![Projeto do escritório de arquitetura alemão Opposite Office criou o Castillo Congresso — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/2S9IK_o4SjuvfqncS_U4opQDdNU=/0x0:3508x2480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/8/p/o3tVWlRbeibrDKAgjBBA/projeto-alemao-congresso-ataques-1.jpg)
Os ataques durante a invasão à Praça dos Três Poderes, em Brasília, despertaram a atenção do mundo. Obras de arte e grande parte do patrimônio brasileiro foram destruídos durante o ato, cometido por terroristas pró-Bolsonaro e que podem ultrapassar custar R$ 20 milhões em prejuízo. De olhos nesses acontecimentos, o escritório de arquitetura alemão Opposite Office projetou o Castillo Congresso: um muro para transformar o edifício projetado por Oscar Niemeyer em uma "fortaleza para proteger a democracia".
A ideia surgiu do princípio, na opinião de Benedikt Hartl – um dos arquitetos do Opposite Office, de que a arquitetura precisa se tornar mais política. “Tornou-se apenas um serviço”, diz ele em entrevista à Casa Vogue. “Os arquitetos desenham belas fachadas, mas a arquitetura costumava ter um impacto político e social muito maior.”
Antes do projeto no Congresso Nacional, o escritório também criou um mesmo conceito para o Capitólio, após a invasão cometida por apoiadores do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 6 de janeiro de 2021.
![Antes de criarem intervenção para o Brasil, profissionais tinham feito projeto para proteger o capitólio — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/FbKa3exDadm-EbZ-m8lgDaQfjSo=/0x0:852x1495/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/N/4/fob2AhTzGdQX0dnlRAmQ/projeto-alemao-congresso-ataques-5.jpg)
“Acho que nós arquitetos temos que mudar isso e evoluir mais nas questões políticas e sociais. A divisão e polarização de nossas sociedades ao redor do mundo é uma questão crítica e um desenvolvimento assustador nos últimos anos”, defende Benedikt. “Nossa proposta deve ser entendida metaforicamente e, ao contrário, encorajar o pensamento crítico. Ao construir um muro, obviamente não protegemos nossa democracia, mas devemos trabalhar nas razões pelas quais nossas sociedades estão cada vez mais divididas.”
O projeto “distópico”, como descrito pelo estúdio, é uma parede de 1,5 metro de espessura, feita a partir de tijolos reciclados. Os módulos consistem em diferentes formas geométricas, como círculo, triângulo e linhas retas. “É uma distopia quando vivemos em um mundo onde temos que nos esconder atrás de muros ainda mais altos”, explica o arquiteto. “Acho que é uma questão social sobre como queremos viver.”
![Imagem do muro criado para proteger o Congresso Nacional do Brasil — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/uvg-3D2MfVYYhbztIzQIVEfQWIM=/0x0:2400x3600/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/E/U/RpZibTTqiN0jzPpxuT4g/projeto-alemao-congresso-ataques-2.jpg)
Benedikt cita como exemplo os condomínios fechados na América do Sul, em geral. “Queremos esconder toda a nossa vida atrás de muros ou procuramos soluções sociais para criar uma sociedade mais igualitária que não precisemos esconder a nossa riqueza?”. Para ele, isso se aplica na política. “Quando não encontrarmos soluções políticas para mais igualdade, as pessoas vão se tornar cada vez mais radicais, mais divididas, e então realmente precisamos de muros para manter nossa ordem social.”
“Mas esta não deve ser a nossa reivindicação. Por isso chamo de distopia. Mas na verdade hoje em muitas partes da nossa vida essa distopia se tornou realidade”, complementa.
![Estrutura seria feita de tijolo reciclado e a partir de módulos geométricos — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/xDEiOU1CT5iBoY1GQozqZ78Wcwc=/0x0:1620x1131/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/U/s/i0Do2ZQGugOt21BndGQA/projeto-alemao-congresso-ataques-3.jpg)
Sobre ter projetado uma intervenção em obras criadas pelo brasileiro Oscar Niemeyer, um dos arquitetos mais renomados em todo o mundo, Benedikt diz que o brasileiro “provavelmente também não concordaria com esse projeto”.
“Em geral, tentamos projetar da maneira mais sensível possível, mas também é claro que uma parede sólida, uma parede de proteção, terá uma certa presença”, comenta. “Pelo menos o desenho da parede com formas geométricas é baseado no desenho do Oscar e realmente harmoniza muito bem se você não perguntar a um preservacionista.”
![Projeto é dito como "distópico" pelos arquitetos do Opposite Office — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/pD3HL1GjpqJcjGQs9mK-_RMwBtA=/0x0:2400x1600/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/Q/M/O5vSjARFKuYF6YcIEeXw/projeto-alemao-congresso-ataques-4.jpg)
Por fim, quando questionado se acredita que, no futuro, as construções terão que pensar mais na segurança, o arquiteto conclui: “Não acho que seja o futuro, mas o presente. Mas antigamente era bem melhor. Basta olhar para a grande arquitetura brasileira de Lina Bo Bardi ou para a grande arquitetura democrática de Vilanova Artigas.”