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"Eu já tive várias fases na minha vida. Houve momentos em que eu queria muito ser mãe, e outros em que eu não queria de forma alguma. Lembro que uma situação chave foi quando eu perdi a minha irmã, ainda muito cedo. Na época, esse desejo voltou com força porque era a relação mais próxima que eu tive de maternidade. Queria viver essa experiência também. Mas, eu sempre adiei.

Adiei porque queria conquistar uma estabilidade primeiro – e até os meus 31 anos isso não existia. Eu queria passar em um concurso público, ter um emprego e independência. Desde jovem eu tinha muitas responsabilidades, a questão financeira era a minha maior preocupação e eu me lembro de pensar: “Já sou responsável por tanta gente na minha família, meus sobrinhos, irmãos, pai e mãe...”. Eu tinha medo, sabe?

Eu e minhas amigas, que tinham esses mesmos pensamentos, falávamos sobre um desejo: “Se eu tivesse dinheiro, eu iria congelar os óvulos” – porque assim eu ganharia tempo para estudar e passar em um concurso. Depois, eu engravidaria sem ter os riscos.

Até que tudo me aconteceu, né? Depois do Big Brother Brasil, eu conquistei uma segurança financeira muito além do necessário. Minha família se estruturou muito melhor e eu percebi que já poderia me dar esse prazer. Essa dádiva! Voltei a pensar em congelar meus óvulos.

Inicialmente, não pude fazer o procedimento por causa de uma complicação de saúde relacionada a um aneurisma. Depois de um tempo, consegui me organizar e, finalmente, com 34 anos, fiz o procedimento há pouco mais de dois meses.

A decisão de congelar os óvulos

Eu já estava conversando há um tempo com minha médica ginecologista, Dra. Sônia Valentim Machado, que é especialista em reprodução. Ela me explicou os processos em todas as consultas. Também conversei com outras pessoas que já tinham feito. Falei bastante com a Ingrid Guimarães, que me disse que minha idade era ótima para isso. Todas me incentivaram a fazer logo!

Juliette e Sônia Valentim Machado — Foto: Arquivo pessoal
Juliette e Sônia Valentim Machado — Foto: Arquivo pessoal

Até que dei o pontapé inicial! Eu sempre me preparo para o pior, e o resto é lucro. Tive alguns dias de muito estresse, fiquei intolerante e nervosa. Ganhei uns três ou quatro quilos – que, na verdade, é inchaço – e tive que aplicar muitas injeções diariamente durante 14 dias. Eram três injeções por dia para estimular, retardar a menstruação, maturar o óvulo e segurar a menstruação.

Mas, no geral, senti pouquíssima dor, quase nenhuma. Foi como ter uma TPM muito forte durante uns três dias e um inchaço que demora um mês para desaparecer. Achei o processo mais simples do que esperava. Para nós, mulheres, que passamos pela menstruação todos os meses, foi fácil (risos)!

Planos para o futuro

Decidi congelar e não engravidar agora por vários motivos, de projetos de trabalho à estrutura familiar. Primeiro, em relação ao trabalho, comecei uma nova carreira e que exige desafios, como estar na estrada. Acho que a maternidade não seria um impeditivo, mas certamente o tornaria mais difícil. Então, acho que esse tempo inicial de solidificar a minha carreira é necessário nesse primeiro momento, sabe?

Além disso, já tenho 34 anos, então talvez eu não possa (e nem queira) esperar muito mais tempo. Também estou em um relacionamento recente, que completou um ano. Bom, na minha percepção, ainda é um relacionamento novo (risos). Mas, ao mesmo tempo, não quero adiar demais a decisão. Talvez com 37 ou 38 anos... Sinto que o momento está se aproximando!

Eu e minha médica discutimos bastante também se tentaremos de forma natural ou se faremos inseminação. Ela tem muito esse pensamento, de tentar naturalmente até a idade segura. Mas, também penso se já vou direto para a inseminação e já coloco dois óvulos de uma vez. Será? (risos). São questões que ainda posso pensar e, principalmente, decidir em conjunto, tanto com a minha médica quanto com a minha família e parceiro.

Juliette — Foto: Igor Melo
Juliette — Foto: Igor Melo

Autonomia para decidir

É um privilégio muito grande poder congelar os óvulos, e eu sei disso. É algo muito caro e são pouquíssimas as mulheres que têm condição financeira para fazer o processo. As que conseguem é a muito custo e esforço, e eu as admiro muito, mas sei que é difícil.

Por outro lado, a ideia de ter essa autonomia e não precisar decidir agora é muito confortável. Entre minhas amigas, isso também é um assunto comum hoje em dia. Lá atrás, na faculdade, brincávamos até sobre fazer uma vaquinha para todas congelarmos nossos óvulos juntas. Nós, mulheres, sabemos como a maternidade pode pesar muito na nossa vida acadêmica ou profissional.

Congelar os óvulos é um privilégio, mas essa sensação de autonomia em relação ao tempo é importante. Ao tempo e também à decisão, né? Se eu mudar de ideia, é reconfortante saber que não preciso decidir agora e que posso tomar essa decisão daqui a alguns anos. Essa possibilidade de adiar a escolha traz muito conforto e segurança.

Recebo muitas mensagens de mulheres que gostariam de fazer o mesmo, mas não têm condições financeiras. Porém, também recebo perguntas do tipo: "Por que não engravida logo?". É importante reconhecer o quanto isso é uma questão de privilégio social e financeiro, e o poder de autonomia que proporciona. Ter a opção de escolher o momento certo para ser (ou não ser) mãe é algo que não tem preço."

* Juliette Freire em depoimento à jornalista Malu Pinheiro.

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