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Quem era Ebrahim Raisi, o presidente do Irão que morreu em queda de helicóptero?

Ultraconservador iraniano intensificou a repressão contra os críticos do regime. A morte de Mahsa Amini levou às maiores manifestações dos últimos anos e na sequência da repressão mais de 500 manifestantes terão sido mortos pelas forças de segurança.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, que morreu no domingo (19), num acidente de helicóptero, tinha 63 anos e estava a apenas um ano de terminar o seu mandato, que se iniciou em 2021. Durante os anos em que esteve na presidência, o clérigo de linha-dura ficou conhecido por ter conduzido o Irão de volta às crenças mais intransigentes e por ter intensificado a repressão contra os críticos do regime, que se manifestavam pelo país.

Presidency/WANA/Handout via REUTERS/
Apresentando-se como defensor das classes desfavorecidas, Raisi sucedeu a Hassan Rouhani. Nas eleições presidenciais, onde muitos dos candidatos moderados foram impedidos de participar, saiu vitorioso com 62% dos votos, naquela que foi a participação mais baixa de sempre (49%) por parte da população.

Acabou por assumir o poder num momento em que o Irão enfrentava múltiplos desafios, incluindo problemas económicos agudos, escaladas de tensões regionais e negociações paralisadas sobre o acordo nuclear com potências mundiais. O seu mandato ficou também dominado pela atual guerra entre Israel e o Hamas, grupo apoiado pelo Irão, e ainda pelos protestos antigovernamentais que varreram o país nos meses a seguir a setembro de 2022.

Estes protestos em massa, que exigiam o fim do regime clerical, desencadearam-se com a morte de Mahsa Amini, uma jovem que foi detida e espancada pelos Guardiões da Revolução, por supostamente estar a usar o hijab "indevidamente". Na altura, as autoridades negaram ter maltratado a jovem, mas uma investigação da ONU concluiu que foi "sujeita a violência física que a levou à morte".

Terão sido mortos depois 551 manifestantes pelas forças de segurança, a maioria terá sido baleada, segundo dados da ONU. Ao todo, podem ter sido detidos mais de 20 mil manifestantes.

Com a violenta repressão por parte do governo, os protestos começaram a diminuir. Contudo, o descontentamento permanece em relação ao regime clerical e às leis que obrigam as mulheres a tapar o cabelo. Muitas mulheres e raparigas deixaram de o fazer em público – como manda a lei iraniana – e por isso o parlamento e o presidente procuraram novas medidas repressivas.

O clérigo

Ebrahim Raisi nasceu em 1960 em Mashhad, a segunda maior cidade do Irão, e onde se encontra a sede do santuário muçulmano xiita mais sagrado do país. O seu pai era um clérigo, e morreu quando ele tinha apenas cinco anos.

Aos 15 anos, começou a seguir os passos do pai, tendo ingressado num seminário na cidade sagrada de Qom, e começou a usar um turbante preto que o identificava como descendente do profeta Maomé. Enquanto estudante participou em diversos protestos contra o Xá, apoiado pelo Ocidente, que acabou deposto em 1979 durante a Revolução Islâmica, liderada por aiatola Ruhollah Khomeini.

Após a revolução foi procurador em diversas cidades, enquanto era treinado pelo aiatola Khamenei - atual líder supremo do Irão e que se tornou presidente do país em 1981. Aos 25 anos chegou a procurador-adjunto em Teerão.

Durante o tempo em que ocupou este cargo, atuou como um dos quatro juízes que participaram nos tribunais secretos, criados em 1988, e que passaram a ser conhecidos como "Comité da Morte". Na altura, estes tribunais julgaram milhares de prisioneiros que já cumpriam penas de prisão pelas suas atividades políticas, sendo a maioria membros do grupo de oposição de esquerda, Mujahedin-e Khalq.

O número exato de pessoas que foram condenadas à morte pelos tribunais não é conhecido, mas os grupos de direitos humanos acreditam que serão cerca de 5 mil homens e mulheres, executados e enterrados em valas comuns não indentificadas. Em momento alguns os líderes da República Islâmica negaram as execuções. No entanto, Raisi sempre negou essa acusações.

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