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Por Nívia Passos (@niviapassos)

Nós, humanos, somos cheios de complexidades. De erros e de acertos que mostram que, no fim das contas, nem todo mundo é bom ou mau. Mas, em um mundo maniqueísta, não existe um meio termo entre os dois pólos. Não tem jeito: ou você tem luz ou tem sombras, e suas escolhas e atitudes ao longo da vida vão dizer em qual dos extremos você estava. Fatalista demais pensar desse jeito, mas, se tem quem acredite em verdades absolutas sobre personalidades na vida real, não é de se espantar que o mesmo aconteça no mundo da ficção e da literatura.

No entanto, a fim de explorar as diferentes camadas que compõem o simples fato de existir, existem autores que colocam a simpatia do público em risco para abordar narrativas conduzidas por anti-heróis. Seja pelos pensamentos que a narração em 1ª pessoa entrega ou por atitudes que nem o próprio escritor consegue defender. Você já foi impactada por alguma história desse tipo? Se ainda não, confira nossa lista com 5 opções de leitura:

1 - “Precisamos falar sobre o Kevin”, de Lionel Shriver (2003)

"Precisamos Falar Sobre o Kevin" (Editora Intrínseca) — Foto: Divulgação
"Precisamos Falar Sobre o Kevin" (Editora Intrínseca) — Foto: Divulgação

Pode uma mãe não amar o próprio filho? Esse é o principal questionamento de “Precisamos Falar Sobre o Kevin” da autora Lionel Shriver, que também virou filme dirigido por Lynne Ramsay e estrelado por Tilda Swinton e Ezra Miller em 2011.

Escrito em forma de cartas, que mais funcionam como uma confissão ao papel, a personagem que sugestivamente se chama Eva - nome da mulher que, segundo a Bíblia, cometeu o pecado de comer o fruto proibido - questiona se a falta de afeto que sempre sentiu pelo filho fez com que ele se transformasse em um psicopata responsável pela morte de 11 pessoas.

Com uma narrativa instigante e a escrita pungente de Shriver, o livro questiona o mito da maternidade idealizada e faz com que o leitor, no meio de tantos erros e acertos, entenda a angústia da personagem.

2 - “Segredos de Família”, de Liane Moriarty (2022)

"Segredos de Família" (Editora Intrínseca) — Foto: Divulgação
"Segredos de Família" (Editora Intrínseca) — Foto: Divulgação

O novo livro de Liane Moriarty, a mesma autora de “Big Little Lies”, segue com a proposta de expor que nem tudo é tão perfeito quanto parece - nem mesmo a família de um casal de tenistas que parece ter nascido um para o outro. Além das questões particulares de cada um dos três filhos e da atitude questionável de Stan Delaney, de simplesmente desaparecer por horas ou dias quando surge algum conflito, Joy Delaney, a mãe e esposa, também tem segredos que vão contra à fidelidade esperada de uma matriarca perfeita.

Em uma narrativa que mistura passado e presente, o livro é repleto de reviravoltas que fazem com que o leitor não consiga desgrudar da página antes do final - ainda que o caminho até o desfecho e as diferentes facetas dos personagens sejam mais interessantes que a resolução em si.

3 - “O Primeiro Dia da Primavera”, de Nancy Tucker (2021)

"O Primeiro Dia da Primavera" (Verus Editora) — Foto: Divulgação
"O Primeiro Dia da Primavera" (Verus Editora) — Foto: Divulgação

Chrissie, a protagonista, tem 8 anos e um segredo assombroso: acabou de matar um menininho. Enquanto os amigos estão tristes e as mães aterrorizadas com o acontecimento, ela sente uma sensação de poder que se reflete na barriga que “borbulha como um refrigerante”.

Quase 20 anos depois, ela muda de endereço e também o nome: Chrissie agora é Julia, e tenta ser uma boa mãe para a filha Molly, de apenas cinco anos. Mas, enquanto tenta organizar o próprio caos para atingir esse objetivo, ela passa a receber telefonemas ameaçadores que prometem expor o tenebroso passado que tanto tenta esconder - e que poderia trazer como consequência a perda da guarda da filha.

Neste thriller psicológico instigante de mais de 300 páginas, o questionamento que fica é: pode alguém ser condenado para sempre pelos erros do passado ou é possível uma redenção para reescrever a história?

4 - “Os Coadjuvantes”, de Clara Drummond (2022)

"Os Coadjuvantes" (Companhia das Letras) — Foto: Divulgação
"Os Coadjuvantes" (Companhia das Letras) — Foto: Divulgação

O mais recente livro da autora carioca Clara Drummond é um romance que retrata, através de sua protagonista que conduz a história em 1ª pessoa, uma geração que mais se preocupa com a imagem que deseja passar que com atos efetivos. Assim como em seus livros anteriores - “A Festa é Minha e Eu Choro Se Eu Quiser” (2013) e “A Realidade Devia Ser Proibida” (2015) -, a autora apresenta uma protagonista que traz à luz pensamentos que nós mesmos nos recusamos a ter, o que gera uma leitura intensa e cheia de reflexões.

A história é sobre Vivian, uma jovem curadora de trinta e poucos anos que vive entre Rio e São Paulo. Com um currículo impecável e uma rede de amigos - que, assim como ela, também performam o melhor lado da elite brasileira que se julga consciente -, ela tenta abafar a tristeza, velha conhecida da infância, com status, eventos, sexo vazio e o dinheiro da família que tanto critica. Mas, quando um episódio trágico antes de uma festa faz com que sua vida se cruze com a de Darlene, a ambulante que vende cervejas em frente a seu apartamento, o mundo de Vivian ganha um contorno sombrio que faz com que ela passe a questionar a figura que acredita ser.

5 - “Morra, Amor”, de Ariana Harwicz

"Morra, Amor" (Editora Instante) — Foto: Divulgação
"Morra, Amor" (Editora Instante) — Foto: Divulgação

Com uma protagonista feminina à beira da loucura, a argentina Ariana Harwicz explora os efeitos devastadores da paixão e da ausência. “Morra, Amor” faz parte de uma trilogia involuntária, que a autora chamou de “trilogia da paixão”, por ser o primeiro a abordar a relação entre mães e filhos que também se repetiria em dois títulos posteriores - “A Débil Mental”, de 2015, e “Precoce”, de 2016. Adaptado para o teatro na Argentina e em Israel, a história arrancou elogios da crítica internacional.

A trama se passa em uma região esquecida do interior da França. A protagonista controversa aqui é uma mulher que luta contra seus demônios e os pólos opostos que a compõem: o desejo de se excluir e pertencer ao mesmo tempo; a sensação de prisão enquanto almeja a liberdade; e o apreço pela vida familiar ao mesmo tempo que deseja colocar fogo na casa.

Casada e mãe de um bebê, ela se sente sufocada com a vida em que se encontra, principalmente por conta da maternidade, onde a ideia de “levar seu coração com o outro para sempre” a apavora. Assim, com uma narrativa intensa e uma escrita que consegue trazer uma certa poesia enquanto fala do caos, o leitor se deixa conduzir pelos pensamentos mais profundos de uma protagonista complexa.

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