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Por Renata Telles (@renatatelles)


Potência máxima! Uma das grandes atrizes da atualidade, Leticia Colin consegue deixar o público sem fôlego a cada papel que interpreta. Depois de ser aclamada na série original Globoplay Onde Está Meu Coração (ela chegou a ser indicada ao prêmio de Melhor Atriz no Emmy Internacional 2022), a artista está de volta como a grande vilã Vanessa, em Todas as Flores, exibida na mesma plataforma digital de streaming.

Leticia Colin — Foto: Bel Corção
Leticia Colin — Foto: Bel Corção

"Os brasileiros adoram vilãs, né? A gente tem grande vilãs da nossa história, é uma tradição. Então me sinto muito honrada de participar do rol das vilãs de João Emanuel [ Carneiro]. Acho que para toda atriz é importante pegar uma personagem com tantas possibilidades, porque a Vanessa, com a sua falta total de ética, moral, senso de coletividade e extremamente egoísta, é uma personagem que vai a muitos lugares em nome do poder, do dinheiro", diz em entrevista à Glamour.

Mas não para no streaming não. Leticia também está nas telonas como Mari, no filme A Porta ao Lado. Dirigido por Julia Rezende, o longa traz a história do encontro dos casais Rafa (Dan Ferreira) e Mari (Letícia Colin), que vive um casamento monogâmico e estável, e Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara Paz), que mantém uma relação aberta. A proximidade com os novos vizinhos desperta em Mari uma série de desejos e dúvidas, e o encontro dos quatro faz com que todos repensem suas escolhas.

"Acho que é um tema que a gente investiga há muitos anos e vai seguir investigando. O amor, o relacionamento, a união, o afeto, o desejo, tudo isso nos move. A gente continua precisando amar e querendo se conectar", diz. Casada com o Michel Melamed e mãe de Uri, de 3 anos, Leticia não toparia viver uma relação aberta. "Não, não vivi e não sei, mas já começamos a ouvir relatos de que é possível, que é eterno enquanto dura, assim como o relacionamento monogâmico", dispara.

Acompanhe a entrevista completa abaixo, onde a atriz também fala sobre os 25 anos de carreira e a sua relação com as redes sociais: "Não pode ser só aparência, beleza, perfeição da maquiagem e da roupa. Acho que a gente tem que trazer a verdade."

Você é uma das protagonistas de A Porta ao Lado, que estreou recentemente. Como foi dar vida à Mari, que sempre teve um relacionamento monogâmico e de repente se vê com novas possibilidades dentro do casamento? Como foi a preparação para essa personagem?

Acho que é um tema que a gente investiga há muitos anos e vai seguir investigando. O amor, o relacionamento, a união, o afeto, o desejo, tudo isso nos move. A gente continua precisando amar e querendo se conectar. Então, eu acho que foi pensar mesmo, lembrar das histórias dos amigos, além de uma grande pesquisa, feita pela própria Júlia (Rezende, diretora), com pessoas em diversas faixas etárias, investigando todos os tipos, formatos e acordos possíveis (em um relacionamento). E as nossas próprias experiências vão para a mesa quando a gente faz qualquer personagem, a partir das minhas memórias e sensações que eu me conecto ou me aproximo de algum personagem.

Temos falado com muita intensidade sobre relação aberta, então acho muito justo que tenha um filme que investigue isso, dirigido pela Julia Rezende, que é uma mulher e artista com uma trajetória muito delicada e muito consistente no cinema, para pensar toda essa subjetividade e esse ponto de partida da mulher nas histórias, com protagonistas femininas. Desde ponte aérea nós conversávamos sobre continuar essa investigação e acho muito belo que a gente tenha um filme como esse, que coloca a Mari como essa protagonista que está parando para pensar se é essa mesmo a vida que ela quer continuar levando. Ela se viu automatizada naquela relação e, de repente, por conta desse casal que se muda para a porta ao lado, ela para pra pensar se é isso mesmo que ela quer continuar escolhendo para a vida dela, porque é uma escolha diária.

Teve algum momento que te marcou no filme? Qual e por quê?

Com certeza a sequência que a mulher leva para cama o vibrador e que ela é tão rechaçada, criticada e julgada pelo marido, e se sente até humilhada por ter trazido um sex toy. Ele, na verdade, se sente muito ameaçado com aquilo e ela se sente frustrada, humilhada e exposta por ter proposto isso. Acho que é uma cena importante para falar desse nosso desejo e novos territórios de prazer e de sensação, e de quanto ainda é difícil porque o patriarcado, o desejo masculino sempre dominaram e tolheram todas nós. Acredito que muitas pessoas teriam relatos parecidos com esse, de homens que se sentem intimidados com algum mecanismo de prazer externo, como um vibrador ou uma pornografia, quando proposto pela mulher, não pelo homem. É um retrato bem atual ainda do quanto a gente precisa avançar para combater e tratar, da raiz até a superfície, o machismo que está enraizado em todos nós.

Leticia em cena com Dan Ferreira — Foto: Desiree do Valle
Leticia em cena com Dan Ferreira — Foto: Desiree do Valle

A história fala sobre relacionamento aberto. Você já viveu algum, viveria um?

Não, não vivi e não sei, mas já começamos a ouvir relatos de que é possível, que é eterno enquanto dura, assim como o relacionamento monogâmico.

Acredita que ainda haja muito preconceito em relacionamentos abertos, especialmente se você for mulher?

É acho que essa pergunta tem um pouco a ver com o que eu falei na anterior... Eu acho que sim, as pessoas têm dito que sim. Acho que sempre vai ser trabalhoso se relacionar, e o filme mostra muito isso, que não tem uma solução mais fácil. A escolha de se relacionar é uma escolha de uma caminhada que exige coragem, ajustes, paciência, recalcular rota algumas vezes, pausar, reavaliar, olhar, abrir mão de algumas coisas, investir em outras, se desafiar. Tudo tem trabalho envolvido, tudo exige um esforço, esta é a constatação.

Você está no auge da carreira, brilhando no cinema, de volta com a nova temporada de ��Todas as Flores”, foi indicada ao Emmy… Como vê a sua trajetória na arte quando olha para trás?

Ah muito feliz, né? É um momento muito bonito, de 25 anos de carreira. Eu trabalho desde pequena com muito investimento dos meus pais – investimento afetivo que eu digo, de amor, de tempo, de disponibilidade, de atenção, de encorajamento, de acolhimento. Então sou muito grata a eles por terem me incentivado desde o início a desenvolver um talento, por estar perto da arte, da cultura, da literatura, do pensamento, do teatro, da música, que com certeza me deram muito mais instrumentos para viver a vida de um jeito mais pacífico, mais humanizado, mais potente também. Tenho celebrado muito assim, acho que talvez por ser mãe também agora, né, tenho muita gratidão pelo que eles fizeram por mim e também afirmando toda essa coisa incerta e misteriosa que é a carreira do artista, porque eu acho que tem a ver com sorte também, com acaso. Eu amo muito minha profissão, tenho um respeito muito grande pelo meu ofício. Estou feliz, pensando nas próximas histórias que eu vou contar (risos), querendo saber qual personagem vai me encontrar e fazendo movimentos também de projetos que eu tenho vontade de participar ali da gênese também. É um momento bonito.

Leticia Colin — Foto: Bel Corção
Leticia Colin — Foto: Bel Corção

Todas as Flores está de volta com muitas maldades de Vanessa, como é ‘ser tão odiada’ nas ruas? (Risos) Porque essa personagem é bem diferente da Mari. Foi o papel mais ‘intenso, ‘pesado’, até agora?

Os brasileiros adoram vilãs, né? A gente tem grande vilãs da nossa história, é uma tradição. Então me sinto muito honrada de participar do rol das vilãs de João Emanuel. Acho que para toda atriz é importante pegar uma personagem com tantas possibilidades, porque a Vanessa, com a sua falta total de ética, moral, senso de coletividade e extremamente egoísta, é uma personagem que vai a muitos lugares em nome do poder, do dinheiro. É um salto muito ousado que cruza todas as fronteiras de sensibilidade que a gente conhece.

Esse é um exercício interessante e importante de ser feito na arte, de a gente deslocar para a fantasia os nossos valores. Porque a gente pode viver a nossa fantasia mais escondida, essa sede de poder e manipulação, que é humano ter, mas que a gente experimenta e cuida. A gente acaba fazendo um exercício terapêutico de se conectar com as maldades da Vanessa na novela, de gostar dela, de torcer por ela, de um lugar seguro onde a gente pode viver o nosso pior lado também, mas acho importante o nosso inconsciente lembrar o quanto isso é risível, patético, destrutivo e errado.

Você recebe muito feedback pelas redes? Internautas amando ou odiando suas personagens? Como reage?

Ah, o carinho das redes é incrível e o bom humor também. A internet é um lugar fantástico para a gente poder ver as falas dos personagens que grudam na gente, que viram meme. As pessoas reconhecem o trabalho até por comparação. Eu estava agora no ar com “Onde está meu coração”, uma série em que eu interpreto uma médica, que tem um outro registro dramatúrgico de atuação, de linguagem, é uma série de 10 episódios, um drama muito realista, e aí as pessoas lembram dos outros personagens, trazem Leopoldina, às vezes até misturam falas da Imperatriz, que era uma figura tão bondosa, tão amorosa, que sofreu tanto, com a Vanessa, essa figura tão desencapada, egóica. É bonito ver como as pessoas reconhecem essa capacidade de mudar de um personagem para o outro. Elas gostam disso, torcem por isso.

Acho que o nosso povo é um povo que sabe ver novela, sabe viver dramaturgia. Eu fico muito honrada de ser assim abraçada pelo público brasileiro, porque nós somos exigentes e a gente está acostumado com grandes atuações. Eu me sinto bem prestigiada.

Leticia com o marido Michel Melamed e o filho Uri — Foto: Reprodução/Instagram
Leticia com o marido Michel Melamed e o filho Uri — Foto: Reprodução/Instagram

Aliás, como é a sua relação com as redes? Porque ela também pode ser tóxica, a gente se compara, fica mal com comentários….

Acho que a gente ainda está aprendendo a como lidar com isso tudo sem adoecer, sem se julgar, sem se diminuir, e de fato buscando o contato real e concreto num ambiente que é totalmente virtual. Acho que é um caminho de investigação, mas eu gosto de me sentir próxima das pessoas que querem meu bem, que curtem meu trabalho, de poder mostrar os bastidores e a pessoa poder entrar um pouco ali como aquela mosquinha na Torre de Marfim. É isso que eu gosto de fazer com as pessoas que eu admiro também, adoro ver making of, behind the scenes. Eu gosto desse lado da internet, de a gente poder mergulhar e entender um pouco mais como é que funciona essa caixa mágica ali e de desmistificar, porque nós somos imperfeitos, tem dias que são difíceis, e a gente vive num mundo muito desigual e injusto, então é lembrar e trazer isso para as pessoas. Acho que não pode ser só aparência, beleza, perfeição da maquiagem e da roupa. Acho que a gente tem que trazer a verdade.

O Uri tem apenas 3 anos e há crianças atualmente que com 1 ano sabem ‘mexer’ num iPad. Ele já teve algum contato com essa tecnologia ou prefere cultivar brincadeiras ao ar livre, por exemplo?

Ah, a gente já sabe que vai ser uma empreitada, como de todos os cuidadores contemporâneos, conseguir primeiro selecionar os conteúdos, proteger dos conteúdos agressivos, ofensivos, poder estar ali de perto selecionando e ajudando a escolher. Porque acesso sabemos que eles vão ter, mas é uma responsabilidade. A gente mora no Rio de Janeiro, que é uma cidade que tem muitos programas e muitas belezas naturais, então ele gosta e a gente também incentiva ir ao Jardim Botânico, Parque Lage, mas obviamente ele já adora os desenhos. Ele já sabe os canais, já sabe mexer no controle, de vez em quando surrupia o celular e tenta colocar no YouTube para assistir aos vídeos. Então já tem uma rapidez e uma inteligência para abrir os aplicativos, clicar e tudo mais, mas a gente estabelece sempre horários fixos para assistir, com o tempo determinado, o conteúdo determinado, para proteger. E para estimular, a gente também é muito adepto dos livros, acho que é uma das coisas que ele mais tem. A gente realmente lê muito com ele, conseguimos ficar ali uma hora, uma hora e meia lendo várias histórias, para desenvolver desde cedo a concentração, a dedicação, a paciência de descobrir a história aos poucos, e ele adora. Então tem que compensar, mas acho que é desafiador para todos nós, todos os pais e cuidadores.

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