Empresas

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


Nesta quarta (24), o banco central da China anunciou a redução em meio ponto (0,5 ponto percentual) da taxa de compulsório bancário, isto é, da fatia que as instituições bancárias do país precisam manter como reservas obrigatórias. A ideia é que, a partir de 5 de fevereiro, os bancos chinesas liberem essa fatia do seu "colchão" de recursos para alavancar a liquidez do mercado.

A medida injetaria 1 trilhão de yuans (US$ 140 bilhões) no mercado como crédito de longo prazo, de acordo com o anúncio do chefe do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, durante coletiva de imprensa hoje em Pequim. Esta é a primeira redução das reservas obrigatórias este ano, depois de dois cortes de 0,25 ponto percentual no ano passado.

Mas a autoridade monetária já confirmou que há espaço para maior flexibilização da política monetária por lá. E talvez este seja o ponto de inflexão da decisão anunciada hoje: a China pode forjar um crescimento mais acelerado da sua economia ainda este ano com a inclinação das autoridades a uma política monetária expansionista?

Com mais capital saindo dos "cofres" dos bancos e sendo liberado em linhas de crédito, o custo dos empréstimos na China é barateado e a tomada de recursos fica mais acessível para empresas e pessoas físicas.

Embora a medida impacte diretamente apenas a economia chinesa, ela pode reverberar do outro lado do mundo. No caso brasileiro, o "efeito milagre chinês" pode começar pela bolsa.

O impacto da decisão anunciada pelo banco central chinês ainda é bastante indireto na nossa economia e pode levar algum tempo a ser sentido pelas empresas. Mas não na bolsa.

A questão para o mercado financeiro é que investidores vivem de expectativas. Por isso, preços das ações não flutuam apenas com resultados reais, mas também a partir de projeções. E na reação à novidade de hoje, os papéis devem sentir o efeito desse boost nos ânimos antes que o caixa das próprias empresas. É assim sempre.

Por isso, é ainda mais importante acompanhar o desenrolar da política monetária sinalizada pelo banco central chinês. O tema entra no radar de analistas para este ano e pode, conforme venha o cenário a se concretizar, ser o fator de virada em algumas projeções para as companhias ligadas à economia da China.

Essa leitura parte do cenário macroeconômico: a economia brasileira é bastante concentrada em operações exportadoras de commodities (minério de ferro, petróleo, celulose, boi gordo, soja, café e por aí vai).

E o maior comprador de commodities brasileiras atualmente é justamente a China. O fortalecimento da economia do dragão da Ásia, que vinha fraquejando nos últimos tempos, pode, portanto, puxar mercados fornecedores, caso do Brasil, consigo.

Caso essa virada se realize, a China voltaria a fazer pressão altista relevante sobre os preços de commodities, por representar o aquecimento da demanda nesses mercados.

E daí que se tem o efeito sobre as ações: perspectivas de uma possível melhora de cenário para esses setores deve significar um inclinação (ou, ao menos, a tendência de alta) nos preços desses papéis.

A questão agora é o micro: quais empresas podem surfar bem um eventual novo "efeito China" na bolsa brasileira?

Metálicas

Por aqui, a mineradora Vale seria a primeira da fila a se beneficiar de uma efetiva retomada do crescimento no setor de construção civil e das grandes obras na China.

A Vale é uma das principais fornecedora de minério de ferro para as siderúrgicas chinesas, que produzem aço para o mercado doméstico, por isso a mineradora vinha "apanhando" da desaceleração do crescimento por lá.

Além disso, com um eventual aumento do ritmo de expansão da economia chinesa puxando a compra de minério de ferro pela China, os preços da commodity podem subir.

No fim, isso significaria mais receita para a Vale sem que isso implique em mais custos - portanto, margens de lucro melhores. Ponto para a mineradora.

Na sequência, as siderúrgicas. Gerdau, CSN e Usiminas também tendem a se beneficiar de uma volta do "milagre chinês", pelo mesmo motivo que a Vale, mas de uma perspectiva ligeiramente distinta.

A começar que as siderúrgicas brasileiras voltariam a exportar aço em maior volume para a China, caso o mercado chinês de construção civil realmente se recupere com a provável injeção de capital na economia.

O segundo motivo para o setor siderúrgico daqui renovar os ânimos com uma aceleração do crescimento chinês é a menor concorrência internacional.

A China abriga algumas das maiores produtoras de aço no mundo. Quando a economia do país está "a todo vapor", o aço chinês atende à demanda do mercado doméstico. Mas, com a desaceleração, as siderúrgicas chinesas precisaram elevar os volumes destinados às exportações, acirrando a concorrência global e, assim, pressionando os preços para baixo.

Papeleiras

Suzano, Klabin e Irani podem surfar a mesma onda que as exportadoras de commodities metálicas. Neste caso, pela perspectiva de impulso da demanda pela celulose.

O preços da celulose, ainda abaixo do patamar histórico, avançaram no fim do ano passado, mas de forma lenta e reticente. A culpa por esse avanço modorrento é da desaceleração do crescimento chinês. Mas esse humor morno nas negociações da commodity poderia virar de vez com a recuperação da China.

O mercado investidor entrou em 2024 já esperando uma volta das cotações da celulose a um patamar normalizado, mas nada extraordinário. Mas, embora um cenário positivo já esteja embutido no preço dessas ações, nenhuma projeção até aqui é tão otimista que incluía o impacto de um novo impulso de liquidez na China.

Essa mudança pode significar um salto nos preços dessas commodities. É nesta margem de diferença entre um cenário "positivo mas comedido" e um "ótimo" para o setor que essas ações podem subir.

Assim, o salto que as ações de papeleiras podem dar na bolsa é provavelmente menor que o de mineradoras e siderúrgicas - mas um avanço, de toda forma.

Agronegócio

Na bolsa brasileira, o agronegócio nacional está representado principalmente pela produção pecuária, com papéis de frigoríficos como BRF, Minerva, JBS e Marfrig.

Algumas dessas exportadoras de carne podem se beneficiar de um cenário de aceleração do consumo na China, mas o cenário para o setor de proteína animal é também atravessado por outras questões, que tornam essas projeções mais incertas.

Condições sanitárias, como o embargo a algum frigorífico ou doenças infecciosas em um rebanho, são episódios pontuais - mas não tão raros - que podem interferir no desempenho dessas exportações. Assim, o caminho para esses papéis pode ser mais tortuoso.

Cabe ficar de olho, ainda, no possível beneficiamento de empresas ligadas à cadeia do agro, que podem alavancar com a melhora de perspectivas para os preços das commodities agrícolas brasileiras:

  • SLC Agrícola, produtora de soja, algodão e milho, além de criação de gado;
  • São Martinho, empresa da indústria sucroenergética que tem negociado aumento das exportações de etanol para a China;
  • Kepler Weber, de armazenagem e concentração de grãos;
  • Boa Safra, produtora de sementes de soja;
  • 3tentos, fabricante de defensivos agrícolas.

china — Foto: Getty Images
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