que meus pais cantam, tocam, dançam. Meu pai já fez teatro e já liderou alguns grupos de dança também. Então, o meu contexto inicial é assim: bem pequena, com oito, nove anos de idade, vendo meus pais nesse lugar artístico, que envolvia música, dança e culinária africana.

Meu segundo contato com a dança foi através de um projeto da igreja, quando eu tinha oito anos. Meus pais são cristãos e tinha um projeto de dança na igreja de dança urbanas que eu frequentava com eles. Em 2004, eu tive esse primeiro contato com a dança de rua. Eu comecei a entender o que era a cultura hip hop e quais eram os movimentos que aconteciam na cidade. Eu ainda estava em um contexto religioso ali, mas consegui ter um contato muito fiel à cultura, sabe? E aí, depois disso, é o projeto social.

Dança e movimento Hip Hop: conheça a dançarina Raquel Cabaneco — Foto: Tauana Sofia / Red Bull Content Pool
Dança e movimento Hip Hop: conheça a dançarina Raquel Cabaneco — Foto: Tauana Sofia / Red Bull Content Pool

2 - O que a dança significa para você?

Voz. Sempre me vem essa palavra, e acho que vai ser por um tempo assim. Porque é a ferramenta que uso para me comunicar, me conectar com as pessoas e para me curar também de algumas coisas. Nós, pessoas pretas, não fomos ensinadas a falar, a se escutar, a se proteger, e se cuidar em relação a alguns atravessamentos. Então, a dança me trouxe esse lugar também, de eu conseguir falar, expor coisas, situações que sempre foram muito difíceis para eu lidar e que eu não aprendia como processor de uma forma sadia e leve.

Então, a dança é esse caminho também para mim, de compartilhar coisas em que acredito e esse lugar de cura muito forte.

3 - Qual o maior desafio que você enxerga nesse distanciamento da cultura hip hop com a dança? Porque, hoje, a gente fala de cultura hip hop e as pessoas entendem que é rap e esquecem um pouco das girls, dos boys. Como você enxerga isso?

Um grande dilema, né? Nossa, é algo que eu tenho questionado faz uns anos já. Como esse cenário vem se transformando e no que ele vem se tornando? Como é que as pessoas têm acesso a esses lugares ainda de uma forma mais legítima? Eu acho que a gente precisa continuar batendo na tecla de entender que que a cultura hip hop tem um propósito, sabe? Para além dos desvios, para além da grana - porque a gente quer, sim, ser monetizado pela nossa arte, pelo nosso trabalho. Se você voltar lá atrás, vai entender que era uma forma de salvação. Era uma forma de você tirar 300 pessoas, 300 adolescentes, da criminalidade, da marginalidade, do abuso sexual, da escravidão. A cultura hip hop surgiu para amparar pessoas pretas de uma forma legítima, artística e ancestral. É isso. Só que, hoje essa coisa tem virado um outro lugar.

Eu gosto muito desse lugar mercadológico, tanto que trabalho hoje com dança e me sustento por ela, então não estou aqui como uma pessoa que está criticando. . Mas eu acho que a gente precisa saber discernir de forma correta o que é um trabalho e até onde eu posso usar aquilo, que é minha cultura, uma ferramenta, e uma construção que se deu e que todo mundo contribuiu para que acontecesse. É até onde você precisa pensar para além do dinheiro?

Dança e movimento Hip Hop: conheça a dançarina Raquel Cabaneco — Foto: Tauana Sofia / Red Bull Content Pool
Dança e movimento Hip Hop: conheça a dançarina Raquel Cabaneco — Foto: Tauana Sofia / Red Bull Content Pool

4 - E como está sendo a experiência de ser curadora e ter contato com outros dançarinos?

Essas experiências que estou tendo na curadoria do Red Bull Dance Your Style tem esse lugar de me enxergar dentro da arte. Eu consigo enxergar e antecipar, por exemplo, necessidades e coisas que eu sei que são indispensáveis para determinada coisa acontecer. Nesse contexto em que estou por trás das cortinas, percebo que a logística é interessante de ser vista, desenvolvida. Tudo o que a gente constrói de briefing, de pessoas que a gente vai convidar, é tudo muito bem pensado. E temos muitas opiniões também - o que ajuda a entender o nosso público, que é diverso. Então, assim, eu costumo dizer que o Red Bull Dance Your Style é um grande desafio tanto para quem está construindo, que somos nós que estamos trazendo agora isso para o Brasil e tentando construir esse cenário aqui, quanto para as pessoas que são convidadas, o público que assiste e as que fazem parte das seletivas para poder batalhar. Eu sempre gostei de desafio, então estou gostando e me aventurando.

5 - Como dançarina profissional, como você vê a popularização da dança nas redes sociais?

Minha construção como dançarina começou na internet, porque foi por meio dela que me conectei com os dançarinos para poder procurar algumas informações que não chegavam tão diretamente para mim. Foi um meio que usei bastante e que ainda uso. Mas, assim como a cultura hip hop, acho que tem se perdido em algumas coisas.

Eu tenho exemplos de pessoas que produzem conteúdos ótimos - o que super ajuda, sim, a chegar em lugares sem acesso à dança. Mas, ao mesmo tempo, tem muita coisa que a gente precisa filtrar, porque hoje tudo é muito atrativo, o que pode levar a uma reprodução de várias coisas que já estão aí em vez do processo criativo mesmo, que você vê o resultado depois. Acho que é muito esse lugar de manter um equilíbrio, de entender que você pode produzir ou reproduzir um conteúdo, mas qual é a sua intenção? O que você está querendo com isso?

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