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Por Marisa Adán Gil


Fernando Bertolucci, diretor executivo de Sustentabilidade, Inovação e Tecnologia da Suzano — Foto: Ehder de Souza/Divulgação/Clayton Rodrigues
Fernando Bertolucci, diretor executivo de Sustentabilidade, Inovação e Tecnologia da Suzano — Foto: Ehder de Souza/Divulgação/Clayton Rodrigues
Especial Inovação em Grandes Empresas — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini
Especial Inovação em Grandes Empresas — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini

A Suzano tem uma missão: criar a árvore do futuro. Para chegar lá, realiza melhoramentos genéticos no eucalipto que cultiva. Utilizando terapia genômica de ponta, são criadas “novas gerações” de árvores, que tendem a ser superiores às suas "antecedentes". “A cada ano, trazemos novas ferramentas biotecnológicas que permitem acelerar esse processo”, diz Fernando Bertolucci, diretor executivo de Tecnologia e Inovação da companhia. “E com isso a gente pode produzir cada vez mais com menos recursos naturais, o que é mais do que um objetivo para nós. É uma obsessão.”

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Número 1 em fabricação de celulose no mundo, a companhia foi a primeira a produzir papel branco com 100% de fibras de eucalipto em escala industrial. Agora, dedica uma parte considerável de seus investimentos em inovação a encontrar outras utilidades para a árvore – especialmente para a lignina, uma substância que já se mostrou capaz de gerar energia limpa, substituindo matérias-primas de origem fóssil. Para encontrar essas aplicações, conta com a ajuda de startups descobertas por meio da Suzano Ventures, frente de Corporate Venture Capital criada em 2022, com previsão inicial de investimentos de R$ 70 milhões – o foco é em startups em áreas de interesse da companhia, como o manejo florestal e a bioeconomia.

Com um faturamento que chegou a R$ 49,8 bilhões em 2022, a Suzano também se dedica a investimentos e parcerias com empresas globais, que possam agregar valor a seus produtos e processos – as últimas investidas foram na Finlândia e na China. “A China é o nosso maior mercado de exportação, para onde vendemos a maior parte do nosso produto de celulose. Então, queremos trabalhar mais próximos desses clientes”, diz o executivo.

Confira a seguir os melhores momentos da entrevista com o diretor executivo de Tecnologia e Inovação da Suzano.

Como a Suzano pretende criar a “árvore do futuro”?

Para produzir eucaliptos cada vez melhores em nossas fazendas, nós trabalhamos com biotecnologia, marcadores moleculares, técnicas de terapia genômica como CRISPR. A cada nova geração, nós mapeamos o genoma das árvores para entender o DNA e identificar as porções que são mais úteis para a planta do futuro.

Daí cruzamos esses materiais e geramos a próxima geração, que tende a ser superior às gerações antecedentes, e assim sucessivamente. Uma de nossas missões é encontrar novas ferramentas biotecnológicas que permitam acelerar esse processo. E com isso vamos conseguir produzir cada vez mais com menos recursos naturais, e tornar a nossa produção ainda mais sustentável. Para alcançar essa meta, fizemos uma parceria, na forma de um investimento na empresa israelense FuturaGene, que hoje faz parte do grupo.

Dentro das metas de sustentabilidade, a lignina tem um papel essencial. Que tipo de inovações estão desenvolvendo a partir da substância?

Na Suzano, nós temos 15 compromissos de sustentabilidade, que nós chamamos de compromissos para “renovar a vida”. Um deles é produzir 10 milhões de toneladas de produtos renováveis em substituição a produtos de origem fóssil até 2030. Para isso, temos que tirar mais produtos das nossas árvores. E, para isso, a lignina é fundamental. Veja bem, a substância compõe cerca de 30% das nossas árvores. Hoje, ela é usada basicamente para queima nas nossas fábricas, produzindo energia. O nosso desafio agora é transformar a lignina em outros produtos de maior valor agregado, além da bioenergia. Uma das possibilidades é usar o material para substituir o plástico na indústria de painéis de madeira. Também pode ser usada para produzir resinas de origem renovável, em substituição às resinas fenólicas nos processos industriais, e em outras aplicações que ainda vamos descobrir.

 — Foto: Clayton Rodrigues
— Foto: Clayton Rodrigues

Você citou um investimento em uma startup israelense. Há também uma parceria com a empresa finlandesa Spinnova, com quem vocês abriram uma fábrica em conjunto em 2023. Nesse caso, qual é o objetivo?

Com eles, estamos desenvolvendo uma nova fibra têxtil a partir de uma combinação entre celulose microfibrilar e madeira. Fez todo o sentido para nós comprar participação numa empresa que pudesse dar uma aplicação diferente para a nossa celulose. Isso foi em 2017. E recentemente, no começo do ano passado, nós montamos uma joint venture com eles chamada Woodspin. Montamos na Finlândia uma fábrica pré-comercial para a produção desses fios têxteis. O objetivo é alcançar a capacidade de 1 milhão de toneladas da fibra têxtil até 2033. A pegada de carbono dessa fibra é muito menor do que qualquer outra produzida no mundo hoje, porque não utiliza químicos nocivos ao meio ambiente, e porque permite uma economia de água muito significativa em relação às outras opções. E você sabe que a indústria têxtil é uma das mais poluentes do planeta.

Uma empresa de papel e celulose com objetivos sustentáveis: como você explicaria isso a um leigo?

Nós temos as nossas próprias fazendas de eucalipto, em áreas de conservação, com o cuidado para manter o equilíbrio entre árvores plantadas de eucalipto e florestas nativas conservadas. Esse é um modelo que foi desenvolvido ao longo do tempo e que nos permite dizer que o nosso negócio é absolutamente sustentável. Para você ter uma ideia, atualmente a gente planta 1.200.000 árvores de eucalipto todos os dias, ou seja, 100% daquilo que a gente colhe lá na frente. Para nós, o eucalipto não é uma floresta no sentido tradicional: é uma cultura que se assemelha a outras culturas, em que tudo aquilo que a gente vai usar um dia a gente plantou. E cada árvore que a gente colhe, a gente planta outra no lugar. No momento, posso dizer que fazemos isso de forma muito competitiva e muito efetiva.

Quais são as principais fontes de inovação da Suzano?

Internamente, temos sete centros de pesquisa, quatro no Brasil e três no exterior – no Canadá, em Israel e na China. Cada um tem a sua própria especialidade. Por exemplo, o centro de pesquisa do Espírito Santo é especializado em desenvolvimento da celulose. O do Canadá é focado em bioprodutos, a partir da lignina, a partir da celulose microfibrilar, essas aplicações bem de ponta, em parceria com universidades. Em Israel, estamos desenvolvendo a árvore do futuro, com a ajuda de startups. Já a China é o nosso maior mercado de exportação, para onde nós vendemos a maior parte do nosso produto de celulose. Então, montamos uma espécie de hub, para trabalharmos mais próximos dos nossos clientes locais.

Em 2022, vocês lançaram a Suzano Ventures. Por que levou tanto tempo para criarem essa ponte com as startups?

A conexão já existia antes, mas por meio de aceleradoras, e não dentro do conceito de CVC. Mas esse processo amadureceu a tal ponto que, em 2022, a gente achou que era o momento de ter o nosso próprio corporate, inclusive com investimentos em equity em algumas startups de interesse pra nós. Na Suzano Ventures, a gente aportou inicialmente R$ 70 milhões. Nesse caso, a ideia é investir em startups para que elas possam acelerar alguma tecnologia ligada às prioridades da Suzano, como soluções que nos permitam migrar das embalagens tradicionais de plástico para embalagens mais sustentáveis.

Pode contar um erro que a empresa tenha cometido, dentro dessas iniciativas de inovação?

Não diria que foi propriamente um erro, e sim uma consequência da maneira como a gente trabalha, num sistema aberto. Dentro do sistema biológico, não conseguimos controlar tudo, e somos desafiados pelas mudanças climáticas a todo momento. Uma vez, no Espírito Santo, estávamos desenvolvendo uma geração campeã, muito promissora, mas de repente as árvores começaram a não crescer mais como a gente esperava. Não foi propriamente uma doença, foi uma dificuldade de adaptação. Então tivemos que substituir toda uma geração e começar o desenvolvimento de outra. Felizmente, temos uma base genética muito ampla, então conseguimos fazer a troca.

Existe alguma inovação que vocês gostariam de ter realizado, mas não foram capazes?

Em relação à geração de novos produtos a partir do eucalipto, temos alguns concorrentes no mundo, principalmente na Escandinávia, que estão mais avançados do que nós, o que é normal. Em algumas dessas aplicações, gostaria de que nós estivéssemos mais à frente. Mas isso faz parte do processo. Nesse momento, nós estamos buscando cooperação com empresas escandinavas para que juntos possamos ir mais longe, mais rápido. Mas isso ainda está em negociação.

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