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'Me sinto do povo', diz Bia Doria, a nova primeira-dama de SP

"Seu Eli, � a dona Bia. D� para entrar em casa ou tem gente na frente?". No volante de seu Porsche Cayenne, a futura primeira-dama de S�o Paulo ligava para casa aflita. Queria saber como avan�ava o protesto de ativistas que se deitaram no asfalto em frente � resid�ncia dos Doria na semana passada contra poss�veis mudan�as nas ciclovias.

Quarenta minutos antes, Bia, 56, que � artista pl�stica, deixara seu ateli� na Vila Nova Concei��o, a tr�s quil�metros de sua casa no Jardim Europa. Entrou no SUV preto fazendo o gesto de "acelera" do marido para os vizinhos.

Ela, ali�s, n�o sai muito dos bairros onde vive e trabalha. Lugares como o Minhoc�o ou o Baixo Augusta est�o fora de seu radar. "O Minhoc�o hoje para que serve? Quase nunca fui l�. � tipo um viaduto, n�?", pergunta a nova primeira-dama, que elogia os parques "lindos" de Sydney e as ciclovias de Cingapura —as de S�o Paulo ela acha perigosas demais e n�o se atreve a usar.

Tamb�m n�o se aventura pelo centro e desconhece a briga pela cria��o do parque Augusta, lembrando sua "boa rela��o com a Cyrela", uma das construtoras donas do terreno. "Onde � isso? N�o conhe�o. Imagina quem tem filhos no centro. V�o passear onde? Vou falar para o Jo�o que l� tem que ser parque."

Ali perto, Bia s� conhece a rua Avanhandava, que chama de "aquela vielinha tortinha onde fica a Famiglia Mancini". Na vis�o dela, � o �nico lugar na cidade onde � poss�vel "andar a p�, igual em Nova York".

"At� com o tr�nsito eu me acostumei", afirma, num sinal fechado. "Coloco o telefone aqui e vou respondendo WhatsApp. Olha como a vida � bela no Instagram", diz, mostrando no iPhone branco a imagem de uma amiga rodeada de sacolas da Herm�s, uma ta�a de champanhe na m�o.

DENTES

"No Morumbi tem aquela favela, n�? Parais�polis. Ali � a Eti�pia, mas eles respiram o mesmo ar, sentem o mesmo frio que a gente. Essa desigualdade tem que diminuir. N�o adianta ter uma funcion�ria que chega no ateli� e tem problemas de nutri��o."

"Imagina como eu ficaria feliz se chegasse uma arrumadeira j� sabendo fazer as coisas. Pouqu�ssimas delas sabem, a n�o ser as que j� passaram por v�rias casas, mas a� elas v�m cheias de manias."

Em seu ateli�, onde faz esculturas de madeira, m�rmore e bronze que pesam at� 20 toneladas, Bia se orgulha de ter transformado a vida dos assistentes. "Todos moravam em barracos e nem tinham dentes. Consegui casa para todos eles, dei dentes para eles, dei um plano de sa�de bom. Hoje eles se sentem felizes, at� se acham artistas porque s�o meus assistentes."

Bia, uma entre os 11 filhos de uma fam�lia que tinha uma f�brica de vassouras em Santa Catarina, tamb�m se diz pr�xima da popula��o por causa de seu trabalho. Conta que tem contato direto com agricultores que cedem os troncos usados em suas obras.

"Sempre me senti uma Evita Per�n, porque eu sou mais do povo, eu me sinto do povo", diz a artista, casada h� mais de duas d�cadas com o prefeito eleito e m�e de seus tr�s filhos. "Eu me dou muito bem com pessoas mais humildes. �s vezes � s� um aperto de m�o, �s vezes elas querem um abra�o. � t�o pouco o que elas querem."

ARTE ARTE

Artista pl�stica, ela lamenta que S�o Paulo tenha acervos muito "pobres" e se surpreende ao saber a situa��o das institui��es municipais, como o Museu da Cidade, que n�o tem espa�o f�sico.

Mesmo a Bienal de S�o Paulo, a mais tradicional do mundo depois da de Veneza, desagradou Bia Doria. "N�o gostei de nada l�. A gente est� fazendo campanha para n�o ter pneu em casa por causa dos pernilongos, e os caras v�o l� e p�em pneu", diz sobre a obra da portuguesa Carla Filipe, que criou uma horta com rodas de trator. "� que eu gosto de arte arte, telas e esculturas. N�o gosto daquelas instala��es muito modernas, qual � o nome disso mesmo?"

Nesse sentido, a cole��o que acumulou ao lado do marido tem Di Cavalcanti, Portinari, as gordinhas de Botero e um generoso conjunto de telas de Romero Britto, que j� retratou toda a fam�lia Doria e fez pelo menos cinco pinturas da primeira-dama.

"Tenho v�rios quadros dele", diz Bia. "O que eu aprecio no Romero � essa versatilidade que ele teve de fazer um marketing em cima de seu trabalho. Aquela coisa colorida � uma felicidade para os olhos."

Mas Bia n�o sente a mesma sintonia com artistas contempor�neos, em especial os que lideraram os gritos de "fora, Temer" na inaugura��o da Bienal agora em cartaz. "A gente est� parado h� dois anos e, se tirar o Temer, o pa�s vai ficar parado mais dois anos. Esses artistas t�m que ficar quietinhos e deixar o Temer trabalhar. O Brasil tem que andar agora."

Ou, como quer seu marido, acelerar. Na fam�lia, Bia diz ser a �nica que tinha certeza de que Doria seria eleito j� no primeiro turno. Apostou R$ 5.000 contra R$ 100 de um dos filhos, que achava que seu pai n�o se elegeria.

Na pele de primeira-dama, Bia sonha com uma cidade em que os parques e pra�as tenham mais esculturas, mas n�o as suas. "Isso n�o vai acontecer, porque o Jo�o � uma pessoa muito correta", diz. "Se for para colocar esculturas, v�o ser de outros artistas, porque sen�o seria... Como chama isso? Nepotismo?"

Sem ter abusado de seus contatos em Bras�lia, diz ela, Bia se orgulha de que obras suas estavam no Sal�o Negro da C�mara dos Deputados durante a vota��o do impeachment de Dilma Rousseff. Ficou feliz com o fato de as pe�as servirem muitas vezes de pano de fundo das reportagens na televis�o.

Nesse ponto, tanto a sa�da de Dilma quanto a vit�ria de seu marido em S�o Paulo parecem ter sido um desfecho triunfal para a derrocada do PT que ela tanto desejou.

"Fiquei muito triste quando o Lula se elegeu. At� chorei no dia em que ele tomou posse porque tinha certeza que eles iam desfalcar todas as empresas como fizeram", diz Bia. "Quando Eduardo Cunha levantou a hip�tese de impeachment, dei gra�as a Deus. N�o defendo o Cunha, mas ele tem atitude."

MODERNOSO CASUAL

Bia tamb�m aprovou a troca do terno do marido pelo su�ter apoiado sobre os ombros, que chama de estilo "modernoso casual", e diz que ele � "perfeito, chique".

Ela ainda n�o pensou no vestido que usar� na posse, mas afirma que n�o vai destoar de seu estilo. "Eu me sinto poderosa porque me dou bem na favela e me sinto bem de salto alto num jantar chiqu�rrimo da sociedade com talher de prata. Se me der uma enxada, eu me saio muito bem. Se me der um salto alto, tamb�m me saio muito bem."

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