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Por Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo


O hipotireoidismo e o hipertireoidismo são disfunções complexas da tireoide com múltiplos sintomas fisiológicos e psicológicos, que podem afetar consideravelmente a qualidade de vida dos indivíduos acometidos, incluindo restrições relacionadas ao exercício e ao desempenho esportivo. Ambas as disfunções ocorrem na glândula tireoide; no entanto, vale ressaltar que os efeitos acarretados pelas mesmas variam de pessoa para pessoa, pois há quadros clínicos mais graves e outros mais leves. Pra explicar mais a fundo os sintomas do hipotireoidismo e do hipertireoidismo e seu impacto na vida esportiva de atletas amadores e de elite, o Eu Atleta conversou com os médicos endocrinologistas e do esporte Ricardo Oliveira e Roberto Zagury.

Tireoide: mau funcionamento pode causar maior ou menor produção de hormônios importantes como T4, T3 e TSH — Foto: Istock Getty Images

- O hipotireoidismo se caracteriza por um menor funcionamento da glândula tireoide , causando com isso uma menor produção de hormônios tireoidianos, como o T4, também chamado de Tiroxina (além de T3, TSH e outros). Embora a deficiência de iodo ainda seja a causa mais comum em todo o mundo, no Brasil e países desenvolvidos, onde a iodação do sal de cozinha já é feita há décadas, esta praticamente já não existe. Por aqui, as doenças autoimunes , como é o caso da Tireoidite de Hashimoto, representam a causa mais comum - explica Ricardo Oliveira.

- Já o hipertireoidismo se refere a uma hiperfunção da glândula tireoide, podendo causar taquicardia , irritabilidade , tremor fino nas extremidades, insônia, dentre outros. A doença autoimune, mais especificamente a doença de Graves representa a principal causa em todo o mundo. É importante ressaltar que o uso inapropriado das chamadas “fórmulas emagrecedoras” contendo hormônio da tireoide pode levar a um quadro clínico semelhante ao hipertireoidismo, com os mesmos riscos, em especial arritmias cardíacas e osteoporose - completa o médico.

Sintomas

O hipotireoidismo pode provocar cansaço nos indivíduos acometidos — Foto: Istock Getty Images

Principais sintomas do hipotireoidismo:

  • Cansaço excessivo;
  • Sonolência excessiva;
  • Queda de cabelo;
  • Prisão de ventre;
  • Pele seca;
  • Sintomas depressivos;
  • Ganho de peso, embora mais modesto do que se imagina.

Além destes, outros sintomas que podem aparecer são:

  • Desaceleração dos batimentos cardíacos;
  • Menstruação irregular;
  • Diminuição da memória;
  • Dores musculares;
  • Aumento do colesterol no sangue.

Principais sintomas do hipertireoidismo:

Taquicardia é um dos sintomas importantes do hipertireoidismo — Foto: Istock Getty Images

  • Taquicardia;
  • Irritabilidade;
  • Tremor nas extremidades;
  • Insônia.

Para além destes, podem ser percebidos sintomas como:

  • Irregularidade no ritmo cardíaco, principalmente em pacientes com mais de 60 anos;
  • Nervosismo e ansiedade;
  • Perda de apetite;
  • Intolerância a temperaturas quentes e probabilidade de aumento da sudorese;
  • Queda de cabelo e/ou fraqueza do couro cabeludo;
  • Rápido crescimento das unhas, com tendência à descamação das mesmas;
  • Fraqueza nos músculos, principalmente nos braços e coxas;
  • Intestino solto;
  • Perda de peso importante;
  • Alterações no período menstrual;
  • Aumento da probabilidade de aborto;
  • Perda de cálcio dos ossos com aumento do risco de osteoporose e fraturas.

Tratamento

Já em relação ao tratamento, Ricardo Oliveira aponta que, no caso do hipotireoidismo, o tratamento se dá por meio da reposição de hormônio da tireoide, sob a forma de levotiroxina. A medicação deve ser idealmente tomada pela manhã e em jejum.

No caso do hipertireoidismo, o tratamento pode se dar por meio de medicações antitireoidianas , iodo radioativo ou cirurgia.

Impacto no desempenho esportivo

Disfunções tireoidianas podem aumentar a fadiga — Foto: Istock

De acordo com Ricardo Oliveira, embora o excesso de exercício não necessariamente traga problemas de tireoide, exercícios extenuantes podem estar associados a alterações transitórias nos hormônios da tireoide que podem ser importantes no monitoramento da saúde, estado de treinamento e ingestão nutricional do atleta.

- Os resultados de um estudo interessante, publicado no PubMed, mostram que o exercício realizado no limiar anaeróbico (70% da frequência cardíaca máxima) causou as mudanças mais proeminentes na quantidade de quaisquer valores hormonais. E enquanto a taxa de T4, fT4, e TSH (hormônios relacionados à glândula da tireoide) continuou a subir a 90% da frequência cardíaca máxima, a taxa de T3 e fT3 começou a cair. Além disso, é importante destacar que alguns trabalhos indicam que uma sessão de atividade física intensa pode promover alteração de hormônios tireoidianos, como um aumento de TSH e T4 livre, de modo que se torna prudente evitar tais dosagens muito próximas a sessões de treinos intensos - acrescenta o médico.

Em relação às disfunções tireoidianas e o desempenho esportivo, vale ressaltar que o hipotireoidismo produz uma série de alterações que podem ser extremamente danosas para a performance do atleta, como disfunção cardíaca, ganho de peso, cansaço e lentificação do pensamento (condição chamada de bradipsiquismo). Além disso, de acordo com Roberto Zagury, no hipotireoidismo descompensado há elevação da CK, uma enzima presente dentro do músculo, muito usada para medir o nível de desgaste dos atletas.

- Vale pontuar que o exercício intenso eleva também esta CK, sendo assim, é possível juntar “a fome com a vontade de comer”. Ademais, o hipotireoidismo é uma causa conhecida de dor muscular, o que também prejudica o desempenho atlético. Da mesma forma, o hipertireoidismo ocasiona taquicardia (e eventualmente até arritmias cardíacas), cansaço, dificuldade de concentração, intolerância ao calor, perda de massa muscular, disfunção cardíaca etc. Alterações essas que prejudicam, e muito, a prática esportiva - aponta o médico endocrinologista.

Para além disso, é importante destacar que que o próprio exercício agudo e intenso pode promover alterações nas dosagens de hormônios tireoidianos. Portanto, segundo Ricardo Oliveira, é prudente evitar realizar tais dosagens próximas a uma sessão de treinamento intenso, sendo prudente um intervalo de 24 a 48h após a prática esportiva. É importante também que o médico lembre desta informação quando for analisar os resultados da prescrição destes hormônios em praticantes de atividade física.

Como se viu, o tratamento do hipo e do hipertireoidismo auxilia a melhorar o desempenho esportivo. Por outro lado, a prática de atividades físicas pode ajudar no tratamento do hipotireoidismo de forma indireta, como ele explica abaixo. No caso do hipertireoidismo, é necessário ter alguns cuidados.

- Há alguns pontos que eu gostaria de sinalizar: o hipotireoidismo é uma condição que gera ganho de peso. Sendo o exercício físico uma das ferramentas usadas no tratamento do excesso de peso, podemos, então, dizer que, sim, o exercício ajuda no tratamento das disfunções tireoidianas. O hipotireoidismo gera constipação e o exercício auxilia no adequado funcionamento intestinal. Ou seja, alguns dos sinais e sintomas causados pela disfunção podem ser melhorados com a prática esportiva. Porém, gostaria de deixar uma mensagem de cautela com relação aos pacientes com hipertireoidismo ainda descompensados: a prática de atividade física em alta intensidade para estes pacientes pode aumentar o risco de arritmias cardíacas e de insuficiência cardíaca (apenas para aqueles ainda muito descompensados). Para os pacientes já compensados, não há restrições - aponta Roberto Zagury.

Medicação não é doping

Tóquio 2021 — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Afinal, os esportistas de alto rendimento, como aqueles que disputarão os Jogos Olímpicos em breve, são mais afetados pelas disfunções da tireoide do que os praticantes de atividade física de nível amador? Há complicações que podem prejudicar a performance dos mesmos?

De acordo com Roberto Zagury, é imperativo que o médico do esporte ou o endocrinologista faça um rastreio de disfunções tireoidianas em todos os atletas das equipes que irão para Tóquio. Dessa forma, será possível detectar eventuais problemas e tratá-los a fim de evitar que as mesmas prejudiquem o desempenho dos times. O médico ainda ressalta que o uso de levotiroxina (no tratamento para o hipotireoidismo) e o de tapazol (no tratamento para o hipertireoidismo) não configuram doping, de acordo com a World Antidoping Agency (WADA).

- É importante destacar que, muitas vezes, o atleta amador ou de elite tem exigências de intensidade e volume de treino muito aumentadas; então, eventualmente, mesmo uma disfunção leve, o que chamamos de hipotireoidismo subclínico, pode trazer algum tipo de piora de performance. Por isso é importante que os pacientes possam ter os níveis de hormônios da tireoide bastante regulado utilizando as doses adequadas do hormônio naqueles que precisam de reposição - conclui Ricardo Oliveira.

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