Cabelo
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Por Helena Moro


Há algo sobre mim que você precisa saber: nunca fui medrosa para mudanças de visual. Sim, posso ter medo de muitas outras coisas – cobras, prédios altos, roupas apertadas, agulhas e sopa de ervilha (rs) são algumas. Mas, de fato, cortar o cabelo nunca foi uma questão para mim.

Cresci ao lado de uma irmã que chorava (literalmente) toda vez que ia ao cabeleireiro. Era sempre um drama. Eu, por outro lado, ficava excitada com a ideia de um novo look, de uma nova versão de mim – às vezes, nem dormia de ansiedade. Aos 26, já tive quase todos os tipos de cabelo que você pode imaginar: do longo volumoso à la Gisele Bündchen, pontas vermelhas, corte chanel com franja lateral, corte chanel com franja frontal, baby bangs, repicado... Isso sem falar na minha fase ruiva ferrugem (que, na época, foi a maior revolução entre meu círculo de amizades).

Helena Moro (Foto: Luiza Ferraz) — Foto: Glamour
Helena Moro (Foto: Luiza Ferraz) — Foto: Glamour

Mesmo assim, posso afirmar que nunca me senti feliz de verdade com meu cabelo -- talvez essa fosse a verdadeira força motriz que me fazia voltar ao salão e mudar tudo de novo a cada temporada. Quando pensava nas minhas transformações, o pixie hair era algo que eu nunca havia feito, mas era obcecada. Sempre que via uma mulher com este cabelo na rua, ficava encarando e pensando se aquele estilo funcionaria para mim...

Foi quando, voltando de uma viagem de trabalho ao Rio de Janeiro, tomei a decisão. Havia acabado de passar uma temporada na casa que pertenceu à Elis Regina, na Avenida Niemeyer, e aquilo havia mexido comigo. Que mulher forte, decidida. Além de tudo, feminina.

Elis Regina: minha musa-mor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Elis Regina: minha musa-mor (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Voltei para São Paulo decidida a ter o cabelo de Elis. Mandei um Whatsapp para meu cabeleireiro, do avião mesmo, com a referência que eu queria -- e lá estava ela, sorridente e de fios curtíssimos. Nota da editora: não sei se isso importa ou não, mas voltei na poltrona ao lado da Maria Rita neste dia. Vai entender...

Cortei. Lembro-me de me olhar no espelho com aquele visual fresquinho e pensar: "Eu realmente estou a minha cara". Pela primeira vez eu me vi de verdade -- e gente, meu rosto estava escondido esse tempo todo! Foi libertador. Na verdade, continua sendo, mesmo dois anos depois. Muito mais do que uma mudança visual, passei por uma mudança de personalidade e até a maneira de ver o mundo e me relacionar com as pessoas.

O mais interessante de tudo isso é que meu cabelo acabou virando uma espécie de filtro para pessoas indesejadas. "Você está doente?", "Ah, eu preferia antes", "Você parece um menino" e "Não se preocupe, logo menos cresce" foram os comentários/perguntas campeões de audiência. Principalmente com os boys -- e meodeos, como isso foi irritante e cansativo.

Não vou fingir que no início isso não me incomodou. Cansei de ir à festas e receber feedbacks de caras que não se aproximavam de mim por conta do visual "moderno demais" ou "meio masculino". Fora alguns "amigos" de longa data, que me conheceram de cabelos longos e sempre davam um jeito de deixar claro que eu não estava tão atraente quanto antes. O mais engraçado era que eu me sentia -- e ainda me sinto -- exatamente o oposto.

Olha eu aí, toda felizona (e de fios curtíssimos!) (Foto: Arquivo pessoal) — Foto: Glamour
Olha eu aí, toda felizona (e de fios curtíssimos!) (Foto: Arquivo pessoal) — Foto: Glamour

Inclusive, quando penso nessa tristeza hoje sinto até uma vergoinha alheia. Taí mais uma lição que o cabelo curto me ensinou: não preciso de alguém me falando que sou bonita para eu me sentir bonita. Isso é assunto meu comigo mesma. Além do mais, caras muito mais legais apareceram depois disso e admiraram de verdade a situação toda. Percebi também que eu estava indo aos lugares errados e com gente que não tinha nada a ver comigo. Isso fez toda a diferença e me ajudou a descobrir quais festas, músicas e eventos são mais a minha praia. Obrigada, cabelinho, por mais uma descoberta!

Então, que tal a gente deixar pra lá a "crença" de que para uma mulher ser feminina, ela precisa ter o cabelo grande? Como disse uma vez ~a perfeita~ Fê Paes Leme (que agora faz parte do time de colunistas digitais da Glamour, yay!) sobre o assunto: "Estereótipos e preconceitos. A sociedade nos ‘educou’ que a mulher precisa ter o cabelo grande pra se sentir poderosa e feminina. Bobagem. Me sinto muito bem assim e com cara de Fernanda Paes Leme". Assino embaixo mil vezes!

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