O banco Inter anunciou nesta manhã de terça-feira (06) que vai passar a distribuir ofertas públicas a pequenos investidores com o benefício de devolução de 50% da comissão de distribuição. O objetivo é aumentar o acesso desse público a emissões de renda fixa e variável, como títulos de dívida corporativo, fundos imobiliários e ações.
A estimativa do Inter é que os grandes bancos, principais emissores e distribuidores desses ativos, tenham recebido cerca de R$ 4 bilhões pela coordenação e distribuição de ofertas públicas em 2020. Em 2021, pelo menos R$ 1 bilhão deve ir para as grandes instituições pela venda desses produtos a clientes pessoas físicas.
“Além do bolso gordo que recebe na cabeça, existem privilégios para os bancos. Quando uma instituição é coordenadora líder, ela recebe ainda comissão de sucesso de cerca de 30% sobre a diferença entre as taxas de juros prevista e o que ela consegue colocar no mercado. Além de ser conflituoso, porque sempre vai querer colocar a emissão a um valor mais alto, a empresa deixa de captar a um juro menor e essa diferença não vai para os investidores, mas sim fica com o banco coordenador”, aponta Lucas Fonseca, diretor de Produtos do Inter Invest, área de Investimentos do Inter.
Ele cita ainda que passado o período de “lock up”, que é o prazo legal em que os membros de uma empresa (incluindo gestores, funcionários e investidores pré-oferta pública) não podem vender seus papéis, os ativos costumam ser negociados no mercado secundário a uma taxa menor do que vendido pelos bancos coordenadores, o que também torna menos interessante aos investidores que entram depois.
Perguntado pelo Valor Investe se há demanda para este tipo de papel, uma vez que a indicação de especialistas é sempre de diversificação de investimentos, Felipe Bottino, diretor da Inter Investe, disse que os fundos imobiliários, por exemplo, são ativos muito aderentes com o investidor pessoa física e que há ainda possibilidade de distribuição de fundos de crédito e debêntures incentivadas com o benefício do repasse dos rebates também.
“A falta de transparência hoje do segmento é tão grande quanto a demanda. Diversas emissões que não tenham taxa de distribuição atraente nem chegam nas plataformas. muitos bancos nem se interessam a distribuir o produto se não forem coordenadores-líderes. Além de prover acesso, teremos taxas menores e vamos repassar metade das comissões aos investidores”, respondeu o executivo.
Bottino também comentou que anunciará uma parceria com uma grande casa de gestão de fundos imobiliários que ficou interessada com a “oportunidade que o Inter está trazendo ao mercado”.
A aplicação inicial mínima para fazer parte das emissões não deve, porém, ser diferente do que resto do mercado. Em geral, começam com R$ 1 mil.
Segundo os executivos, o objetivo da área de investimento do Inter hoje é oferecer serviços de gestão de riqueza (Wealth Management) a investidores pequenos. Isso é feito, por exemplo, dentro das comunidades de investidores que o banco criou. Qualquer pessoa pode se cadastrar, criar uma comunidade e achar amigos e parentes para entrar com ela. A ideia é que, ao somar valores cada vez maiores investidos, as pessoas da comunidade ganhem benefícios, como taxas mias atrativas de produtos de renda fixa e cashback de rebate para fundos de investimentos.
Outra frente é a de fundos de fundos de investimentos (FoFs) de grandes gestoras que seriam pouco acessíveis ao pequeno investidor, seja porque estão fechados ou porque exigem um investimento mínimo alto, como é o caso do Fundo Verde, do gestor luis Stuhlberger. O fof Inter Selection Multiestratégia tem 10% do patrimônio investido no Verde, por exemplo.
Por fim, o banco deu um ‘spoiler’ sobre um novo lançamento em breve: a plataforma Invest Shop, por onde disponibilizará diferentes produtos e serviços financeiros ao investidor e permitirá pagamento inclusive com cartão de crédito. Essa combinação de serviços é o que Bottino e Fonseca chamaram de era do “Investimento 3.0” na apresentação.