• Claudia Lima
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Claudia Lima (Foto: Reprodução)

Claudia Lima: os 50 são os novos 50 (Foto: Reprodução)

Causou furor nos últimos dias, duas passagens envolvendo mulheres e sua idade. A primeira foi a jornalista Ananda Apple, que, durante uma reportagem, "chocou" milhares de pessoas ao revelar sua idade: 61 anos. Durante a matéria - que falava sobre vacinação, ela disse que não gosta da palavra idosa. Prefere "pessoas mais velhas, aquelas que viveram mais tempo."

Nesta semana, a TV Globo fez o anúncio de um especial em comemoração aos 50 anos de Ivete Sangalo, no próximo dia 27. Durante a chamada, uma voz dizia "A gente sabe que não parece, mas nossa Veveta completa 50 anos".

Por que uma mulher linda dizer que tem 50, 60 anos, 70 anos, causa tanto frisson? Ou seria estranhamento?

Não há dúvidas de que, hoje, envelhecemos de maneira muito diferente. A geração X, nascida entre 1965 e 1981, é a primeira que age e se sente confortável em sua idade, ou melhor, sendo quem é. E a tendência é que isso não mude. Por que? Porque finalmente, estamos conseguindo nos desprender de padrões antigos que ditavam a maneira como uma mulher "de certa idade" deveria se vestir, parecer ou se comportar. Ufa, mas será mesmo que conseguimos?

Não. É só ficar atenta para notar que, apesar de toda esta mudança, uma coisa ainda continua: mulheres são cobradas o tempo todo para permanecerem com a aparência sempre jovem.

E, mesmo se estiverem com uma idade dita "avançada" para os padrões, mas com um cara linda e lisa e um corpo "em cima", a sociedade faz questão de nos dar um troféu, o "não parece", como se nos parabenizassem por termos conseguido - apesar da idade - este feito incrível de nos mantermos bonitas, sexy, ativas e desejáveis. Afinal, vocês sabem, tudo bem envelhecer (na idade), desde que a gente faça de tudo para manter a aparência jovem.
Por que o envelhecimento tem esta pecha de maldição? É como se dissessem: "Você pode fazer 50, 60, o quanto for, desde que não pareça". E daí ter 50, 60, 70 ou sei lá quanto anos? Qual é o grande problema?

É inacreditável como as pressões estéticas recaem sobre as mulheres em todas as fases da vida. E aí um belo dia você está lá, vivona, trabalhando, viajando, saindo para beber com os amigos, namorando, cuidando dos filhos (se os tiver e eles ainda morarem com você), tendo netos e sendo apenas você e de repente cai uma bomba cheia de preconceitos para te lembrar que, por ser uma mulher de 50 anos, acabou a festa. Mudou o jogo e só te resta pegar o seu banquinho e sair de cena, de mansinho.

Envelhecer, não custa repetir, é um processo natural da vida, assim como nascer e crescer. E precisamos aprender a conviver com isso (nós e os outros) e lutar contra o etarismo, o preconceito de idade, que está enraizado em todas as camadas e que faz inclusive, que garotas de 25 anos já lotem consultórios médicos simplesmente porque não suportam a ideia de ter (sim, porque nem apareceram) marcas do tempo que "denunciem" que estão velhas.

Nós queremos e vamos continuar gritando pelo direito de poder viver plenamente, sem se esconder, omitir e parecendo sim ter a idade que eu temos. Com o corpo que temos. E que a gente não se esqueça: nunca fomos tão potentes, atualizadas, seguras, engraçadas e animadas com a vida. Com uma mulher de 50 anos. E seguiremos assim, aos 60, 70, 80, 90 e até onde der. Aceitem.