Amor & Sexo
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Por Raquel Drehmer


Cena do filme "A Garota Dinamarquesa" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Cena do filme "A Garota Dinamarquesa" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Já canta Lulu Santos, desde 1983, em “Como uma Onda”: tudo muda o tempo todo no mundo. Ele está certo. Tudo muda, inclusive nós mesmos e nossos relacionamentos. “As pessoas e suas condições e necessidades estão em constante mutação, o relacionamento precisa acompanhar isso. Toda relação está sempre em construção e pode ser melhorada. As mudanças são necessárias”, explica a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, especializada em felicidade e desenvolvimento de adultos.

Mas pode acontecer de haver momentos em que a vontade é de mudar o relacionamento além desse movimento natural da vida. Ou mesmo de alterar características do parceiro. Será que vale a pena se esforçar nesse sentido?

No limite da felicidade
Se for pensando em um bem maior, vale a pena, sim. “Querer mudar o outro para que ele seja mais feliz é uma boa. Se for alguém que gaste muito, dar um toque para ele ser mais econômico, para assim vocês conseguirem realizar seus sonhos. Ou então, em outro caso, pedir que ele trabalhe menos ou saia menos com os amigos para passar mais tempo em casal e fortalecer o relacionamento”, exemplifica Angelita.

Janaína Cruz, psicóloga clínica que realiza estudos em psicologia analítica com ênfase em relacionamentos e desenvolvimento pessoal e emocional, acredita que também é válido tentar que o parceiro enxergue o relacionamento pela ótica de quem quer mudanças. “Sempre vale a pena mudar o ponto de vista, ampliar a compreensão a respeito de nós mesmos, para que o relacionamento vá se firmando em bases mais sólidas e reais”, afirma.

Ela continua: “Não adianta esperar que o outro adivinhe nossos desejos e satisfaça nossas mais íntimas vontades. Há que se dialogar e fazer acordos para que conflitos sejam minimizados e a compreensão mútua seja constituída”.

“O desafio”, complementa Angelita, “é que duas pessoas diferentes consigam conciliar suas alegrias, decepções, tudo. Identificar, enfrentar e resolver problemas do casal. A mudança é saudável e vale a pena quando os dois querem mudar pelo bem do casal”.

Murro em ponta de faca
Já querer e insistir para que o outro mude sua personalidade ou seu comportamento apenas para que o jeito dele se encaixe em seus moldes e caprichos é caso perdido. “Não adianta querer passar por cima da individualidade do outro. Nunca dá certo em médio e longo prazo”, garante Angelita. Janaína concorda: “Personalidade é tudo aquilo que caracteriza uma pessoa em sua singularidade. Querer mudar isso pode ser tarefa impossível e, eu acrescentaria, cruel”.

Também não vale a pena insistir em mudanças pelo bem do casal e do relacionamento se o outro visivelmente não está a fim. “Caso ele não se mostre disposto ou comprometido com melhorias para o casal, é melhor não desperdiçar energia. Será um esforço em vão, que não terá bons resultados e só desgastará os dois”, observa Angelita.

Projeção e a fantasia da mudança
A insistência além do recomendável em mudanças no relacionamento ou no par nasce, principalmente, por teimosia em manter uma idealização que se tenha feito no começo da relação. “Todos os relacionamentos são constituídos, pelo menos em um primeiro instante, por projeções. Esperamos que o outro aja e pense de acordo com a nossa imagem projetada, o que não acontecerá 100% do tempo”, esclarece Janaína.

Com o dia a dia, essas projeções vão se desfazendo e depara-se com a realidade: a pessoa é diferente daquilo que foi fantasiado. “É uma pessoa real, com defeitos, vontades, falhas e limites”, pontua a psicóloga clínica. E, como ressalta Angelita, “quando se decide ficar com uma pessoa, aceita-se o pacote inteiro”.

Ainda no campo da projeção, Angelita destaca que muitas mulheres carregam em si um desejo intenso de salvar o homem com a força do amor. “É uma fantasia que a indústria cultural nutre na nossa sociedade. Há mulheres que acreditem ter o poder de resgatar e mudar o outro. Mas o amor só muda alguém se esse alguém quiser. Não se resgata quem não queira ser resgatado”, insiste.

Conforme mencionado no início deste texto, a relação amorosa é uma construção. E, como toda construção, pode não dar certo. “Quando ela apresenta falhas em suas estruturas e se esgotam os recursos para que sejam feitos reparos e ajustes, aceitar seu fim pode ser mais saudável e inteligente do que continuar a obra e tudo desmoronar, cedo ou tarde, na própria cabeça”, finaliza Janaína.

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