Colunas de José Brazuna

Por José Brazuna

Sócio da Br Governance e da Investment as a Service (IAAS), consultorias de governança e de serviços para a indústria de fundos

São Paulo


Final de ano é sinônimo do especial do Roberto Carlos, trânsito nas estradas em direção à praia, metrópoles esvaziadas e dezenas de reportagens sobre o "balanço de seus investimentos" e "dicas para o portfólio ideal no ano seguinte".

Primeiramente, é importante salientar que rankings são retroativos. Outro ponto interessante é a relação peculiar que as pessoas têm com o ano calendário. Parece que, do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro, é necessário alterar completamente o "mindset" e mudar a estratégia, senão você fica para trás. Acho isso muito curioso.

Esta coluna não tem a intenção de fornecer dicas sobre como ganhar dinheiro ou qual é a melhor alternativa de investimento e o portfólio ideal. Então, por que não encerrar aqui?

Posso oferecer alguma orientação sobre as melhores dicas para este ano? Bem, deixe-me tentar contribuir com o que é mais a minha especialidade.

Falar sobre a agenda estratégica da CVM, perspectivas regulatórias e tendências de mercado e negócios que acredito que vão impactar a forma como se faz investimento, e que são transformadoras.

Primeiramente, sobre a CVM. Os destaques da pauta para 2024, sem dúvida, são a continuidade nos ajustes e transformações na indústria de fundos, com a adaptação de todo o mercado para a tão falada "Resolução CVM 175". Este é um grande desafio para todos, e ainda há pontos de atrito. Os maiores efeitos deste normativo serão sentidos mais ao final de 2024. Mantenha-se informado. Mas isso não mudará muito sua vida imediatamente.

Outro tema relevante são as questões tributárias que impactarão os portfólios dos "ricos", já que mudam significativamente o private banking na formatação de fundos exclusivos que traziam otimizações tributárias. O come-cotas em determinados produtos torna a estrutura de fundos exclusivos muito mais restrita e exigirá criatividade. Portanto, o lado positivo é que o foco deve ser mais na gestão, na alocação, do que na busca de eficiência tributária puramente.

Retornando à CVM, destaco que o regulador propôs, em sua "Agenda Regulatória 2024" (disponível em seu site), editar normas sobre portabilidade de valores mobiliários e uma regulação definitiva de Fiagro. Ambos os temas foram discutidos em 2023, e há consenso para avançar.

Também em 2024, a CVM pretende trazer à público audiências públicas ou estudos de impacto regulatório sobre: ampliação de produtos para varejo, revisão do conceito de investidor qualificado, influenciadores digitais, a modernização da regulação de FIPs (fundos de private equity) e regras de suitability.

Então, do lado regulado, sou um eterno otimista: continuamos a construir alternativas inovadoras de investimento, e processos de controle que avançam em paralelo, melhorando a qualidade.

O pessimista pode pensar: poxa, mas a CVM adiou a implantação das regras de transparência de taxas (RCVM 179) que ficaram para o final de 2024, e que iriam, já no início do ano, trazer mais informações sobre as remunerações das áreas de distribuição de corretoras, bancos e assessores de investimento na venda de valores mobiliários?

É verdade, teria sido ótimo ter isso já, mas quem atua no mercado sabe o quanto tem sido “insana" a agenda de ajustes internos para atender novas normas. E, sobre o tema, acredito que o adiamento foi bom para se discutir a ampliação para produtos bancários, seguros, capitalização (fora da alçada da CVM), para que a informação ao investidor seja mais completa. Vamos esperar e ver o que sai.

Agora, falando de investimentos. Não, não vou sugerir qual é o melhor portfólio de 2024. Se soubesse, montava para mim e não compartilhava com ninguém. Sugiro mais uma discussão sobre transformações de mercado que estão te atingindo, e você não percebe.

Vou falar sobre classes de ativos e como elas vêm se transformando.

Vamos pegar alguns dados apenas: a popularização do mercado de fundos. Sabia que em 2018 havia 15 milhões de contas de fundos de investimento, e hoje são 36 milhões? Em 2006, eram apenas 10 milhões. Bom ver que o mercado mudou de patamar.

Ao mesmo tempo, no ano, o setor continua perdendo dezenas de bilhões em resgates. Se falamos dos fundos multimercados e de ações, aí falamos de resgates na casa de centenas de bilhões nos últimos dois anos.

Mas, será que olhar isso não é focar muito na foto e não no filme? Acho que sim. Não acho que é apenas um ano ruim e que depois tudo melhora para esses tão famosos fundos multimercado e de ações.

Eu acho que a transformação é maior do que mera performance recente.

Vivemos uma profunda mudança na originação de produtos no mercado de capitais, fruto de uma legislação moderna (e que pela agenda 2024 da CVM continuará evoluindo), das plataformas de distribuição, do fenômeno dos negócios independentes de assessoria, estruturação, consultoria de valores mobiliários, gestores "MFO" (multi-family-offices, especializados em alocação), e securitizadoras, por exemplo. E da mudança do comportamento do investidor.

No campo da inovação, muita gente tentando de tudo com tecnologia, em temas como tokenização, smart-contracts, crowdfunding (financiamento coletivo) e todo tipo de automatização de processos e produtos de investimento e crédito.

Também vale nota o surgimento de novos gestores de nicho: ETFs, fundos imobiliários, Private Equity, Venture Capital, fundos de crédito estruturado e Fiagro.

Finalmente, o mercado também se abriu para o exterior, e estamos vendo uma enorme corrida de instituições acoplando em suas contas correntes uma conta no exterior focada em investimentos. E poucas fizeram isso, veremos muito mais.

Tudo isso disputa a "pizza" de alocação do cliente como não acontecia no passado.

Se voltarmos no tempo, há uns 15 anos, uma carteira típica continha fundos ou produtos de renda fixa, variando de pós-fixados a um pouco de pré-fixados, e a variável de risco de crédito eram os CDBs de bancos. Raramente fundos de renda fixa atuavam intensamente em crédito corporativo. Compondo o fator de risco, como a "pimenta" dos portfólios, vinham fundos ou carteiras de ações (tendendo ao Ibovespa) e os multimercados. Eles eram muitas vezes os protagonistas do retorno adicional dos portfólios.

Então, em minha humilde opinião, os multimercados e fundos de ações estão vivendo uma "fase ruim" pela performance, mas, não é só isso. O que tem por trás é uma perda mesmo de protagonismo no longo prazo. Mesmo se renderem muito neste ano.

O enorme supermercado de produtos financeiros hoje muda o direcionamento. Um alocador eficiente é mais importante do que apenas achar que se põe uma "pimenta" no portfólio colocando o gestor "A" ou "B" que se destaca por suas projeções, de tempos em tempos, sobre os destinos dos mercados e do mundo.

Vale nota que acho eles todos muito inteligentes, mas, confesso que cada vez menos leio seus relatórios. E por quê? Porque no "big picture", seus movimentos são bem menos importantes para os rumos do mercado do que podem já ter sido.

Dando um exemplo numérico, uma conta em grande escala. O total do setor de fundos hoje é de aproximadamente R$ 8 trilhões. Quando olhamos nos dados da Anbima, os recursos no segmento private e varejo que não estão em fundos, já somam cerca de dois terços das posições, isso totaliza mais uns R$ 4 trilhões em investimentos.

Não tenho os dados do público corporate, fundos de pensão e demais públicos institucionais (seguradoras, estatais, capitalização etc.). Mas, em um bom chute, certamente estamos falando que há uma indústria de investimentos que ao somar todos os públicos, totaliza ao menos uns R$ 20 trilhões (sem colocar ainda investidores estrangeiros, por exemplo).

Não sou economista, e me dou todo o direito de errar esse número total.

O setor de multimercado hoje representa R$ 1,6 trilhão, e fundos de ações R$ 500 bilhões (dados Anbima). Considere que dentro desse número tem uma enormidade de fundos exclusivos ou fundos passivos, que não são os típicos produtos de gestores independentes. Eu estimaria que isso ocupa quase 50% deste total. Então, não seria grande erro achar que os fundos multimercado de grandes gestores conhecidos, e fundos de ações, totalizam, no máximo, R$ 1 trilhão.

Se estamos falando que a "pizza" de investimento de brasileiros (corporate, pessoa física, institucional etc.), está mais para uns R$ 20 trilhões... esses grandes gestores que parecem "ditar" os rumos do mercado, gerenciam apenas 5% desses recursos.

Precisa de prova maior que a competição pelo bolso do investidor é ferrenha, e que a diversidade de produtos hoje é incomparável?

Então, o desafio de longo prazo é olhar menos os grandes pensadores falando sobre seus portfólios, e o que vão fazer em 2024, e encontrar a melhor alocação dinâmica da sua carteira.

As "pimentas" na sua carteira não podem ser apenas multimercados e ações, mas podem também ser estruturas de investimento imobiliário mais sofisticadas, investimento no exterior, ETFs temáticos, fundos de crédito estruturado, economia digital (cripto, tokens), investimentos na economia real (venture capital, private equity e crowdfunding) e agro. São coisas que antes eram restritas a poucos, mas rapidamente se popularizam.

Essas escolhas implicam em ter de fazer mais diligências de gestores, estruturadores, distribuidores e produtos, e aceitar uma parte um pouco menos líquida na sua carteira.

Então, se alguém acha que o destino de um portfólio que "vai bem" em 2024 depende da melhora de fundos multimercado, (se vão performar e captar), minha resposta é: isso pouco importa para você. Você vai ter de ser menos dependente deles. A indústria de fundos ainda vai crescer imensamente, vamos ter milhares de novos gestores de recursos nas próximas décadas, mas, o nome do jogo está mudando. Você vai precisar mais de um alocador, do que acertar qual será o melhor gestor de 2024.

O e-mail do José Brazuna é: jbrazuna@iaasbr.com

José Brazuna — Foto: Arte sobre foto Divulgação
José Brazuna — Foto: Arte sobre foto Divulgação
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