Maquiagem
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Por Isabella Marinelli (@isabellamarinelli)

Quem passeia pela página For You do TikTok e se dedica às hashtags de beleza sabe que a plataforma virou um celeiro de tendências voltadas para maquiagem. Trata-se de uma profusão de conteúdos, das mais variadas formas, que misturam entretenimento e serviço colados em poucos segundos. Não à toa, as comunidades lá criadas são capazes de transformar produtos em fenômenos, esgotar cosméticos das prateleiras e até lançar estéticas a serem repetidas incansavelmente. De acordo com o WGSN, cerca de 49% das pessoas com conta na rede social tendem a arrematar algum item visto entre um scroll e outro. Na hashtag#TikTokMadeMeBuyIt, há provas: encontramos uma infinidade de itens que tiveram o potencial colocado à prova à exaustão e, a partir daí, se tornaram desejo e alvo dos cartões de crédito. O mesmo acontece com truques e técnicas de maquiagem.

É possível afirmar que, entre elas, figurinhas constantes são os conteúdos dedicados à construção de camadas na cobertura da pele, especialmente nas versões com contorno facial. Você piscou e há um novo jeito de fazê-lo: com bolinhas em torno do rosto, com pincel bem fino criando linhas retas, com batidinhas de produto quase até a região dos lábios, com jogo de luz envolvendo corretivo... São várias formas de executá-lo, performadas do tutorial ao challenge. E ele, que andava sumido com a onda de maquiagem criativa e pele natural dos últimos anos, parece ter retomado a força, ainda que diferente.

No mais recente viral da rede, ele é feito a partir de uma técnica chamada "underpainting", assinada pela maquiadora estadunidense Mary Phillips. Dona de uma lista seleta de clientes célebres do showbiz, entre elas as modelos Kendall Jenner e Hailey Bieber, ela testemunhou quando um vídeo de seu trabalho, aparentemente trivial e postado na rede sem grandes pretensões, tomou proporção inacreditável. "É muito gratificante assistir a tantas pessoas recriando a minha técnica. Nunca imaginei que se tornaria viral", afirma a beauty artist. O sucesso se deve ao efeito de naturalidade conquistado.

Mary ensina que se deve começar aplicando o produto cremoso específico para contorno e cobrir com base apenas ao final. "Marque a região das maçãs do rosto, os cantinhos externos dos olhos até as têmporas, a linha do cabelo e a mandíbula. Com um pincel menor, enfatize também as laterais do nariz", explica, apontando quais áreas da face devem receber o sombreado.

Esta, aliás, é a ideia primordial deste tipo de técnica. É comum que, ao cobrirmos a pele com base e corretivo, percamos as definições do rosto, que se dão pelo sombreamento a partir da incidência de luz. É muito simples de se notar: sem make, de frente para o espelho, existem regiões que naturalmente são delimitadas por sombras. Logo, são elas que devem receber produto ao se retomar o efeito. O inverso também é válido: tudo o que é mais claro, portanto iluminado, salta e se destaca – pense no topo das bochechas e na pontinha do nariz.

O intuito parece simples até que seja subvertido por lógicas menos artísticas. Para muitas pessoas, que ensinam e que colocam em prática, o contorno se tornou uma ferramenta de negação ou correção de características. Então, a pergunta essencial e que parece não perecer até hoje é: por que ainda há uma busca pelo afinamento do rosto e dos traços? E como podemos ter uma relação mais saudável com ele?

Contorno facial  — Foto: Launchmetrics
Contorno facial — Foto: Launchmetrics

Linhas tênues

"Estamos sempre revisitando algo e reavendo uma maneira de recriar o que um dia já foi feito. Isso é revigorante. O que marca a diferença entre o contorno atual e o que víamos em um passado recente são as técnicas: intensidade, o posicionamento e a intenção influenciam no feito final", introduz Katia Araújo, maquiadora e artista nacional da MAC Cosmetics no Brasil.

Até a tecnologia entra na conta para a versão 2023. Pense em fórmulas repaginadas, evidentemente em acompanhamento das atualizações e lançamentos do mercado de beauté. "Hoje, os produtos são mais leves, com texturas mais reais", argumenta. O intuito é que as camadas se misturem numa fusão tão harmônica a ponto de não entregarem (ao menos, imediatamente) que estão ali, mas que devolvam a profundidade roubada pelos pigmentos mais claros. É aí que entram as variadas formas de executar, muitas delas ainda pautadas pelo desejo de amenizar traços, afinar bochechas.

"Sou maquiadora há 20 anos e em 12 deles ministrei treinamentos. Atrevo-me a dizer que muitos profissionais não se dão conta de que essa técnica pode, sim, ser ferramenta de microagressão para alguns grupos quando sugerida de maneira leviana. Não sou piegas em dizer que temos que achar tudo lindo em nós mesmas, mas devemos investigar os motivos do desejo de mudança. E precisamos nos atentar aos excessos", argumenta a especialista.

Para Angélica Silva, maquiadora e criadora de conteúdo digital, o contorno contemporâneo desempenha o trabalho de realce:

"Maquiagem é liberdade. Se a pessoa se sente bem marcando uma característica específica, não é errado. Para mim, a problemática está na padronização e no discurso, como se todas as pessoas precisassem seguir um formato específico"

Quero mesmo assim

Análise feita, pode bater uma vontade de testar. Para iniciantes, Angélica também indica os produtos cremosos. É muito importante avaliar o tom da pele neste momento. "O contorno simula sombras, que tendem a se revelar nos tons neutros e frios", explica. Imagine um marrom que caminha mais para o cinza do que para o caramelo ou alaranjado, por exemplo. Outro fator essencial é a aplicação levíssima e sempre em um ambiente bem iluminado para compreender onde, naturalmente, os pontos sombreados se apresentam.

"Comece aplicando pelas extremidades em direção ao centro, com movimentos suaves e circulares. Quanto mais macio o produto eleito, mais fácil será executar a técnica e se certificar de que não rolou nenhum excesso", ensina. Para tanto, vale apostar nos pincéis mais densos, que espalham bem texturas em creme ou mousse, ou os bem fofos, se a ideia é usar um . Deposite pouco a pouco, esfumando bem antes de pegar na embalagem novamente. As dicas valem tanto para quando é feito por cima quanto por baixo da base.

Contorno facial ou efeito bronzeado?

Sim, eles são diferentes e, muitas vezes, complementares. "Para bronzear, prefira as cores mais quentes. Neste caso, diferentemente do contorno, uma certa dose de brilho pode ser bem-vinda para dar aquela sensação de viço de pele no verão", afirma Katia.

Os pontos de bronzeamento são fáceis de encontrar: basta entender onde o sol costuma bater no seu rosto – contorno do cabelo, têmporas e bochechas, ossinho do nariz são bons guias. Já as ferramentas também são diferentes. "Opte por pincéis que tenham uma angulação nas cerdas, pensadas para seguir o desenho dos ossos das mandíbulas", indica a beauty artist.

Uma vez bronzeado o rosto, é hora de dar a sensação de queimadinho de sol recente. Vamos de blush! "O alto das maçãs do rosto podem ser intensificados com uma outra cor ainda mais quente, como o laranja, o coral ou até um avermelhado sutil", indica. Se em creme, garante ainda mais glow natural. Se em pó, ajuda a selar as camadas anteriores e ampliar a durabilidade. Por fim, algumas borrifadas de bruma hidratante e o efeito garota de praia subirá a serra com sucesso.

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