Filmes e séries
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Por Rafaela Sales Ross (@rafiews, no Twitter)


Aftersun  — Foto: Divulgação
Aftersun — Foto: Divulgação

Durante o primeiro lockdown, em meados de 2020, Pessoas Normais (Normal People) se tornou o grande fenômeno de entretenimento dos tempos de pandemia. Baseada no best-seller de mesmo nome escrito por Sally Rooney, a série dirigida por Lenny Abrahamson conta a história de Connell (Paul Mescal) e Marianne (Daisy Edgar-Jones), um casal de adolescentes cuja história de amor corre paralelamente aos turbulentos anos de transição à vida adulta.

A série catapultou os dois protagonistas ao estrelato quase do dia para noite, com o irlandês Paul Mescal em particular acumulando uma legião de fãs dedicados a compartilhar inúmeras fancams do ator nas redes sociais. A corrente de prata usada por Connell se tornou objeto de desejo, e a sensibilidade da performance do ator, em especial quando se trata de tópicos sensíveis como saúde mental masculina, amplificou a visibilidade de Mescal.

Quando um jovem ator é lançado de maneira meteórica aos braços de uma legião de fervorosos fãs – em sua maioria adolescentes – sempre há uma expectativa em relação aos projetos escolhidos após esse sucesso inaugural. Para Mescal, o primeiro grande passo pós-Pessoas Normais foi A Filha Perdida, filme da Netflix que marcou a estreia como diretora da atriz Maggie Gyllenhaal. No filme, Mescal tem um papel pequeno, mas a decisão de embarcar em um projeto autoral sedimentou o interesse do ator em cinema independente.

Essa tendência se solidificou no Festival de Cannes deste ano, com o ator presente em dois filmes: Aftersun, de Charlotte Wells e God’s Creatures, de Saela Davis e Anna Rose Holmer. Ambos os filmes são dirigidos por mulheres, marcando mais uma tendência na carreira do irlandes. Em Aftersun, Paul interpreta Calum, pai de Sophie (Frankie Corio), uma menina de 11 anos. A trama se passa nos anos 90, durante uma viagem de férias feita por pai e filha à Turquia, em memórias revisitadas pela Sophie já adulta no tempo presente. Já em God’s Creatures, Mescal dá vida a Brian, um jovem que retorna à reclusa vila de pescadores onde foi criado anos depois de uma misteriosa partida. O retorno do rapaz é marcado por uma terrível acusação de estupro que abala a rotina da pequena comunidade irlandesa.

God's Creature — Foto: Divulgação
God's Creature — Foto: Divulgação

Para um jovem ator que chegou à fama com o status de galã, tanto Calum quanto Brian representam apostas arriscadas; mas, no caso de Mescal, o blefe levou a mesa. Em Aftersun, mais uma vez, ele demonstra uma habilidade rara em comunicar algumas das mais complexas emoções humanas, navegando o êxtase dos pequenos momentos de companheirismo compartilhados com a filha com a mesma sensibilidade que apresenta nos períodos de melancolia profunda. É com grande competência, também, que o irlandês interpreta Brian, um personagem que instiga merecida antipatia; mas que, através de Mescal, transmite a complicada miríade de sentimentos que coexistem – muitas vezes em difícil divergência – em cada um de nós.

Combinando talento com um olhar atento à oportunidades que fogem do caminho geralmente escolhido por estrelas em início de carreira, Paul Mescal vem aos poucos se consolidando como um dos nomes mais interessantes de sua geração. Sorte a nossa.

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