Gui
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Por Gui Takahashi (@guitakahashi)

Jornalista e criadora de conteúdo digital. Gosta de refletir e falar sobre beleza, comportamento e sociedade.

Ainda não temos os prometidos carros voadores das ficções futuristas e os smartphones também não conseguem exalar fragrância. Mas, outro dia, rodando as redes sociais, senti um cheiro de naftalina no ar. Sim, alguns posts de influenciadores avaliando moda de tapete vermelho me lembraram as pastilhas que nossos antepassados usavam para manter as traças longe das roupas. Vou explicar o meu flashback.

Tenho percebido uma leva de influencers, geralmente jovens, pertencentes à gen Z, comentando moda de uma maneira que remonta a maneira que a gente tratava o assunto anos atrás. Poderia ser apenas um revival dos anos 90 ou Y2K, catapultado pelo Tik Tok e pelas agências de tendências se não fosse absurdamente problemático. Isso, porque traz de volta consigo uma forma bastante misógina de se tratar mulheres, seus corpos, suas imagens, estética e moda.

Em pleno 2024 tenho visto uma nova geração entusiasmada gritando “feia, cafona, horrorosa” de pulmões cheios, com piadas afiadas, transbordando acidez, como se fosse uma retomada do pesadelo que vivemos. E isso, tanto na gringa como aqui no Brasil. Engana-se quem acha que após as críticas vêm justificativas técnicas ou explicações bem fundamentadas, contextualizadas. Na grande maioria dos casos, as gargalhadas ficam por conta apenas do sarcasmo mesmo.

Até a década passada, qualquer pessoa que abrisse uma revista de moda e beleza nas bancas poderia ver como era normalizado elencar as famosas mais bem vestidas e mal vestidas dos red carpets. Ou então, as seções de “Certo e Errado”, em que mulheres eram fotografadas anonimamente nas ruas e avaliadas se o look era condizente com as regras rígidas de styling das editoras ou não. Na televisão, o norte-americano Fashion Police, no ar de 2010 a 2017, fazia piadas, comumente ofensivas, com as roupas de artistas. Esquadrão da Moda também reduzia o assunto a regras engessadas e cartesianas de styling, com normas proibitivas aos participantes-vítimas que precisavam passar por insultos e ver suas roupas antigas sendo criticadas e lançadas a uma lata de lixo para ganharem um makeover. Tudo isso, banhado em muito reforço de esteriótipos de gênero, gordofobia, slutshaming e daí por diante.

A própria antiga apresentadora do reality, Stacy London, afirmou em um depoimento para o perfil @StyleLikeU no Instagram que mudou de opinião sobre as regras que propagava até 2013, quando o show foi cancelado. Já em terras brasileiras, eram Clodovil e Ronaldo Ésper considerados guardiões preciosos do bom-gosto e que avaliavam, alfinetavam e despejavam comentários ácidos sobre looks de celebridades. Bizarramente, era aceito e considerado habitual ficar em rede nacional comentando e maldizendo a aparência alheia. Isso te soa familiar?

Com as discussões que eclodiram nos últimos anos sobre feminismo, passamos a enxergar o quão tóxico e problemático eram esses quadros de moda, muito comuns à época. Afinal, os meios de comunicação eram uma grande engrenagem de um mecanismo opressor que tratava flagrantemente mulheres como manequins que deviam obedecer padrões de corpo, de imagem, de estética, do bem vestir. As amarras da moda eram muito mais apertadas, apesar de invisíveis, numa tentativa de manter-nos em uma rédea curta de controle.Isso, fruto de uma cultura que objetifica os corpos femininos, historicamente propriedade dos homens. A subjetividade nem era considerada ao avaliar um look, por exemplo. Ou seja, pouco importava seu talento, seu conhecimento, seu mérito, ou a mensagem que estava sendo expressa pelas roupas se seu vestido fosse chamado de feio ou cafona. Simples assim.

Eram comum piadas e comentários repletos de escárnio que desqualificavam mulheres só pela sua imagem, expondo-as ao ridículo como alvos fáceis de humor e para um entretenimento barato. Foram gerações e gerações com a autoestima afetada por esses padrões. Além disso, a moda era reforçada como um tema frívolo e inerente à feminilidade, pautada apenas no gosto pessoal de poucos, sem sequer um olhar cuidadoso para a manufatura que pode ser carregada de referência histórica e comportamental, por exemplo. Ou ainda, a moda como um banquete de leituras antropológicas, sociológicas, econômicas possíveis. E foi através de anos de debates e discussões importantes que conseguimos ultrapassar esses formatos de mídia que eram extremamente machistas e humilharam as mulheres. Lógico que não chegamos nem perto de um ideal, mas acredito que conseguimos dar alguns passos ao virarmos as costas para a forma como mulheres e moda eram amplamente tratadas na mídia nos moldes que citei.

Se para Lulu Santos a humanidade caminha com “passos de formiga e sem vontade”, eu diria que ela tem a tendência de dar dois passos para frente e três cambalhotas para trás. Afinal, nem o velho é tão velho assim como a gente imagina. A coluna social, no formato que chegamos a conhecer, surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1920. O responsável foi o jornalista Walter Winchell, de Nova York, que passou a escrever seus textos de fofocas sobre os ricos e famosos da época. Nasciam assim as “gossip columns”, ou seja, as colunas de fofocas. Winchell criou o modelo de pequenas notas acerca da vida privada, acrescentando um ponto de vista debochado e sarcástico sobre pessoas famosas, chegando a divulgar escândalos típicos da imprensa sensacionalista, como informações não oficiais sobre mulheres grávidas, divórcios e especulações, conforme relata Beatriz Dornelles em seu artigo “Evolução da coluna social ao longo do século XX”, publicado em 2017.

Com a era de ouro dos estúdios de Hollywood, entre 1920 e 1940, esse formato de coluna social e de fofoca se popularizou. Afinal, as celebridades do cinema despertavam enorme curiosidade do povo. Logo, as avaliações e opiniões de moda embarcaram junto. Chego a me perguntar se a questão de agora é geracional, como se o distanciamento dos anos entre o velho padrão da crítica de moda e esses criadores de conteúdo pudesse dar brecha para uma ingenuidade na retomada inocente de um modelo tóxico em nome do entretenimento vindo de pessoas que não sofreram na pele a opressão que se tinha décadas atrás.

De qualquer forma, acho que é preciso pararmos para pensar se entreter às custas da ridicularização dos outros realmente vale a pena. Afinal, novamente prioriza-se mulheres no alvo do escárnio, avaliando-as apenas pela sua aparência, roupa e maquiagem. Público, audiência, quorum numérico virtual com chuva de likes, views, comentários e compartilhamentos para aplaudir o ridículo e o linchamento público, nunca vai faltar - infelizmente. Mas qual o preço disso? E será que para haver leveza na comunicação de moda é preciso arremessar a ética pra longe? Bom, meu palpite é que o custo é alto e passa pelo retrocesso, pelo machismo e pela misoginia. E o spoiler é que acredito que dá para falar de moda com leveza e humor sem precisar xingar mulheres.

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