Imagine que um amigo te ofereça um investimento em que você vai desembolsar R$ 50 e depois de um mês receberá R$ 250. Parece um bom negócio. Mas, para isso, você precisa trazer mais 10 investidores, que também vão investir os tais R$ 50. E, conforme essas 10 pessoas que você trouxe conseguirem atrair mais 10, você vai ganhando mais e mais dinheiro. É assim que funciona o famoso esquema de "pirâmide financeira".
- Mas por que isso não dá certo?
Imagine: você entrou para o negócio e pagou R$ 50 por isso. Dentro de um mês, você atraiu mais 10 pessoas, que também pagaram R$ 50, totalizando R$ 500.
Desse montante, você recebe R$ 250, como o prometido. Os R$ 250 restantes serão divididos entre as pessoas que estão “acima” de você.
Por exemplo: R$ 150 vão para quem te indicou e R$ 100 vão para a pessoa que está acima dela. Assim, quanto mais pessoas estiverem abaixo de você, maior será esse bolo para ser fatiado.
O sistema, porém, é insustentável já que chegará um momento em que as pessoas “da base” não conseguirão trazer novos investidores.
É só imaginar que se as primeiras 10 pessoas de um negócio trouxerem mais 10 por mês, e assim sucessivamente, em menos de um ano a pirâmide atingiria 10 bilhões de pessoas, o que já é maior do que a população mundial.
- É pirâmide ou é marketing multinível?
O marketing multinível é uma modalidade de negócio permitida no Brasil.
Nela, uma empresa angaria colaboradores para vender um produto ou serviço. Esses profissionais recebem uma “comissão” tanto pelas suas vendas quanto pelas dos novos colaboradores.
“Em um sistema de marketing multinível, o retorno é mais demorado e os valores não são altíssimos como promete uma pirâmide”, afirma Renato Santa Rita, advogado e representante da entidade de defesa do consumidor Proteste.
Uma outra grande diferença é que no marketing multinível há um produto em si sendo comercializado. Enquanto que na pirâmide, na maior parte das vezes, só existe a promessa de algo.
Existem, porém, esquemas de pirâmide “disfarçados” de marketing multinível. Então, é preciso ficar atento.
Segundo Santa Rita, uma forma de identificar se é uma estrutura real de marketing multinível ou se é uma pirâmide é observar as características daquele negócio.
“Se os produtos ou serviços que você precisa comprar para depois vender têm um valor muito alto, anormal para aquele tipo de item, é um alerta. Outra coisa importante de se observar é a promessa de retorno. Se for alta e muito rápida, é provável que seja uma pirâmide”, afirma.
Portanto, se alguém te oferece um investimento “imperdível”, que te dá um retorno fixo de 100% do que você investiu em um prazo curto, desconfie! Investimentos, por melhores que sejam, ainda não estão proporcionando milagres.
- Como evitar uma pirâmide financeira?
Um retorno financeiro garantido, muito alto e em um tempo muito curto é o primeiro alerta para se evitar cair no conto do vigário (ops, da pirâmide).
Mas além disso, você pode observar outros fatores. Segundo Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, se aquela empresa te oferece um produto para você vender, é preciso ficar atento ao tipo de produto e se é possível ter os retornos que eles prometem só com as vendas.
“A pirâmide até pode ter um produto, mas ele costuma ter pouca utilidade, saturação rápida ou só precisar ser comprado uma vez. Nesses casos, é mais difícil você conseguir um retorno alto só com vendas. Então, observe se você consegue ganhar o que eles prometem só vendendo aquele item. Caso contrário, se precisar trazer alguém, fique alerta”, afirma.
Santa Rita, da Proteste, lembra também que é importante que as pessoas procurem informações sobre aquela empresa. “Buscar notícias na internet, checar o endereço dela, o CNPJ e até quem são os sócios pode te ajudar a não cair em um esquema desses”, diz.
- Caí em uma pirâmide. E agora?
Ao ler esse texto você percebeu que caiu em uma pirâmide? Fique calmo, sem pânico! Santa Rita, da Proteste, sugere que você reúna o máximo de provas que conseguir de que foi enganado e vá até uma delegacia do consumidor.
Delegacia do consumidor??? Sim!
O advogado explica que mesmo que você tenha entrado em uma pirâmide para vender algo, quem vai te atender é a delegacia do consumidor. “A empresa vai argumentar que você era ‘associado’ a ela. Mas como foi uma associação mediante à fraude, as delegacias que servem o consumidor te atendem por equiparação”, diz.
E que provas você pode ter? E-mails, gravações, testemunhas. Tudo vale, segundo Santa Rita. Depois de registrar um boletim de ocorrência na delegacia, você deve procurar um advogado para abrir um processo e tentar conseguir o ressarcimento do seu prejuízo.
Um processo desse tipo, no entanto, não é fácil. Viriato, do Insper, afirma que existem casos em que os sócios que criaram a pirâmide sumiram e os investidores arcaram com o prejuízo.
A dica, então, é pesquisar muito e desconfiar sempre. Já diria a minha avó, “seguro morreu de velho”. Melhor assim.
Como detectar uma pirâmide financeira
Indícios |
Discurso envolvente com exemplos de participantes bem-sucedido |
Promessa de retornos financeiros muito altos |
Promessa de ganhos em curtíssimo prazo |
Inexistência de um produto para venda ou itens com preços muito maiores que o padrão |
Necessidade de trazer outras pessoas para o sistema para garantir os ganhos |