Os juros oferecidos no mercado de títulos públicos bateram um novo patamar histórico nesta quarta-feira (12), em comparação à sessão de ontem, seguindo o amargo de dias de volatilidade. Na última segunda-feira (10), algumas taxas já haviam batido recordes, na esteira dos acontecimentos fiscais e monetários do Brasil e dos Estados Unidos.
O destaque do fechamento é o papel IPCA com vencimento em 2035, que encerrou o dia oferecendo retorno real de 6,39%. O patamar a partir dos 6% já tem sido recomendado por analistas por ser considerado um retorno atrativo, além da função de proteção da carteira que o título tem contra a inflação.
Entre os prefixados, o papel com vencimento em 2031 pagava 12,30%. Nesse caso, a recomendação é que o investidor que pensa em comprar o título seja um pouco mais cauteloso e não alongue muito o investimento.
Nesta quarta, o Federal Reserve (o Fed, banco central americano) decidiu manter os juros por lá no patamar atual, de 5,25% e 5,50%, decisão já esperada pelo mercado. O foco do mercado foi nas falas do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell.
Questionado sobre a projeção do núcleo da inflação medida pelo PCE, o indicador de inflação preferido do Fed, em 2,8% no final do ano, sendo que já está próxima de 2,7%, Powell disse que essa é "uma forma conservadora de fazer previsões. A inflação de hoje foi bem-vinda e esperamos ver mais leituras assim". Para analistas, no entanto, o Fed deixou em aberto o que virá.
Por que os juros nos Estados Unidos é tão importante para o mercado de títulos públicos no Brasil?
No geral, o que envolve os juros nos Estados Unidos movimenta a renda fixa por lá também, em especial os títulos públicos deles. E se a maior e mais segura economia do mundo paga bem, pode haver uma debandada dos investidores por aqui. Por isso, as taxas aqui tendem a oferecer mais prêmio de risco.
O que acham os analistas?
Para o sócio e chefe de renda fixa da Nippur Finance, Jonathan Caye, o aumento da taxa dos títulos públicos dos últimos dias deve atrair mais investidores para o Brasil. "Essa faixa de remuneração que o Tesouro tem atualmente, de IPCA mais 6%, a gente só viu nos últimos cinco anos em 11% dos pregões, então é uma taxa rara, um pouco mais difícil de ser conseguida ainda mais com o risco soberano e isso vale também para a série prefixadas pagando mais de 12%".
O sócio da TAG Investimentos, Marco Bismarchi, vê oportunidade para novos investidores. "Se a gente tiver, eventualmente, uma saída do Haddad, por exemplo, pode piorar mais porque ele é um dos principais guardiões de algum fiscalismo do governo. Mas são boas taxas".
Os analistas concordam que o investidor que comprar os títulos indexados ao IPCA pagando mais de 6% e carregar por pelo menos dois anos, não deve perder do CDI. Mas no caso de sair no meio do caminho, também pode amargar perdas no caso de piora do cenário.
Vale lembrar que as taxas e preços dos títulos são inversamente proporcionais. O que significa dizer que, tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço e vice e versa. Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem possui os títulos na carteira.
Fechamento dos títulos públicos nesta quarta (12)
Título | Rentabilidade anual | Investimento mínimo | Preço Unitário | Vencimento |
TESOURO PREFIXADO 2027 | 11,66% | R$ 30,20 | R$ 755,04 | 01/01/2027 |
TESOURO PREFIXADO 2031 | 12,30% | R$ 32,87 | R$ 469,60 | 01/01/2031 |
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2035 | 12,10% | R$ 37,12 | R$ 928,23 | 01/01/2035 |
TESOURO SELIC 2027 | SELIC + 0,0881% | R$ 149,14 | R$ 14.914,45 | 01/03/2027 |
TESOURO SELIC 2029 | SELIC + 0,1550% | R$ 148,41 | R$ 14.841,81 | 01/03/2029 |
TESOURO IPCA+ 2029 | IPCA + 6,37% | R$ 31,71 | R$ 3.171,22 | 15/05/2029 |
TESOURO IPCA+ 2035 | IPCA + 6,39% | R$ 43,78 | R$ 2.189,15 | 15/05/2035 |
TESOURO IPCA+ 2045 | IPCA + 6,33% | R$ 35,89 | R$ 1.196,35 | 15/05/2045 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2035 | IPCA + 6,38% | R$ 41,96 | R$ 4.196,28 | 15/05/2035 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2040 | IPCA + 6,29% | R$ 42,62 | R$ 4.262,21 | 15/08/2040 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2055 | IPCA + 6,33% | R$ 41,40 | R$ 4.140,90 | 15/05/2055 |