• Nathalia Fuzaro
Atualizado em
respiração (Foto: Divulgação)

A respiração consciente entrou em pauta e exercícios ajudam a aprimorá-la (Foto: Divulgação)

Como escrevi para a Vogue de maio, respirar nunca foi tão valorizado como é atualmente e virou sinônimo de saúde graças ao coronavírus. Durante a apuração para a matéria impressa, conversei com médicos e terapeutas sobre a tal "respiração consciente" e descobri um método americano focado em desenvolver a capacidade respiratória que ganhou livro, TED Talk e faz sucesso mundo afora. The Breathing Class foi desenvolvido pela médica Belisa Vranich e já ajudou mais de 10 mil pessoas com a prática diária de exercícios por 14 dias. Resolvi testar - e o resultado é impressionante.

Hoje, o treinamento conta com diversos instrutores e a possibilidade do aluno fazer aulas online. Marquei com uma professora brasileira (que mora em San Diego) em uma sexta-feira, às 17h. A doutora Belisa quis pessoalmente dar um alô antes de tudo começar e falar sobre a importância do tema neste momento de pandemia. Segundo ela, respirar adequadamente ajuda até a diminuir o risco de contaminação (devido à maior imunidade e saúde mental) e de cura, já que você aprende a expectorar também.

Em seguida, Laura Pelosi começou a avaliação e a prática. Ap��s algumas respirações pausadas e profundas, a brasileira observou que o meu problema é o mesmo de grande parte das pessoas: respirar verticalmente, para cima, só com a parte superior dos pulmões. Isso me causa dores frequentes nos trapézios e no pescoço, pois inconscientemente tensiono o corpo simplesmente para respirar. Quando o certo é o contrário, respirar horizontalmente, trazendo mais oxigênio para o corpo ao expandir o diafragma e usar a parte inferior dos pulmões (que é a maior parte).

A "breathe coach" me explicou que, assim como o corpo e a mente são treináveis, o sistema respiratório também é. E que é possível medir a sua capacidade e ir acompanhando a evolução, o que eles chamam de "Breathing IQ" (ou QI da respiração). Da mesma maneira, se você diminuir ou parar com a prática, o sistema respiratório fica "fora de forma". Então, como estou beeem fora de forma neste quesito, Laura me ensinou três simples exercícios para iniciantes.

Dr. Belisa em ação em uma de suas aulas da The Breathing Class (Foto: Divulgação)

Dr. Belisa em ação em uma de suas aulas da The Breathing Class (Foto: Divulgação)

O primeiro é bem simples: deitada de barriga para cima, coloco uma revista (curiosamente usei Vogue) no final das costelas, sobre o umbigo. O desafio é inspirar e observar com o canto dos olhos a revista se movimentar para cima (no sentido do teto) ao inspirar, e para baixo ao expirar - nunca para trás (rumo ao meu queixo). O segundo lembra as pranayamas da ioga e consiste em abrir o peito ao inspirar e encolher o abdômen ao expirar, curvando as costas com os movimentos (como as posturas gato e vaca, só que sentada). Por fim, e para mim o mais complexo, vem o trabalho lateral: sentada com as pernas cruzadas, o braço direito se eleva e a mão abraça a cabeça do lado esquerdo. A ideia é respirar e observar o lado direito do corpo se mover naturalmente, como se o lado direito se expandisse e movimentasse um pouco mais. Aí repete com o lado esquerdo.

Parece fácil, mas não é. Trata-se da reeducação de algo que fazemos inconscientemente o tempo todo! Ou seja, o corpo estava viciado em uma dinâmica e agora tenho que ensiná-lo a fazer diferente. Mas, como a Laura mesmo disse, o simples fato de eu ter aprendido já me coloca a vigiar a respiração e a fazê-la de forma mais consciente. O certo é realizar 15 repetições de cada exercício três vezes ao dia. Me prometi fazer ao menos uma vez ao dia durante 14 dias. Como a série dura cerca de 10 minutos, achei possível. O importante era praticar com consciência, calma e concentração.

Mesmo com algumas falhas - a bem da verdade, esqueci um dia ou outro - percebi resultados impressionantes! Antes eu sentia mais dores nas costas e no pescoço, o pensamento era mais agitado, o sono mais sensível. No começo, eu inspirava por no máximo 6 segundos e sentia uma espécie de tontura ao final da prática - o que eles chamam de "breathing high". Agora, conto até 10 com tranquilidade, durmo mais profundamente, sinto menos ansiedade e percebi melhora até na mobilidade lateral (meu lado direito era mais travado). Também estou explorando a respiração como estratégia para despertar, ao inspirar e expirar com intensidade, ou relaxar, mais devagar e profundamente. O movimento se torna cada dia mais consciente e definitivamente vou continuar praticando e estudando o assunto.