• 05/12/2016
  • Por Giovanna Maradei
Atualizado em
Arthur Casas: centenário Lina Bo Bardi (Foto: Divulgação)


Simplicidade, clareza e convívio. Este é o tripé que sustenta todas as obras da maior arquiteta brasileira até hoje, Lina Bo Bardi. A artista que nasceu na Itália mas escolheu o Brasil como sua nação chama atenção pelo estilo moderno, pela preocupação com o entorno e pela atenção dada ao convívio entre os que interagem com suas obras. Mais do que isso, Lina se destaca pela construção de obras com conceitos tão sólidos quanto cada um dos prédios e casas que ergueu.

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"Tudo que ela faz tem um conceito por trás. É através da obra arquitetônica que ela se comunica", afirma Sonia Guarita, presidente do Instituto Lina Bo Bardi, que ainda explica: "até as cadeiras do SESC foram feitas de forma certeira, para que as pessoas ficassem confortáveis, mas ainda assim prestassem atenção no que está sendo apresentado e não se refestelassem durante o show".

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Multifacetada, Lina foi uma artista constante, que não teve diferentes fases ou mesmo um auge em sua carreira. Isso não significa, no entanto, que Lina deixou de arriscar. Frequentemente Bo Bardi ultrapassava as paredes dos prédios que projetava, pensando desde as plantas do jardim até o design do mobiliário. Poucos se lembram, mas às suas obras somam-se aquarelas, desenhos, cadernos de relatos, móveis e até mesmo peças gráficas desenvolvidas ainda na Itália.

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Para celebrar o seu aniversário, no dia 5 de dezembro, selecionamos 6 obras que melhor exemplificam o estilo da arquiteta: uma pequena amostra frente ao conjunto de sua obra, mas uma ótima forma de começar a ouvir o que Lina tinha a dizer.

Casa de Vidro

Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto: Peter Scheier)

Considerado um dos projetos pioneiros do modernismo no Brasil, a Casa de Vidro, construída em 1951,  é o projeto que melhor revela o estilo de Lina Bo Bardi. Foi lá que ela e o marido, Pietro Maria Bardi, viveram por cerca de 40 anos. Suspensa por finos pilares, a casa é invadida pelas plantas que a cercam, deixando difusos os limites entre interior e exterior, ao mesmo tempo em que abriga seus moradores sem privá-los da relação com os intempéries da natureza.

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Museu de Artes de São Paulo (MASP)

Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto: Ilana Bressler)
Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto: Divulgação)

Ao passar pelo terreno que hoje recebe o MASP, Lina Bo Bardi imediatamente visualizou um grande Museu capaz de receber o acervo crescente do antigo Museu de Arte de São Paulo. Após algumas negociações, saiu do papel o projeto de Lina: Um museu com quatro grandes colunas vermelhas, uma pinacoteca que coloca as obras em cavaletes transparentes (que obrigam o visitante a admirar os quadros antes de ler as informações do autor) e uma grande praça de convívio para que a cidade possa se encontrar, o hoje famoso "vão do MASP".

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SESC Pompéia

Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto: Divulgação)

A grande obra de Lina, o Sesc Pompéia foi feito no lugar de uma fábrica com um grande objetivo: promover o encontro e convívio entre as pessoas. Daí a ideia de criar uma rua aberta que atravessa o complexo de ponta a ponta, ao mesmo tempo que reúne todos os presentes, estejam eles indo almoçar, ver uma peça de teatro, admirar uma grande exposição ou apenas passear sob o sol. Outra marca do prédio são as janelas aparentemente disformes, mas que imitam as formas das batatas brasileiras, que surpreenderam Lina quando ela primeiro chegou ao Brasil.

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Solar do Unhão

Centenário Lina Bo Bardi (Foto: Iñigo Bujedo/Photoshelter )

O projeto de recuperação do Solar do Unhão, aonde fica o Museu de Arte Moderna da Bahia, exigiu que Lina se adaptasse a uma estrutura tombada do século XVI. Sem desrespeitá-la, Lina deixou sua marca ao projetar a "Escada de Lina" , um caracol que liga o térreo ao primeiro pavimento, no centro do edifício. Feita de madeira maciça, tem estilo moderno, embora tenha sido baseada no funcionamento das rodas dos tradicionais "carros de boi".

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Igreja do Espírito Santo

Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto: Reprodução)

Circular, esta igreja de Uberlândia, Minas Gerais, parece baseada no panteão romano. Dentro das obras de Lina, o santuário se destaca pelo caráter comunitário e pela adaptação dos processos e materiais para a realidade da região. Junto com a arquiteta, os moradores da comunidade que insistentemente pediam para que esta fosse uma obra especialmente bonita, ergueram o prédio e até hoje se reúnem por lá reforçando um dos pontos principais dos projetos da artista, a convivência.

Teatro Oficina

Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto:  Jennifer Glass)
Lina Bo Bardi - A arquiteta do convívio (Foto:  Jennifer Glass)

Uma das últimas obras de Lina Bo Bardi, o Teatro Oficina é a prova de que a arquiteta não chegou a viver nenhum tipo de decadência. Pelo contrário, foi capaz de celebrar um casamento perfeito entre a simplicidade e a clareza de sua obra e o estilo artístico do diretor de teatro Zé Celso, que como Lina, quer que cada uma de suas peças provoque o encontro e o convívio entre o homem e sua arte.