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Por Nívia Passos (@niviapassos)

Em meio às incertezas do período de pandemia, Mirella Façanha recebeu a oportunidade de iniciar uma nova etapa de sua carreira com o convite para protagonizar, ao lado de Bruna Linzmeyer, "Cidade; Campo" - filme de Juliana Rojas que representa o Brasil no Festival de Berlim 2024, que teve início no dia 15 de fevereiro e vai até o dia 25 do mês.

Com a carreira consolidada no teatro, estrear nas telas do cinema veio com um misto de desafio e recomeço, além de também apresentá-la uma narrativa que se encontrava com um momento que ela enfrentava na vida pessoal: " Eu havia perdido meu avô, que foi minha referência de pai, há pouquíssimo tempo, e minha personagem, a Flávia, está de luto no filme e decide se mudar para casa que herdou do pai recém falecido. São aqueles presentes que a vida te dá, sabe?", conta em entrevista exclusiva à Glamour.

Entregando para as câmeras a mesma energia que sempre levou para os palcos do teatro, para viver a personagem Flávia, a atriz focou em uma preparação onde detalhes como a respiração, jeito de caminhar e de olhar foram levados em conta - e ainda entrega que a música foi uma de suas principais aliadas: "Nas cenas mais intensas - físicas e emocionalmente - , construí um gráfico para conseguir fazer transições sutis que fizessem sentido dentro das reações da Flávia. Durante esse estudo, fui encontrando músicas que me ativassem e me convocassem para cada cena específica; meus fones de ouvido foram preciosos para mim no momento do set".

A seguir, um dia depois da estreia do longa no festival, Mirella conta como foi o convite para entrar no projeto, dá mais detalhes da preparação de sua personagem e ainda fala de seu atual momento profissional e pessoal. Portadora de esclerose múltipla, ela é só alegria ao comemorar o fato de seu estado de saúde estar controlado e por viver novas e grandes oportunidades em sua carreira: "Sabe aquela sensação de estar no lugar certo e na hora certa? É assim que me sinto. Pronta para novos desafios, desejosa por novos encontros". Confira - e inspire-se - com o papo na íntegra:

Mirella Façanha — Foto: Divulgação
Mirella Façanha — Foto: Divulgação

1 - Conte um pouco sobre como foi o convite para participar de “Cidade; Campo” e o que mais te atraiu no projeto?

O convite chegou pela Alice Wolfenson, produtora de elenco do filme, no meio da pandemia. A Juliana Rojas, diretora e roteirista do filme, conheceu meu trabalho no espetáculo ISTO É UM NEGRO?. Eu fiquei muito emocionada quando li o roteiro. Eu havia perdido meu avô, que foi minha referência de pai, há pouquíssimo tempo, e minha personagem, a Flávia, está de luto no filme e decide se mudar para casa que herdou do pai recém falecido. São aqueles presentes que a vida te dá, sabe? Fiquei muito contente de receber um convite para uma personagem tão complexa e, principalmente, cheia de humanidade; isso é um bálsamo para atrizes negras como eu. Eu sou uma grande fã da Juliana e iniciar minha carreira no cinema com ela foi a coisa mais linda que podia me acontecer.

2 - Antes de estrelar o longa, você já estava acostumada e estabelecida no teatro. Para você, qual o maior desafio de ir dos palcos para as telonas?

Assim como no teatro, acredito que para fazer um bom trabalho de atuação é preciso estar implicado naquilo que se faz; é preciso estar preenchida para que a presença cênica aconteça em sua potência. No teatro, precisamos equalizar a presença de tal maneira que chegue na plateia; no cinema, essa equalização é delicada e interna. É preciso relaxamento e um olhar presente para convidar a câmera, e consequentemente o público, a mergulhar dentro do universo da sua personagem; construir com o público uma relação magnética para tudo aquilo que não é dito e, sim, sentido ou pensado.

A energia usada no set de filmagem quando a direção grita "ação" é muito parecida com o teatro para mim. A plateia naquele momento é a equipe e é possível sentir a temperatura da cena e do seu trabalho ali mesmo.

3 - Além de marcar sua estreia nos cinemas, “Cidade; Campo” também marca sua estreia no Festival de Berlim. Como está sendo viver essa experiência?

Tem sido maravilhoso acompanhar a Berlinale e ser afetada constantemente pelos encontros que estou tendo aqui, pela paixão pelo cinema que esse festival contagia através das equipes dos filmes e do público. Na última edição do FRINGE, Festival de Teatro em Edimburgo na Escócia, o espetáculo "ISTO É UM NEGRO?" , em que sou atriz e dramaturga, ganhou prêmio de melhor espetáculo do Summerhall . Ter trabalhado na Europa antes me preparou para esse momento que estou vivendo agora… Não é a mesma coisa, óbvio. Cinema é muito diferente e poder estrear na Berlinale, festival que admiro muito a curadoria, concorrendo ao TED AWARDS, é um reconhecimento imensurável diante da minha trajetória como atriz e, principalmente, na trajetória de resistência desse filme.

Mirella Façanha — Foto: Divulgação
Mirella Façanha — Foto: Divulgação

4 - Como foi a sua preparação para viver Flávia, sua personagem?

Pelas características de Flávia e pela sua trajetória no filme, construí um corpo com contradição para trás (coluna) e para baixo (ombros e esterno). Sei que pode parecer abstrato, mas não é, é bem objetivo e físico. Isso me trouxe uma respiração muito específica, por exemplo. A partir daí, fui encontrando os detalhes de olhar que passeiam pela paisagem, ritmo de caminhar e por aí vai. Nas cenas mais intensas - físicas e emocionalmente - , construí um gráfico para conseguir fazer transições sutis que fizessem sentido dentro das reações da Flávia. Durante esse estudo, fui encontrando músicas que me ativassem e me convocassem para cada cena específica; meus fones de ouvido foram preciosos para mim no momento do set, e, em outros momentos, bastava ouvir a mata, olhar para o céu, olhar para casa, para as minhas mãos, passear os olhos pelos meus parceiros de cena… Acredito que tudo pode ser inspiração se escolhermos dar essa intenção.

5 - Na vida pessoal e profissional, o que destacaria como mais importante nesse novo momento de sua carreira?

Na minha vida pessoal, estou no melhor momento que poderia estar. minha saúde nunca esteve tão boa, consegui driblar um prognóstico muito ruim, e isso é como ganhar o prêmio mais importante que possa existir no mundo, porque sem saúde não somos nada. Amo envelhecer! A maturidade é algo acalentador, principalmente para pessoas que, assim como eu, vivem na linha de frente para garantir o direito à humanidade. Profissionalmente, estou muito feliz também. Sabe aquela sensação de estar no lugar certo e na hora certa? É assim que me sinto. Pronta para novos desafios, desejosa por novos encontros. Tenho dentro de mim um sentimento muito firme de que tenho muito o que fazer ainda. Gosto de construir diálogos por onde passo com os trabalhos que faço parte; acredito que só assim poderemos avançar enquanto sociedade - e a arte é poderosa demais para gerar transformações.

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