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Por Paula Merlo / Revista Glamour


"I kissed a girl and i liked it" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
"I kissed a girl and i liked it" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Elas passaram boa parte da vida apaixonadas por homens até que... uma mulher as fez questionar tudo. Paula Merlo investiga histórias de sexo que explicam por que é cada vez mais comum mulheres se descobrirem lésbicas tardiamente.

Roberta, 34 anos, sempre namorou rapazes. Tipo: nunca deu selinho nas amigas nem de farra. Nada contra o movimento “I kissed a girl and I liked it”, eternizado pelo pop da musa Katy Perry, mas é que ela nunca viu graça nessa modinha. Até que um dia, há dois anos, recém-empregada numa agência de publicidade, se pegou pensando na amiga de baia durante o fim de semana. “Na semana seguinte, numa reunião, meu coração disparou quando ela olhou fundo nos meus olhos. Bateu um desespero. Passei dois meses tentando entender que diabos eu estava sentindo”, conta a jornalista.

Bem, aqui cabe a pergunta: o que leva uma mulher-feita – longe das descobertas da adolescência e da infância – a rever/questionar sua orientação sexual? “Quando desabafei com um amigo gay sobre essa paixão pela garota do trabalho, ele disse que eu estava carente, decepcionada com os homens e tal.

Tanto não era isso que estamos juntas há um ano e seis meses”, diz Roberta. O buraco é bem mais embaixo mesmo, Rô – leitora engraçadinha, é sem trocadilho, tá? “De acordo com Freud, o pai da psicanálise, diferente do instinto sexual animal, que tem sempre um objeto de interesse fixo, o foco da pulsão sexual dos seres humanos é extremamente variável.

A qualquer momento da vida, podemos mudar de interesses sexuais”, garante Simone Perelson, psicóloga, psicanalista e professora da UFRJ. “E digo mais: a sexualidade das mulheres é muito mais fluida que a dos homens. Nos seus estudos, o psicanalista Lacan explica: não somos marcadas inteiramente pelo Complexo de Édipo – que prega que as crianças sentem atração natural pelo sexo oposto (no caso das meninas, o pai).

O 1º amor tanto dos meninos quanto das meninas é a mãe. Pras meninas entrarem no Édipo, elas precisam abandonar a mãe como objeto e substituí-la pelo pai. Ou seja: nós mulheres já fazemos uma primeira transferência sexual ainda pequenas”, explica.

Late Booming Lesbians
O fenômeno, por assim dizer, das lésbicas que desabrocham mais tarde (tradução literal do termo acima) tem sido tão discutido lá fora que virou até estudo acadêmico – celebs que se assumiram tardiamente ajudaram a turbinar a discussão, óbvio. Em 2010, a convenção anual do American Psychological Association discutiu o tema em palestra capitaneada pela americana Christan Moran. “É curioso: quando alguém se assume lésbica mais velha, pensam que ela sempre foi gay ou bissexual, mas escondia ou reprimia seus sentimentos”, diz a pesquisadora. Mas a questão é mais profunda e complexa.

“Ninguém nasce homossexual ou heterossexual. Mas como nosso mundo é heteronormativo – ou seja, somos fortemente incentivados a ser heterossexuais –, é possível que a tentativa de cumprir os pressupostos da heterossexualidade seja o motivo principal da demora na aceitação de seus desejos por pessoas do mesmo sexo”, pondera Lívia Toledo, coordenadora do Núcleo de Sexualidade e Gênero do CRP-SP. Foi bem o que aconteceu com a arquiteta mineira Juliana, 31 anos.

Ela sempre teve curiosidade de ficar com mulheres, mas faltava coragem. Casou, teve
filho e separou-se depois de cinco anos. “Mais experiente e menos noiada, tratei de ir curtir
minha solteirice. Me permiti, então, ficar com mulheres. Minha primeira transa homossexual foi um divisor de águas na minha vida. Mulheres têm uma sensibilidade que faz o sexo
e o relacionamento irem pra um outro patamar de maturidade”, conta.

A gente faz nossas as palavras da psicanalista carioca Mônica Donetto Guedes: “Não podemos temporalizar as questões relacionadas ao amor, desejo e afetividade. As experiências, em qualquer período da vida, podem surpreender e nos fazer questionar o estabelecido. Nunca é cedo ou tarde pra repensar sua forma de educar e amar”.

Lésbicas maduras
Estas aqui se assumiram gays na idade adulta, vê só:

Cynthia Nixon, a eterna Miranda de Sex and The City (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour
Cynthia Nixon, a eterna Miranda de Sex and The City (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour

Cynthia Nixon
“Não foi estranho”, disse a atriz sobre o amor por Christine Marinoni, com quem está desde 2004.

Com direito a casamento na prisão e tudo,né?(Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour
Com direito a casamento na prisão e tudo,né?(Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour

Suzane Von Richthofen
Condenada pela morte dos pais, ela namora uma das detentas da penitenciária onde também cumpre pena.

Daniela se assumiu pro mundo e está muito bem, obrigada! (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour
Daniela se assumiu pro mundo e está muito bem, obrigada! (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour

Daniela Mercury
Em 2013, depois de dois casamentos, a cantora revelou sua paixão pela jornalista Malu Verçosa.

Assumiu de forma maravilhosa,né? (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour
Assumiu de forma maravilhosa,né? (Foto: Getty Images/reprodução) — Foto: Glamour

Jodie Foster
Haja coragem pra se assumir publicamente pro mundo num discurso em pleno Globo de Ouro, em 2013.

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