Um Só Planeta

Por André Paixão

Recentemente, você viu na Autoesporte testes de compactos elétricos. Mantendo a tradição, o Fiat 500e é o representante da vez, ocupando a, cada vez maior, parcela de lançamentos de veículos movidos a eletricidade. Ele vai concorrer exatamente com os representantes dos meses anteriores: Renault Zoe e Mini Cooper S E.

As armas são quase as mesmas: visual caprichado, foco no uso urbano e tecnologia. Mas cada fabricante usou seu tempero. No caso da Fiat, o condimento italiano tem sabor de passado. É isso mesmo. A aposta é no futuro, mas olhando para trás.

Mais exatamente na primeira geração do Fiat 500, de 1957. Foi esse carrinho que ajudou a Europa, sobretudo a Itália, a se mover após a Segunda Guerra Mundial. Agora, a nova geração do 500 quer fazer o mesmo, difundindo a mobilidade elétrica.

Só que no Brasil, isso ainda é para poucos. Primeiro porque apenas 10 lojas vão comercializar o modelo. Segundo, e, mais importante, é porque a única versão disponível, Icon, custa R$ 239.990. É o mesmo preço do Mini Cooper S E de entrada, e R$ 10 mil mais que um Renault Zoe mais completo.

Mas o pequeno Fiat é o menos potente desse trio. São 118 cv e 22,4 kgfm de torque. Ele também é o menor dos três. E olha que ele cresceu na comparação com a geração anterior, oferecida no Brasil apenas com motores a combustão.

De qualquer forma, seus 3,63 m de comprimento, e especialmente os 2,32 m de entre-eixos fazem dele confortável apenas para duas pessoas. Igualmente acanhado, o porta-malas leva apenas 185 litros. O suficiente para as bagagens de um casal em uma viagem de final de semana.

Espaço no banco traseiro do Fiat 500e é acanhado — Foto: Divulgação
Espaço no banco traseiro do Fiat 500e é acanhado — Foto: Divulgação

Só que essa viagem precisa ser planejada, afinal, as baterias de 42 kWh garantem autonomia de 320 km. Para gerenciar o alcance, há três modos de condução, ajustados por meio de um seletor no console central.

O Normal, como o próprio nome adianta, serve para situações cotidianas. Com ele, praticamente não há recuperação de energia em desacelerações, apenas nas frenagens, feitas da forma tradicional – no pedal da esquerda. Não é possível induzir a regeneração por meio de teclas ou posições na alavanca de câmbio, como fazem alguns concorrentes. Aliás, nem alavanca o 500e possui. As marchas são selecionadas em botões, posicionados também no console.

O modo seguinte, Range, aumenta um pouco a autonomia, principalmente porque a regeneração passa a ser bem mais presente, permitindo que o motorista dirija apenas com o pedal do acelerador a maior parte do tempo.

Motor elétrico do Fiat 500e — Foto: Divulgação
Motor elétrico do Fiat 500e — Foto: Divulgação

Por fim, há o modo Sherpa, em que o Fiat alcança sua autonomia máxima. Fiquei me perguntando de onde veio esse nome. Após uma rápida pesquisa, descobri a referência à tribo Sherpa, que vive no Tibete e é especializada em ajudar alpinistas a subir o Himalaia, ponto mais alto do mundo.

Imagino tenha sido escolhido porque o modo Sherpa leve o 500e mais longe – devagar e sempre. E limitando desempenho e algumas outras funções do veículo, como o ar-condicionado. Não que o Fiat 500e seja um velocista quando está no modo Normal.

A velocidade máxima é de 150 km/h, a mesma do Mini elétrico. De acordo com a fábrica, são 9 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, menos que um Polo 1.0 turbo ou um Renault Zoe.

Fiat 500e tem velocidade máxima de 150 km/h — Foto: Auto Esporte
Fiat 500e tem velocidade máxima de 150 km/h — Foto: Auto Esporte

As comparações com os compactos elétricos de Renault e Mini continuam. Ainda que o 500e tenha a mesma arquitetura de suspensão traseira do Zoe (eixo de torção), e mais simples do que a do Mini, a dirigibilidade está mais próxima desse segundo, graças ao perfil parecido, com carroceria mais baixa e próxima do solo.

O acerto também é voltado para uma tocada mais dinâmica, e, mesmo na cidade, com velocidades mais baixas, a agilidade para fazer ultrapassagens transmite uma sensação de ir mais rápido do que, de fato, está. Pena que a direção seja “anestesiada” e não transmita tão bem ao motorista o que acontece do lado de fora.

Cabine do novo Fiat 500 elétrico é moderna, mas plásticos poderiam ser melhores — Foto: Divulgação
Cabine do novo Fiat 500 elétrico é moderna, mas plásticos poderiam ser melhores — Foto: Divulgação

A lista de equipamentos vai pelo mesmo caminho dos rivais. O 500e é bem completo. Destacam-se faróis de LED, quadro de instrumentos digital, central multimídia de 10,25 polegadas com integração Android Auto e Apple CarPlay sem fio, acesso por chave presencial, controle de velocidade adaptativo, assistente de permanência no centro da faixa, frenagem automática de emergência, alerta de veículo no ponto cego e teto solar.

É impossível não falar do 500 sem mencionar o design. Afinal, essa é uma das silhuetas mais icônicas da indústria. A releitura moderna preserva os traços básicos do carrinho dos anos 50, mas avança com faróis divididos e um corpo mais “musculoso”.

Pela primeira vez, o nome 500 substitui o logotipo da Fiat na dianteira. A ausência da grade não é nova. No modelo dos anos 1950, ela era dispensável porque o motor era na traseira.

Grade do novo 500e é coberta e não traz o logo da Fiat pela primeira vez — Foto: Divulgação
Grade do novo 500e é coberta e não traz o logo da Fiat pela primeira vez — Foto: Divulgação

Trilha sonora

A cabine é moderna e elegante. As portas com acionamento eletrônico são dispensáveis, ao passo que o plástico do topo do painel poderia ser de melhor qualidade. De todo modo, o 500e esbanja charme até no “ronco” artificial, inspirado na trilha sonora que o italiano Nino Rota fez para o filme Amarcord, de 1973.

Se você achou que esse charme ainda não é suficiente, trago boas notícias. A Fiat tomou lições com o pessoal da Jeep, e adotou alguns “easter eggs”. Os tapetes do puxador das portas trazem o desenho de um 500 original e a inscrição “Made in Torino”, enquanto o orgulho das origens é mostrado na base do carregador por indução com o desenho da linha de visão da cidade sede da empresa.

Easter egg com a linha de visão aérea de Turim no Fiat 500e — Foto: André Paixão/Autoesporte
Easter egg com a linha de visão aérea de Turim no Fiat 500e — Foto: André Paixão/Autoesporte

O 500e transita muito bem dentro de seu subsegmento. Ele não é o mais barato, nem o de maior autonomia e muito menor o mais potente. Mas não desaponta em nenhuma dessas categorias. É mais elegante e estiloso do que o Renault Zoe. E mais prático do que o Mini Cooper S E. E isso deve ser suficiente para esgotar os lotes importados da Itália pela Fiat.

Outros 500

Fiat 500 elétrico de primeira geração — Foto: Divulgação
Fiat 500 elétrico de primeira geração — Foto: Divulgação

Essa não é a primeira vez que o 500 tem uma versão elétrica. Em 2012, a Fiat lançou no Salão de Los Angeles uma versão movida a eletricidade. Com autonomia de apenas 160 km, suas vendas foram restritas ao mercado norte-americano.

A Fiat até chegou a exibir o primeiro 500 elétrico no Salão do Automóvel de São Paulo, mas nunca cogitou vender o pequeno no Brasil.

Ficha técnica

Motor Dianteiro, elétrico, transversal, assíncrono
Potência 118 cv
Torque 22,4 kgfm
Bateria 42 kWh
Câmbio Transmissão direta
Direção Elétrica
Suspensão Independente, McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios Discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira)
Autonomia 320 km (WLTP)
Comprimento 3,63 m
Largura 1,68 m
Altura 1,53 m
Entre-eixos 2,32 m
Porta-malas 185 litros
Rodas e pneus 195/55 R16
Peso 1.352 kg

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