Carreira & Dinheiro
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Por Por Nathalia Fuzaro; Ilustrações Taís Geburt


Pois é, nos últimos meses, você ou alguém que conheça provavelmente teve a jornada de trabalho e o salário reduzidos, ou perdeu o emprego, ou teve o negócio próprio prejudicado. A Organização Internacional do Trabalho das Nações Unidas estima que, só no segundo trimestre de 2020, o número de horas de trabalho perdidas em todo o mundo seja equivalente a 400 milhões de empregos em período integral. “Profissionais e empresas estão precisando se reinventar para sobreviver e voltar a crescer. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, 53,5% das famílias brasileiras foram afetadas pela pandemia e 67,4% dos trabalhadores formais estão fazendo home office. Isso traz mudanças profundas no comportamento e na relação com o trabalho”, diz Flora Victoria, mestre em psicologia positiva e autora do livro O Tempo da Felicidade (HarperCollins, R$ 39).

Como a pandemia mudou a nossa relação com o trabalho (Foto: Ilustrações Taís Geburt) — Foto: Glamour
Como a pandemia mudou a nossa relação com o trabalho (Foto: Ilustrações Taís Geburt) — Foto: Glamour

Traduzindo: fomos/somos obrigados a sair do piloto automático. “Situações que fogem do nosso controle tendem a nos fazer pensar se estamos vivendo como gostaríamos ou terceirizando responsabilidades. Afinal, a vida não pode se resumir a pagar boletos”, explica Marília Cardoso, sócia da consultoria de inovação e gestão PALAS. Sentido e felicidade são palavras-chave que ajudam na busca pelo trabalho somado àquela palavrinha mágica desses tempos, o propósito. “Essa busca faz parte da nossa história há pelo menos 250 anos, mas as mudanças atuais nas relações trabalhistas intensificaram este movimento”, explica Mônica Barroso, coach e líder do curso Ressignificando Seu Propósito com o Trabalho, na The School of Life.

Pandemia, e agora?

Ao adicionarmos a esse cenário os elementos desafiadores (para dizer o mínimo) da pandemia – desemprego, redução da receita, vida em perspectiva, busca por qualidade de vida, realização –, entendemos o quê? “Que temos uma geração que não se contenta apenas em ter um emprego, com remuneração e segurança, mas que busca de fato agregar. Na pandemia, algumas atividades tiveram maior destaque pela importância na contribuição social, como enfermeiros e garis”, diz Gabriela Mative, superintendente de RH da Luandre Soluções em Recursos Humanos. Nestes casos, o propósito está diretamente atrelado ao emprego. “Quando o bem maior do trabalho fica visível, é natural que haja maior reconhecimento externo e interno”, explica Mônica.

Mudança de hábito

Também vimos a ascensão do plano B, que começou a sair do papel e se tornar uma segunda fonte de renda. Caso de Mariana Pires, gerente de marketing da New Balance. Entusiasta da prática esportiva e formada em comunicação, ela encontrou no personal branding uma forma de conciliar outras coisas que ama: gestão de marca e motivação. “Eu gero valor aos outros, o que acaba retornando para mim. Estou aproveitando a flexibilidade da quarentena para fomentar projetos paralelos”, conta. Algo parecido aconteceu com a consultora de imagem, influencer e, agora, florista Camila Pavan. “Gostava do que fazia, mas estava sempre buscando algo que me preenchesse. Com a pandemia, sem poder trabalhar com as clientes, resolvi alegrar a minha casa com flores”, conta. Ao compartilhar os arranjos, eles caíram no gosto dos amigos e, assim, nasceu a Camélia Studio Floral. “Trabalhar com paixão faz com que você tenha mais carinho pela rotina e mais qualidade de vida.”

Trabalho ressignificado (Foto: Ilustração Taís Geburt) — Foto: Glamour
Trabalho ressignificado (Foto: Ilustração Taís Geburt) — Foto: Glamour

Mas, nessa onda de empreendedorismo pauta do pelo propósito, nem tudo são flores, né, Camila? “É muito gratificante, mas não é mais confortável que ter um emprego. Você se preocupa muito mais, dorme muito menos… Porém, é um tesão!” Para Marília Cardoso, num futuro próximo, todos seremos uma empresa e teremos que gerenciar as nossas receitas e despesas, a captação de clientes, a entrega dos produtos... “Sempre há alguém disposto a pagar pelo que você faz de melhor. O problema é que nós fomos educados para termos empregos, e não para sermos empreendedores.”

Ainda acha esse papo meio romântico? “Quem fala que trabalhar com propósito é idealista desconhece o seu ou até sabe qual é, mas tem preguiça de correr atrás”, rebate Mariana. Ai! “Trata-se de encontrar sentido, de entender o impacto positivo do que você oferece na vida de outras pessoas. E isso nem sempre implica em largar tudo para perseguir um sonho”, explica Flora. Como, afinal, descobrir o seu propósito e dedicar tempo e energia a ele é outro assunto. O que dá para começar já é investir em autoconhecimento por meio de cursos, livros, meditação, coaching… “Estamos vivendo a mudança na sua plenitude. O que está ao nosso alcance é honrar as nossas escolhas individuais a cada dia, a partir do que não é mais aceitável e o que sustenta o nosso lugar de potência”, conclui Mônica. É isso!

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