TIMES

Por Marco Condez

reprodução/vídeo

A transferência do goleiro Cássio para o Cruzeiro é a síntese do paradoxo criado no Corinthians. Mesmo sendo sinônimo de segurança e estabilidade na equipe por vários anos, a má fase individual colocou em risco sua titularidade, sendo apontado como o principal ponto falho do setor defensivo corintiano e um dos principais responsáveis pela crise técnica que se instalou no Timão.

O Corinthians vive um período prolongado de oscilações, com vários focos de instabilidade em todos os setores do campo e fora dele também. Com uma crise política e administrativa estabelecida, o desempenho da equipe em campo foi afetado, e a perda de produtividade é o resultado mais latente.

Anteriormente, a explicação estava baseada na justificativa de que o elenco era formado por atletas com idade avançada para a prática do futebol. Tentou-se uma renovação de forma atabalhoada, que acabou por trazer prejuízos técnicos mais graves ao time. Assim, a crise vivida no gol do Corinthians é só uma das pontas, digamos, pequena, no iceberg da crise alvinegra.

Na temporada passada, o Corinthians viveu momentos de oscilações, mas tinha jogadores que não permitiam que a queda técnica fosse tão perceptível. A não permanência de líderes do elenco, de certa forma, abalou a estrutura coletiva do time, a ponto de torná-la frágil e passível de ruir a qualquer momento.

O único líder que restou foi o goleiro Cássio, pois o lateral Fábio Santos se aposentou, o meio-campista Renato Augusto foi transferido para o Fluminense, o zagueiro Gil foi contratado pelo Santos e o volante Paulinho foi afastado com lesão grave. Só que, apesar da posição de destaque, Cássio ficou sozinho para segurar todas as pontas da lona que sustentava a geração vitoriosa do Corinthians.

As críticas ao seu desempenho individual se tornaram cada vez mais frequentes e o aspecto psicológico, que para um goleiro é essencial, ficou abalado com a pressão de parte da torcida e questionamentos da imprensa especializada. A perda da titularidade para o reserva foi consequência inevitável, pois Carlos Miguel está mostrando credenciais para assumir o posto.

A chegada ao Corinthians no final de 2011 foi meteórica, não demorando para Cássio assumir a vaga de titular após sequência negativa do goleiro Júlio César, titular da meta do Corinthians na época. Com envergadura impressionante e segurança fora do comum, Cássio foi ganhando status de ídolo junto à torcida, fazendo defesas milagrosas que tiraram o Timão de sérios problemas e trazendo alegrias ao torcedor.

Foram mais de doze anos à frente da meta do Corinthians, com marcas profundas que ficarão para sempre na história do clube, pois participou da conquista de nove títulos:

•O Mundial de Clubes em 2012, no qual teve papel importante, fechando o gol contra o Chelsea.

•Na Taça Libertadores da América de 2012, me recordo de defesa contra o Vasco que foi decisiva para aquela conquista.

•Dois Campeonatos Brasileiros: em 2015, que foi o último título corintiano da era Tite, com o Timão mostrando bom desempenho e a defesa pouco exigida, meio campo leve e estilo focado na posse de bola; em 2017, com participação destacada de Cássio, uma vez que o time já não jogava tão bem, mas era extremamente objetivo, apostando em bolas longas e em contra-ataques, com o atacante Jô em boa fase.

•Recopa Sul-Americana em 2013 – Com a camisa do Corinthians, Cássio parecia se tornar mais eficiente em jogos decisivos, e como a Recopa daquele ano foi um clássico contra o São Paulo, apesar de ser pouco exigido, não decepcionou.

•Quatro títulos do Campeonato Paulista: 2013, 2017, 2018 e 2019. Nesse período, Cássio chegou a perder a titularidade para o goleiro Walter, que atualmente joga no Cuiabá, mas se recuperou e retomou a posição única na equipe.

Com participação em 712 jogos pelo Corinthians, é o segundo jogador que mais vestiu a camisa do Timão, só perdendo para o lateral Vladimir. Foi convocado para a Seleção Brasileira em 2018, para a Copa do Mundo da Rússia, e foi considerado o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro de 2022.

No início de sua trajetória, confesso que a capacidade defensiva, qualidade técnica e rapidez me espantavam. É excelente goleiro debaixo das traves e se encaixou perfeitamente e com destaque nos diferentes estilos que o Corinthians utilizou nesses 12 anos, mantendo-se na titularidade. Foi um ciclo vitorioso na carreira de Cássio que se encerrou.

Na minha visão, Cássio é goleiro à moda antiga, pois, para ser completo, atualmente lhe falta a habilidade nos pés para participar do início das jogadas. Nos últimos tempos, tem apresentado também maior dificuldade para sair do gol em lances de bola parada.

Se realmente for contratado pelo Cruzeiro, deverá assumir a titularidade, pois desde que Fábio saiu, a vaga de goleiro do clube mineiro aguarda um grande arqueiro. Acredito que Cássio poderá ajudar nesse processo de reformulação que o Cruzeiro está iniciando com o novo comando de SAF.

Veja também

Mais do ge