Salvo exceções pontuais, o mundo não deverá se recuperar já no próximo ano das perdas econômicas provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Nesse cenário de retomada incerta, a situação brasileira é particularmente precária.
Pelas projeções do Institute of International Finance (IIF), entidade que reúne 450 bancos e fundos de investimento, o Brasil amargará retração do Produto Interno Bruto de 5,9% neste ano e alta de 3,6% em 2021 —expansão inferior às esperadas para o mundo (5,3%), as economias avançadas (4,5%) e a América Latina (3,8%).
As estimativas locais para o impacto imediato da Covid-19 são ligeiramente menos pessimistas que as do IIF: calcula-se hoje encolhimento de 5% em 2020, conforme pesquisa do Banco Central. Em qualquer hipótese, trata-se do pior resultado anual já medido no país —e a continuidade de uma tragédia que antecede a pandemia.
A economia nacional acaba de experimentar uma recessão meteórica, concentrada nos meses de março e abril, antes mesmo de ter se recobrado dos efeitos da recessão anterior, longa e brutal, no período de 2014 a 2016.
Fecharemos a década com crescimento acumulado próximo de zero, um desempenho impensável para um país de renda média e enorme desigualdade social.
Não é de hoje, nem desta década, que o Brasil progride menos que o restante do mundo. Estatísticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que o país representava 4,4% da economia global em 1980; de lá para cá, a cifra caiu gradualmente a 2,4%.
A debilidade não se mostra apenas circunstancial, portanto, embora o momento atual apresente diversos problemas agravados.
A crise financeira global de 2008 apanhou o país em situação orçamentária relativamente confortável, o que permitiu ao governo atenuar os efeitos recessivos e acelerar a retomada por meio da expansão das despesas públicas.
Como a gastança não foi interrompida, entretanto, as contas do Tesouro já se encontravam em estado calamitoso quando foi necessário enfrentar a pandemia com uma escalada inédita de desembolsos.
Se o colapso momentâneo da atividade justificou a correta atuação emergencial do poder público, os patamares anômalos do déficit e da dívida pública tornam imperativo o retorno em breve ao ajuste fiscal —sob pena de não deixar para trás uma década perdida.
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