O fraquíssimo desempenho atual da economia brasileira se deve principalmente a fatores internos, como as incertezas em relação ao andamento da reforma da Previdência e a crônica falta de demanda. Nas últimas semanas, contudo, o cenário externo também piorou, especialmente depois do retorno inesperado das tensões comerciais entre EUA e China.
Além de um crescimento mundial mais fraco, a disputa aumenta a aversão global ao risco, o que é negativo para países emergentes como o Brasil. A procura por títulos da dívida e moedas dessas economias diminui, num ambiente em que os investidores tendem a buscar opções mais seguras, como papéis do Tesouro americano. Além disso, as exportações tendem a sofrer um pouco mais, pela redução da demanda externa, num quadro de expansão mais fraca da economia global.
O cenário externo, desse modo, também passa a atrapalhar a economia brasileira, que se encaminha para crescer em torno de apenas 1% neste ano, um ritmo próximo ao 1,1% de 2017 e também de 2018. Até o mês passado, havia a expectativa de que o ambiente internacional seria, se não favorável, ao menos neutro para emergentes. A aposta era numa desaceleração global moderada e na manutenção de condições financeiras internacionais favoráveis – ou seja, continuaria a haver um amplo volume de recursos nos mercados financeiros.
No começo de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou as suas novas projeções, reduzindo a estimativa para o crescimento mundial em 2019 de 3,5% para 3,3%. O número é inferior aos 3,6% do ano passado, mas o Fundo apostava no fortalecimento da economia global na segunda metade de 2019, movimento que tenderia a continuar em 2020.
Não seria o melhor dos mundos, mas o quadro era bastante razoável para um país como Brasil. Embora a crise na Argentina prejudique desde 2018 as exportações brasileiras de produtos manufaturados, o ambiente internacional que se vislumbrava para o país não era ruim.
Neste mês, porém, o cenário externo se tornou mais adverso. A grande mudan��a foi o recrudescimento das tensões comerciais entre os EUA e a China. O presidente Donald Trump elevou as tarifas de importação sobre produtos chineses, e o governo do país asiático contra-atacou, aumentando as alíquotas sobre as compras de bens americanos.
Em post no blog da instituição, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, e mais dois economistas do Fundo advertiram para os riscos da nova escalada de disputa comercial entre EUA e China.
Mais guerra, menos PIB
“No plano internacional, o impacto adicional das novas tarifas anunciadas recentemente e contempladas por Estados Unidos e China, que devem se estender a todo o comércio entre os dois países, vai subtrair cerca de um 0,33 ponto percentual do PIB mundial no curto prazo, e metade dessa queda decorrerá dos efeitos sobre a confiança das empresas e dos mercados”, dizem eles.