Esporte
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Por Ana Carolina Pinheiro (@anacarolipa)

O ineditismo é, sem dúvidas, um adjetivo marcante na trajetória de Miraildes Maciel Mota, a nossa Formiga, a pessoa com maior participações em Copa, com sete presenças, e a atleta que mais vestiu a camisa da Seleção, foram 151 partidas. Incluindo feminino e masculino, esses feitos batidos por ela são surpreendentes por si só, mas ganham um peso ainda maior por conta do recorte de gênero e tudo o que esse atravessamento carrega, como bem explica a jogadora. “Ser mulher no Brasil já é difícil, imagina praticando esporte. A dificuldade dobra, mas com a nossa persistência mostramos que realmente somos capazes de exercer qualquer profissão da qual os homens por muito tempo dominavam.”

A reflexão de Formiga para a Glamour aconteceu na beira do campo durante o evento “Joga com as Mina”, torneio de futebol feminino da Adidas, em São Paulo. Diante de uma nova geração de atletas nessa competição, a veterana, que também teve a relação com o esporte firmada na juventude, aos 12 anos, em Salvador, viu uma linha do tempo materializada em sua frente. O cenário é um esquema tático perfeito para pensar e entender em que pé estamos no futebol feminino no Brasil.

A seguir a volante reflete sobre a coragem das que deram os primeiros passos para que hoje, em 2023 e a poucos dias da estreia da seleção no Mundial da Austrália, a modalidade seja possível praticada e assistida por nós.

Vivemos um momento de transformação na relação da sociedade com o futebol feminino no Brasil, que é fruto de um trabalho de muitas gerações, né? Como é fazer parte dessa mudança e, principalmente, viver isso ao lado de outras mulheres?

Essa união e determinação das meninas lá atrás fizeram com que hoje o futebol feminino chegasse onde está hoje. As pioneiras pegaram o pior momento, então essa dedicação delas alimentou o trabalho das atletas das gerações seguintes. Quando eu comecei a jogar, peguei um momento em que a modalidade tinha sido liberada para mulheres no País [Em 1983, o futebol feminino foi regulamentado no Brasil após mais de 40 anos de proibição da prática por mulheres durante o período da ditadura].

Então, são essas energias, essa luta e essas dificuldades enfrentadas por elas que fizeram e fazem todas as mulheres acreditarem que nós somos capazes de superar qualquer dificuldade, porque nós somos assim. Quando nos propomos a fazer algo de bom, a gente faz 100%. Isso faz muita diferença para hoje o futebol feminino ser realidade.

O que você acredita ser primordial para que esse desenvolvimento do futebol feminino seja contínuo e fique ainda mais potente?

Persistência e nunca cair na zona de conforto. Isso me leva a jogar até hoje, com 45 anos. Apesar de eu já ter feito a minha história no futebol feminino, continuo persistente mesmo fora das quatro linhas para não cair nessa conformidade.

Como você define essa nova geração de jogadoras e também o time convocado pela técnica da seleção Pia Sundhage?

A convocação pegou todos de surpresa, mas eu acredito no time. Preciso acreditar que essa escolha da Pia vai nos levar a algum lugar. Se a gente for criticar alguém, as pessoas que menos têm culpa, de verdade, são as atletas, porque todas estão ali para se doar e dedicar ao máximo e, assim, mudar a história da modalidade. A gente sabe que, para muitos, a trajetória só vale quando tem um retorno, um título de expressão, como o Mundial. Então, torço muito por elas. Se for pra cobrar, é pra cobrar a treinadora. A gente precisa apoiar as meninas, e não criticá-las.

Após a saída do São Paulo no ano passado, neste ano, nesse mês você anunciou que fará parte da seleção brasileira de Futebol 7. Como está sua expectativa e como foi a preparação, principalmente, mental para os rumos que sua carreira daria após a saída da seleção de futebol de campo?

Estou me cuidando como sempre me cuido. Quando voltei do Paris Saint-Germain, já tinha jogado um campeonato do fut 7 e treinava no campo society do São Paulo Futebol Clube também, então pra mim não tem muita mudança. A preparação maior é a mental para chegar em um grupo novo. Tive que trabalhar esse lado para chegar no perfil delas, entender mais sobre sobre a dinâmica e ver como também é um esporte que precisa de ajuda. Essa realidade é imposta para mulheres seja qual for a modalidade. A minha expectativa é que eu possa corresponder à altura e, posteriormente, trazer essa visibilidade para o fut 7, dando incentivo para meninas que têm vontade de estar na seleção.

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