Igualdade de gênero acima de tudo? Nem sempre.

Em dezembro de 2023, escrevi um artigo denominado “To do list ESG 2024”. Meu objetivo era relacionar as tendências deste ano na opinião de pessoas que estivessem no primeiro nível de liderança de organizações importantes para a agenda ESG. A partir delas, relacionei os nomes. A maioria era composta por homens, mas havia mulheres também. Quando fiz os convites, todos eles aceitaram, algumas declinaram. Eu compreendo, estávamos em plena COP28, com muitos compromissos ao mesmo tempo. Mas a consequência desse fato é que a lista final ficou com nove homens e uma mulher.

Claro que notei esse desbalanceamento. Mas a pauta eram as organizações, essa foi minha escolha de recorte, e não o gênero. E o resultado estava relevante, com líderes de grande influência dando mensagens robustas sobre 2024.

Ao divulgar nas redes sociais, recebi algumas reações sobre a falta de representação feminina. Não foram muitas, mas, mesmo que fosse uma só, mereceria atenção. Respondi a todas, explicando que originalmente havia mais mulheres que não puderam participar. E destaquei que avaliava como bem interessante o conjunto final. Menciono as reações para compartilhar as reflexões que elas me provocaram. E agradeço a cada uma dessas pessoas por isso e por lerem meu texto e devotarem parte do seu tempo a dar sua opinião.

Minha primeira reflexão/pergunta é: temos que, sempre, buscar a igualdade de gênero em nossas iniciativas? Eu diria que sim, sempre que possível e adequado. Neste caso, meu foco era trazer a visão dos/as líderes das organizações escolhidas. Serem homens ou mulheres seria uma consequência desse critério.

A segunda reflexão-constatação é de que a principal liderança das organizações ainda é majoritariamente formada por homens. Deixarei de consultá-los ou vou trocá-los, por exemplo, por uma mulher que reporte a eles? Não. Ao fazer isso, eu fugiria do objetivo que tracei e que, acredito, tem seu valor. No fim, a lista ser predominantemente masculina explicita uma realidade forte, o que deve nos motivar a continuar trabalhando para mudá-la.

A terceira reflexão-alerta é o cuidado que temos que tomar frente às iniciativas, para entendê-las na sua essência. Ao não fazer isso e/ou aplicar primeiro a nossa lente, corremos o risco de não absorver o que está sendo apresentado. Me pergunto: ao se questionar a falta de igualdade de gênero, foi possível capturar a profundidade das mensagens passadas? Espero que sim. E, vejam, isso não é uma crítica a quem se manifestou, é apenas um convite a um pensamento de fundo.

A quarta reflexão é que existem vários tipos de atuação e contribuição (que bom!). Uma outra articulista ativista nas questões de gênero talvez alterasse a pauta, gerasse duas listas (masculina e feminina) com igual número de entrevistados ou outra opção. Acho tudo isso válido, mas não é o meu perfil. Meu ativismo pela sustentabilidade sempre se deu por dados, fatos e números, certamente porque sou jornalista. Isso não quer dizer que minha abordagem seja melhor, longe disso. É apenas a minha. E, junto com a de tantos colegas, vamos desenhando um mosaico de diferentes perspectivas que traz, enfim, a tão preciosa diversidade.

A quinta e última reflexão deixarei para sua análise. No dia seguinte à publicação do artigo “To do List ESG 2024”, fiz um post em agradecimento aos entrevistados/as de 2023 do meu programa mensal no Instagram, o “Vozes que queremos Ouvir”. Eram também dez pessoas, seis mulheres e quatro homens. Não recebi nenhum comentário ou mensagem valorizando a maioria feminina nesse grupo. Sigamos!

Sonia Consiglio é SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e especialista em Sustentabilidade.