Colunas de Sonia Consiglio

Por Sonia Consiglio

SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e especialista em Sustentabilidade

São Paulo


Sempre que me pedem uma definição de sustentabilidade/ESG, digo: “Trata-se de uma mudança de modelo de mundo”. Um mundo que precisa incluir fatores ambientais, sociais e de governança no seu tradicional funcionamento predominantemente econômico-financeiro pela sua própria sobrevivência.

Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista ambiental, disse o mesmo com outras palavras em uma live, em 2020: “O mundo caminha para a ‘revolução da sustentabilidade’, uma mudança na magnitude da revolução industrial, mas na velocidade da revolução digital”. É isso. A revolução industrial significou a transição para novos processos de fabricação na Grã-Bretanha, na segunda metade do século XVIII, influenciando o mundo todo. A inserção de fatores ESG na gestão dos negócios, consumo, regras comerciais, legislações etc. representa, a meu ver, um movimento tão profundo quanto.

Alguns fatos me levam a pensar assim, e eles são cada vez mais frequentes e acelerados. Cito, por exemplo, a criação de um mercado de carbono regulado no Brasil (em andamento); as novas regras da União Europeia, como o CBAM, que vai sobretaxar produtos importados pelo bloco de acordo com a intensidade de carbono na produção; a pressão de investidores e acionistas pela adoção dessa agenda pelas empresas investidas e controladas; e por aí vai.

Já que estamos falando de uma mudança de modelo de mundo, que atores têm mais poder de influência para que ela aconteça? Justamente aqueles que são reconhecidos e respeitados pelos representantes do padrão atual. É por isso que recorro a essas fontes em minhas palestras e aulas. E o Fórum Econômico Mundial puxa a fila. Dada sua envergadura e seriedade, a instituição desempenha um papel fundamental na pavimentação desse caminho, e vem fazendo isso com muita profundidade. Aliás... refletindo aqui... seu nome tem que mudar, né? O Fórum não é só mais “Econômico” há tempos (ainda bem)!

Considerando esse contexto, foi que recebi com grande entusiasmo o lançamento do relatório “O Futuro do Crescimento”, durante o encontro de Davos deste ano. Poderia ser mais um material sobre a evolução do PIB, indicadores financeiros, projeções econômicas e que tais. Mas não. O documento propõe nada menos do que uma mudança de paradigma na avaliação do crescimento econômico, com uma abordagem multidimensional para complementar e qualificar as medidas tradicionais, com base em quatro pilares:

Inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência

Na introdução, os autores explicam: “A questão não é se o mundo ainda precisa crescimento de econômico, mas até que ponto a natureza subjacente do necessário crescimento é sinérgica com outras prioridades importantes. Este relatório apresenta um novo quadro quantitativo para ajudar a complementar métricas tradicionais e desenvolver uma visão mais holística da qualidade do crescimento”. Esse “até que ponto” norteia o arcabouço conceitual de cada pilar, que traz perguntas sobre as quais precisamos nos debruçar:

  • Inovação: Até que ponto a trajetória de uma economia pode absorver e evoluir em resposta a desenvolvimentos tecnológico, social, institucional e organizacional para melhorar a qualidade do crescimento a longo prazo?
  • Inclusão: Até que ponto a trajetória de uma economia inclui todas as partes interessadas nos benefícios e oportunidades que cria?
  • Sustentabilidade: Até que ponto a trajetória de uma economia pode manter a sua pegada ecológica dentro dos limites ambientais finitos?
  • Resiliência: Até que ponto a trajetória de uma economia pode resistir e se recuperar dos choques?

Uma leitura casada com o Relatório de Riscos Globais 2024, também do Fórum Econômico Mundial, mostra, inequivocamente, que os mapas que nos trouxeram até aqui não serão capazes de nos indicar o caminho no futuro. Na lista dos dez principais riscos para os negócios nos próximos dez anos, por exemplo, não há nenhum da categoria “Econômicos”. Os quatro primeiros são de ordem ambiental, seguidos de dois tecnológicos.

Top 10 de Riscos Globais — Foto: Reprodução/ Relatório de Riscos Globais 2024
Top 10 de Riscos Globais — Foto: Reprodução/ Relatório de Riscos Globais 2024

É disso que se trata. De um mundo que sofre com os impactos extremos das mudanças climáticas, que vê todas as suas crenças serem questionadas por inteligências artificiais, que luta contra a desinformação, que se vê imerso em polarizações e crises humanitárias. É possível lidar com essa realidade seguindo as mesmas premissas de sempre? Certamente, não. Por isso, “O Futuro do Crescimento” merece uma leitura calma, com lentes límpidas e escuta ativa.

Um capítulo interessante do documento traz análises de 107 países nos quatro pilares, pretendendo ser um guia que ajude os tomadores de decisão a determinar que “trade-offs estão dispostos a fazer e quais sinergias são mais relevantes para explorar em seu contexto particular”. O Brasil obteve as seguintes notas: 41,8 em Inovação (Global: 45,2); 55,3 em Inclusão (Global: 55,9), 56 em Sustentabilidade (Global: 46,8) e 52 em Resiliência (Global: 52,8).

Se o Fórum só tivesse lançado o relatório, já seria um grande serviço. Mas a ideia é ir além. “O Futuro do Crescimento” servirá de base para uma iniciativa de mesmo nome, com duração de dois anos, que irá promover o diálogo entre formuladores de políticas, líderes empresariais e acadêmicos sobre como podemos traçar novos caminhos de crescimento econômico. É um ‘call to action’ para que “os líderes reavaliem criticamente e recalibrem as suas políticas para uma nova era econômica”. Que venha essa nova era econômica, essa mudança de modelo de mundo!

Sonia Consiglio é SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e especialista em Sustentabilidade.

Sonia Consiglio — Foto: Arte/Valor
Sonia Consiglio — Foto: Arte/Valor
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