O consórcio é um produto financeiro exclusivamente tupiniquim e foi criado em um período da economia em que não havia muito crédito disponível. Basicamente, ele é uma forma de poupar em grupo, com outros aplicando junto com você. Todo mês uma pessoa é contemplada com a carta de crédito no valor adquirido.
O intuito é planejar a compra de um bem de maior valor, como uma casa ou um automóvel – ou às vezes até de serviços, como cirurgias plásticas, festas de casamento, viagens, etc...
Nascido na década de 1960 junto com a indústria automobilística brasileira, a ideia de unir um grupo de pessoas poupando seu dinheiro juntas para a compra de um bem ganhou ainda mais força nos anos 1980 com a instabilidade dos preços com a hiperinflação.
As pessoas usavam consórcio até para comprar TV e videocassete. Lembra do videocassete Panasonic quatro cabeças? Era um hit, todo mundo queria ter um desses em casa.
Os tempos mudaram, não vivemos hiperinflação mais – ainda bem, né? –, mas muita gente ainda recorre aos consórcios para conseguir comprar bens de valor elevado, como apartamento e veículos.
Dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) de janeiro – o mais recente até a publicação desta matéria – mostram que o número de participantes ativos em consórcios era de 7,16 milhões de pessoas.
É muita gente mesmo. Para você ter uma ideia, o Tesouro Direto tinha 896.330 investidores ativos em fevereiro.
Você paga para guardar dinheiro
Os participantes de um consórcio precisam pagar uma taxa para que as administradoras cuidem do dinheiro e dos créditos concedidos aos contemplados, ou seja, faça a gestão do produto financeiro.
Essa taxa varia entre 15% e 20% sobre o valor total, conta Márcio Wolter, planejador financeiro pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros).
“É uma maneira de você pagar para guardar dinheiro”, afirma Juliano Custódio, assessor financeiro e CEO do Eu Quero Investir.
Além da taxa de administração, Wolter explica que ainda podem ser cobrados outros valores, se estiverem estabelecidos em contrato. Veja quais são:
- Fundo de Reserva – destinado a garantir o funcionamento do grupo no caso de inadimplência. Os recursos desse fundo que eventualmente sobrarem no fim do grupo serão devolvidos aos cotistas. Geralmente este custo é de cerca de 2%.
- Seguro – eventualmente há a contratação de seguro de vida – para pagar as prestações a vencer do consorciado –, o de cobertura para quebra de garantia e o de seguro desemprego, que paga algumas prestações caso o participante perca o emprego.
“O custo depende muita da negociação da administradora e o tamanho da segurança que ela pretende ter”, explica Custódio.
Deu para perceber que, no fim das contas, você guarda o dinheiro em uma instituição e ela não te paga juro nenhum por isso. Pelo contrário, cobra taxas e você sai com menos dinheiro do que “aplicou”. Ou seja, assim como “presente de grego”, este é um “investimento de grego”.
“Só existe um lugar no mundo que existe consórcio, é uma invenção brasileira. Se fosse realmente bom alguém já teria nos copiado. Consórcio é pior que título de capitalização”, diz o consultor.
Lembrando que isso também não é elogio nenhum para o título de capitalização. Esse é um páreo duro pra ver qual é pior para o bolso do investidor.
Consórcio X financiamento
Muitas pessoas ficam em dúvida entre fazer um consórcio ou buscar por um financiamento. Vou dizer algo que você já deve saber, especialmente para comprar carros e imóveis. O ideal é que você se planeje para adquirir o bem que deseja (Já viu nossas matérias sobre como organizar suas contas e ainda sobrar dinheiro para investir? Veja aqui).
Entre consórcio e financiamento, é preciso fazer contas. Na maior parte das vezes o financiamento sai ganhando, especialmente com o baixo patamar atual da taxa básica de juros.
“O financiamento possibilita a quitação do saldo devedor economizando em juros que seriam pagos futuramente. No consórcio, não há esse ‘desconto’, as taxas são cobradas integralmente”, diz Wolter.
Além disso, se você tem pressa para adquirir o bem, o financiamento proporciona a compra imediata. Se você pode esperar até ser contemplado pelo consórcio, então considere investir e comprar à vista ou dar uma entrada maior em imóveis e veículos, por exemplo.
Investir em aplicações que rendem a variação da inflação mais juros, como o Tesouro IPCA+ e alguns CDBs (Certificados de Depósito Bancário) ajuda a garantir seu poder de compra ao longo do tempo.
Faça seu “consórcio próprio”
Muita gente decide entrar em um consórcio por não ter disciplina para separar, todos os meses, uma parte do orçamento e investir. Mas já pensou que você pode “se pagar” mensalmente, recebendo juros, até obter a quantia necessária para comprar seu apartamento, carro...?
“Se a desculpa é a falta de disciplina, há opções como a previdência privada do tipo VGBL”, lembra o planejador financeiro da Planejar.
Juliano Custódio também acredita que a previdência do tipo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) pode ser uma boa opção para os indisciplinados, já que o valor para o investimento mensal pode ser colocado em débito automático.
Também é possível investir em títulos do Tesouro Direto se o banco em que você tem conta não cobrar taxa de custódia e oferecer o serviço de investimento automático.
Que tal da próxima vez que o gerente te oferecer um consórcio, você responder que prefere investimentos automáticos no Tesouro Direto? Isso pode te ajudar a ser mais disciplinado sem cair em ciladas. Pense nisso.