• Adri Coleho Silva (@vivaacoroa)
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Barbie em homenagem a ativista  (Foto: Reprodução)

Barbie em homenagem a ativista (Foto: Reprodução)

Barbiecore. Vou falar sobre essa tendência antes de contar da nova Barbie em homenagem à Dr. Jane Goodall. Escreva #barbiecore nas buscas das redes sociais e encontre milhões de fotos de pessoas em looks totalmente pink. Por que?

Porque é a pedida da vez, em alusão à boneca Barbie, que ganhará filme em 2023 protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling. Cenas de divulgação entregaram parte do mundo pink do futuro longa. Antes disso, nas passarelas, o desfile Pink PP da Valentino trouxe o tom de volta às discussões.

Redes sociais, cinema, uma supermarca, celebridades aderindo… pronto, o hit e a # aconteceram. E daí, no meio disso, o lançamento da Barbie feita com material reciclado, em homenagem à primatologista e ativista Dr. Jane Goodall, nem ganhou a atenção merecida.

Barbie Jane Goodall (Foto: Divulgação)

Barbie Jane Goodall (Foto: Divulgação)

A boneca faz parte da coleção Inspiring Women™ e traz Dr. Jane com sardas no rosto e zero rugas. A Barbie que representa a mulher de 88 anos tem a cara lisinha, assim como a Barbie que faz ode à Iris Apfel, que tem 100 anos. Qual o sentido de criar representações de pessoas velhas como se fossem jovens?

Por que será que até as Barbies mais velhas são iguais entre si e tão diferentes da realidade? Não sei responder, mas fico curiosa. Tanto que fiz um post no @vivaacoroa para assuntar: E se a Barbie envelhecesse? E, ali nos comentários, li muita gente animada com a ideia de uma  Barbie enrrugadinha, com marcas de expressão, cabelos grisalhos ou até pintados…

A @viva60mais escreveu que já procurou bonecas e bonecos de idosos e não encontrou. Mesmo os que representam o vovô e a vovó têm rosto sem rugas, ela contou.  “Penso que os bonecos enrugados ajudariam a tornar o processo de envelhecimento mais aceito e com naturalidade”, completou. A @lizbucksilva escreveu, empolgada, que uma Barbie velha seria "a maior afronta à ditadura da juventude". Quem quer ditadura? E quem não quer uma dose de doce rebeldia?

Barbie Iris Apfel (Foto: Divulgação)

Barbie Iris Apfel (Foto: Divulgação)

Fica claro que a Mattel não quer considerar o fato de a boneca ser o símbolo de um padrão de beleza cruel e excludente – e de alienação. Uma pena. Até porque, quando foi criada nos anos 1950, por Ruth Handler, fundadora da empresa, a boneca tinha o objetivo de inspirar a independência feminina.

A maior parte das bonecas do mercado, na época, eram bebês. As crianças brincavam só de ser mães. A ideia da fabricante era oferecer outras possibilidades. O propósito se perdeu no tempo, enquanto a imagem da boneca se fortaleceu. O #barbiecore está aí como prova do maravilhamento que a boneca ainda desperta. Enquanto a ausência de rugas em bonecas que representam musas 80+, está aí como prova do horror que as rugas podem despertar. Mas…até quando?

Tudo, incluindo o mundo e a nossa vida, é exatamente do jeito que a gente enxerga. E eu escolho ver a Barbie como um brinquedo afetivo – sem fechar os olhos para a questão dos padrões. Por reconhecer o poder dela, amaria vê-la coroa. E você?