• Claudia Lima (@claudialima)
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Jennifer Lopez (Foto: instagram/reprodução)

Jennifer Lopez (Foto: instagram/reprodução)

Eu amo a Jennifer Lopez. Desde muito antes dela se tornar esse símbolo midiático que faz de tudo o que acontece em sua vida um grande evento. Sou do tempo de J-Lo dançarina tímida, fazendo uma ponta na série The Living Single. Que namorou P. Diddy (ela nega, mas era o casal mais hot da época, tipo Bonnie & Clyde) e que não saía da MTV com os hits que estão nas minhas playlists e que danço até hoje. Dos filmes água com a açúcar que sempre corro para ver quando rola uma reprise. Eu amo a J.Lo: acho linda (maravilhosa!!!), poderosa, deliciosamente kitsch às vezes, uma mulher latina que desafia mesmo uma indústria ainda majoritariamente branca que insiste que só existe um tipo de beleza.

A mesma J-Lo que tomou conta das manchetes neste fim de semana por conta do ensaio em que posou nua para comemorar seus 53 anos, completados no último domingo. O que chamou a atenção de todos - e a minha também - foram as imagens da campanha: nelas, a atriz aparece com aquele corpo escultural (que não se contesta) e aproveita para lançar um um balm que promete não só firmar o bumbum quanto acabar com todo sinal de celulite, produto de sua marca de beleza J-Lo Beauty.

O fato é que o aniversário mesmo, a celebração de mais um ano de vida, nada disso chamou atenção. O que deixou todo mundo boquiaberto foi o fato da atriz reforçar, por trás de uma imagem fashionista, perfeita e com muito filtro, o que seria uma mulher de 53 anos. E claro, os efeitos no corpo de quem usasse o cosmético.

No mundo de Jennifer Lopez, ela teria cabelos incríveis que se movem ao sabor do vento e um corpo esculpido em pedra. Tem quem queira? Sim, e tudo bem. Mas definitivamente, é algo que a grande maioria das mulheres como nós, em seus 50 e poucos anos dificilmente irá alcançar tendo apenas comendo bem, tendo uma rotina normal de exercícios e vivendo a vida com o prazer que a gente merece. Mas será que todas queremos isso? Eu, não mais. E você?

A grande questão não é o fato de que J-Lo possa ou não ter este corpo aos 53 anos. Ela pode tudo, afinal as mulheres são livres para fazer o que quiser. Mas no momento em que finalmente estamos começando a cortar os nós da opressão que nossos corpos vivem em todas as fases da vida - e muito mais na maturidade - minha querida Jennifer Lopez vem mais uma vez dar um tapa na cara da sociedade, incutindo em nossas mentes a ideia de um corpo perfeito, à prova de tudo, MESMO com 53 anos.

Quando digo incutir em nossas ideias, quero dizer que sendo uma figura pública, midiática, amada e copiada por todos, seria louvável que, por isso mesmo, ela tivesse consciência e responsabilidade de não continuar propagando esse tipo de ideia do corpo absolutamente perfeito (ainda mais usando filtros e photophop).
Sim, porque até mesmo nós, analisadas e "terapeutizadas", que aos trancos e barrancos estamos conseguindo abraçar e acolher nossa idade, a mudança do corpo e aceitando que tudo o que vem com a maturidade é NORMAL, sentimos, ali no fundo, uma ponta de inveja misturada a um sentimento de "Caramba, Jennifer, quando a gente tava conseguindo se desvencilhar um pouco de tudo isso, lá vem você de novo!".

Acho que toda mulher é livre para fazer o que quiser do seu corpo e tem plenos poderes sobre ele. Jennifer Lopez inclusive. Mas soa como se tudo fosse irreal demais e a serviço de uma indústria que insiste em nos oprimir. Assim fica difícil, amiga.

Pois ela jura que não é esta a intenção: em uma entrevista recente à revista People, Jen disse frases como "Quando se trata de beleza, não há “data de validade”. "Crescendo, eu admirava pessoas como Diana Ross, Cher e Tina Turner, que estavam na casa dos 50 anos e eram lindas e tinham muito destaque na época. Estou em um business onde a juventude é glorificada e as pessoas tentam apagar, especialmente as mulheres, a passagem do tempo.” E acrescentou que “Acredito que você pode parecer e se sentir incrível e sexy em qualquer idade.” Também em seu especial no Netflix, Halftime, ela conta como foi dificil seu caminho tendo de atender aos padrões americanos de beleza, contra inclusive seu corpo curvilínio. Então... não dá pra entender. 

Sim, querida e é justamente por isso que estamos lutando. Para mostrar que não importa o tipo de corpo - alto, magro, gordo, gordinho, sarado, normal - somos todas belas e sexys, cada uma à sua maneira. Mas aí uma mulher admirada pela carreira, pela beleza e por nunca desistir do amor vem e esfrega em nossas caras que devemos cuidar muito bem das nossas bundas, fazendo, além de tudo, propaganda enganosa. É tão mais legal ve-la em seu especial de cara lavada, um coque mal-feito, a pele imperfeita. Precisamos sempre estar tão perfeitas??? Não!!!

Tenho aqui uma teoria. A mim, todo este movimento/comportamento, parece uma certa dificuldade em aceitar o envelhecimento. Porque veja: não importa a idade, pode ser 50, 60, 70, é preciso estar translumbrante o tempo inteiro.  Aliás, quanto mais idade, mais fora de série (ou jovem na verdade), deve-se parecer, "só de raiva". Será? E mais: essa pressão, não acaba nunca?

Apesar de achar que todas as mulheres são livres para fazer e ter o corpo que quiserem, sou muito mais a Viola Davis que tem um corpo sarado porque visivelmente gosta de cuidar da saúde com exercícios físicos. E a Emma Thompson, que aos 62, expôs toda a sua vulnerabilidade por ter de aparecer em nu frontal por conta do trabalho exibindo um corpo de uma mulher de 60 anos. Também sou mais a Tina Turner, que vive belérrima em seu chateau na Suíça imagino que só curtindo as coisas boas da vida e uma boa tacinha na mão. E sou mais eu, que, mesmo gordinha, fora do peso, estou tentando trabalhar menos, deixar de ser negligente comigo mesmo e ter uma vida mais saudável e condizente com a de uma mulher brasileira de 52 anos. Com meu corpo, minha bunda grande e minha barriga imperfeita. É fácil chegar até aqui? Nunca! Mas estou no caminho.

Sejamos nós, sempre! Livres!