PetExpertise, com Ana Claudia Balda

Por Por Ana Claudia Balda


Em alguns casos, problemas em órgãos internos podem se manifestar na pele — Foto: ( Unsplash/ Sandy Millar/ CreativeCommons)
Em alguns casos, problemas em órgãos internos podem se manifestar na pele — Foto: ( Unsplash/ Sandy Millar/ CreativeCommons)

A pele é um órgão com função de proteção, que recobre toda a superfície corpórea e, por ser visível, acaba sendo um dos sinalizadores de que algo não está bem no organismo dos cães e dos gatos. Os pelos, que são anexos da pele, da mesma forma, tornam-se opacos, sem brilho e sofrem, inclusive, mais queda, caso algo esteja errado.

Por essa razão, quando há alguma alteração na pele ou nos pelos, o tutor tende a procurar um médico-veterinário com a queixa dermatológica, já que é um órgão visível, mas, muitas vezes, a causa do problema está em um órgão interno.

Existem inúmeras doenças sistêmicas que desencadeiam reflexos cutâneos, mas as que notamos de forma bastante comum na rotina, principalmente em animais idosos, são as endocrinopatias. Doenças hormonais, como hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo, geralmente cursam com alopecia simétrica bilateral, sem prurido. Então, chama a atenção do tutor essa falha de pelo sem coceira, e, muitas vezes, essa lesão é o que faz o tutor levar o pet ao veterinário.

Durante a anamnese é muito importante detectar se há poliuria, polidipsia (inclusive monitorando o volume de ingestão hídrica em 24 horas), polifagia, que normalmente estão associados ao aumento de volume abdominal por deposição de gordura (lipólise) nessa região. Pele adelgaçada, lesões como púrpuras, petéquias em região abdominal e linfangiectasia. Essas manifestações acontecem no paciente com hiperadrenocorticismo (HAC).

As endocrinopatias são exemplos comuns de doenças sistêmicas com manifestações cutâneas, sobretudo em pets idosos — Foto: ( Unsplash/ Pablo Arenas/ CreativeCommons)
As endocrinopatias são exemplos comuns de doenças sistêmicas com manifestações cutâneas, sobretudo em pets idosos — Foto: ( Unsplash/ Pablo Arenas/ CreativeCommons)

No caso do hipotireoidismo, é comum o tutor notar o cão mais apático, termofílico, ou seja, à procura de lugares mais quentes com luz solar e cobertas. No exame físico pode haver diminuição de temperatura corpórea e de frequência cardíaca.

Há exames complementares dermatológicos importantes a serem realizados. O primeiro deles é o parasitológico de raspado cutâneo ou o teste da fita, para que se descarte a possibilidade de demodiciose. Outro é o cultivo que descarta a dermatofitose, já que também são dermatopatias secundárias a imunossupressão.

O médico-veterinário também deve solicitar exames de triagem, como hemograma, dosagem de colesterol e triglicérides, perfil renal e hepático. No HAC é comum que hajam aumentos importantes de atividade sérica de fosfatase alcalina e de colesterol e triglicérides. No hipotireoidismo, além da hiperlipidemia, a anemia normocítica, normocrômica também é achado frequente. Essas alterações podem ser encontradas em várias doenças, não são necessariamente típicas de condições endócrinas, apesar de bastante sugestivas.

A investigação definitiva deve ser realizada por exames de imagem, como ultrassom de abdôme para avaliação de aumento de adrenais bilateral, na maior parte das vezes, e teste de supressão com dose baixa de dexametasona, que podem concluir o diagnóstico. Há fármacos que podem ser indicados para o controle da doença, quando a neoplasia é de origem hipofisária e se for de origem adrenal (menos comum) pode-se considerar a intervenção cirúrgica.

Já no hipotireoidismo, costuma-se solicitar T4 livre e TSH, que respectivamente estão baixo e elevado nas dosagens por conta da retroalimentação, para concluir o diagnóstico mais específico da doença. O tratamento é a reposição do hormônio tireoideano, com a qual o paciente fica muito bem.

O exame histopatológico é muito importante para o diagnóstico de doenças sistêmicas com manifestações cutâneas — Foto: ( Unsplash/ Ryan Stone/ CreativeCommons)
O exame histopatológico é muito importante para o diagnóstico de doenças sistêmicas com manifestações cutâneas — Foto: ( Unsplash/ Ryan Stone/ CreativeCommons)

Os gatos apresentam hiperadrenocorticismo de forma rara e, no caso de alterações de tireóide, apresentam de forma muito mais frequente o hipertireoidismo. Nessa doença endócrina, o metabolismo acelera e, ao contrário do cão, o gato emagrece, apresenta frequência cardíaca aumentada e pode ter presença de escamas na pele decorrente da epidermopoiese mais acelerada. O tratamento pode ser prescrito à base de medicamento ou terapia com iodo.

A síndrome hepatocutânea ocorre em decorrência de quadros graves, geralmente cirrose hepática, em cães e pela diminuição da produção de aminoácidos pelo fígado em função da doença primária, há hiperqueratose e perda de tecidos em coxins, região perianal e peribucal. Dessa forma, é comum que o tutor traga o cão em função da lesão de pele.

Nos gatos também ocorrem as síndromes paraneoplásicas que estão ligadas à descamação cutâneas e neoplasias em órgãos internos, que podem ser graves, inclusive com prognóstico reservado. Novamente, por ser um órgão visível, a pele é o que chama a atenção.

Nessas diversas doenças com reflexos cutâneos, o exame histopatológico é muito importante. Há profissionais especializados em dermatopatologia e complementando o histórico, exame físico com as lesões com achados histopatológicos, é possível estabelecer o diagnóstico mais preciso, de forma mais precoce, para que o paciente possa ter qualidade de vida e a melhor terapia disponível para controle da doença.

No próximo mês vamos discutir a comunicação clínica e o quanto isso auxilia a compreensão e adesão dos tutores na nossa rotina. Até lá!

A médica-veterinária dermatologista Ana Claudia Balda é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Divulgação)
A médica-veterinária dermatologista Ana Claudia Balda é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Divulgação)

A Profa. Dra. Ana Claudia Balda é médica-veterinária dermatologista, diretora da Escola de Medicina Veterinária da FMU, professora temporária da USP e sócia-proprietária da clínica Derme for Pets.

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