AAZQ11: antes de escândalo, fundo da AZ Quest rendia 164% do CDI

Bastou menos de um mês para que os ganhos acumulados no ano pelo Fiagro AZ Quest Sole virassem pó

Por Yasmim Tavares e Marcelo D´Agosto, Valor Investe — Rio e São Paulo


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“Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”. Provavelmente os investidores de fundos de investimentos já escutaram bastante essa frase por aí. Um caso recente é o do Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais) da gestora AZ Quest, o AAZQ11, que vem passando pelo seu pior pesadelo desde que foi lançado ao mercado, em dezembro de 2022.

O AZ Quest Sole, como também é conhecido, deu motivos para os seus cotistas sorrirem nos primeiros meses deste ano. Entre janeiro e maio, o fundo entregou um rendimento de 6,5%, o equivalente a 164% do CDI, que ficou em 3,95% no mesmo período.

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Em um ano difícil para a renda variável, é plausível pensar no fundo, negociado em bolsa, como uma boa opção de investimento. Afinal, até aqui, o Ibovespa, principal índice de referência do mercado acionário, cai 11%.

Mas bastou menos de um mês para que todo o resultado conquistado em cinco meses se esfarelasse igual paçoca. No início de junho, uma operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) gerou uma pressão vendedora dentro do fundo que derrubou o preço das cotas do AAZQ11 em mais de 10%.

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O AZ Quest Sole investe, basicamente, em operações de crédito privado para a cadeia do agronegócio. Conforme o relatório gerencial mais recente, a maior parte do portfólio do fundo, 64%, está exposta em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

Além dos CRAs, o AAZQ11 também tem uma parte relevante em FIDCs, representando 34% do total da carteira. Uma parcela menor está em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) do agronegócio, debêntures e até em outros Fiagros.

Cerca de 10% do patrimônio do Fiagro da AZ Quest está exposto em um fundo, o Caetê FIDC, que investe em CRAs lastreados em notas comerciais emitidas pela Stoppe LTDA.

Na operação batizada de “Greenwashing” da PF, os sócios da empresa Stoppe LTDA foram apontados como os líderes de uma organização criminosa suspeita de vender R$ 180 milhões em créditos de carbono de áreas da União invadidas no Amazonas.

A pressão vendedora no AZ Quest Sole nos últimos dias se deve, justamente, ao envolvimento da Stoppe LTDA no esquema fraudulento, uma vez que as garantias das notas comerciais emitidas pela empresa investigada nada mais são que esses créditos de carbono gerados de forma ilegal em terras griladas.

Como ficam os dividendos?

Nos meses de janeiro a maio deste ano, o AAZQ11 distribuiu R$ 0,12 por cota aos investidores do fundo, totalizando R$ 1,416 por cota em cinco meses. Ou seja, na prática, quem investiu no Fiagro no fim de dezembro de 2023, por exemplo, pagou R$ 9,11 por cota e ganhou R$ 1,416 em dividendos.

No entanto, em razão do escândalo neste mês, que derrubou o preço da cota do fundo para R$ 7,40, o investidor passou a registrar um prejuízo patrimonial (diferença entre o que pagou pela cota e o preço de mercado atual) de R$ 1,71.

No fim das contas, ao subtrair o resultado da diferença entre os preços de cota do ganho em dividendos no período, o cotista está com um prejuízo de R$ 0,294.

Vale lembrar que, após a operação da PF, a Vórtx e a Ceres Asset, administradora e gestora do Caetê FIDC, reavaliaram em 50% o patrimônio líquido do fundo. Essa decisão vai provocar um impacto de 7,82% no valor patrimonial unitário da cota do AZ Quest Sole, além de reduzir em 12,5% a distribuição de dividendos ao mês - de R$ 0,12 para R$ 0,105.

Não menos importante, o Fiagro da AZ Quest é um fundo de condomínio fechado e com prazo indeterminado de duração. Isso significa que os investidores não podem resgatar o valor investido quando bem quiserem.

Neste caso, a única forma de sair do investimento é vender as cotas para uma outra pessoa - correndo o risco de não conseguir ou, então, tendo que aceitar um desconto muito grande, o que comprometeria a rentabilidade total (preço da cota mais dividendos) entregue pelo fundo.

— Foto: Getty Images
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